Blog do Prisco
Entrevistas

“Se nós não mexermos na previdência dos servidores, vai quebrar”

ENTREVISTA: GOVERNADOR RAIMUNDO COLOMBO (Parte 1)

Na estreia do blog do Prisco, o novo espaço da política em Santa Catarina, o governador João Raimundo Colombo concedeu entrevista exclusiva, abordando vários temas. Dos administrativos aos políticos. O pessedista deixou claro que está disposto a enfrentar as resistências, seja no funcionalismo, seja na Assembleia, aos projetos de reforma administrativa que estão sendo concluídos e serão encaminhados ao Parlamento catarinense. Colombo alerta que, se a previdência dos servidores públicos não sofrer uma reestruturação, o sistema vai quebrar. O governador admite que a carga tributária é muito pesada e que os serviços não têm qualidade, defendendo com veemência a necessidade de uma reforma política. “Senão, vai piorar.” O líder lageano também revela que as mudanças que pretende implementar no governo serão fatiadas, admite que pode ser candidato ao Senado em 2018, ameniza a pressão que sofre por parte do PMDB, mas considera “ruim” o fato de o processo sucessório já ter sido deflagrado justamente por seu vice-governador, Eduardo Pinho Moreira (PMDB). Ele também se mostra muito preocupado com o nebuloso cenário nacional. E avisa ao colegiado e aos aliados que os cortes nos gastos serão ampliados. O próprio governador está analisando, um a um, os 11,2 mil contratos que o Estado possui. Muitos serão revistos e até encerrados. Estes e muitos outros temas foram abordados durante a conversa. A publicação do material será dividida em três partes. Parte 1 hoje, parte 2 nesta quinta-feira e a terceira e última parte na sexta-feira.

entgovernador

Blog do Prisco – O Senhor vem batendo na tecla de que as autoridades precisam dar uma resposta às demandas da sociedade. Como introduzir esta questão na ordem prática em SC, no seu governo ?

Raimundo Colombo Nós temos que continuar e reforçar o nosso trabalho. A verdade é que a carga tributária brasileira é muito grande. A população sabe que é assim, e é muito bom que seja assim.  A carga tributária é muito grande e não há a qualidade no retorno dos serviços.

A Constituição Federal de 1988 criou uma nova estrutura pública e esse gigante, pra se alimentar, consumiu muito da sociedade. Em burocracia e consumo de recursos que não são atividades fim, Há muitos órgãos de controle e fiscalização. O que precisamos fazer é reforçar nossa presença na Saúde. Há aí uma necessidade: aperfeiçoar a gestão, a falta de recursos é  muito significativa na Saúde, Educação, Segurança Pública, onde estávamos investindo em mais tecnologia, mais efetivo. E mais recentemente, um outro problema que surgiu que é a questão da mobilidade. Então, tem que, com os recursos que a gente tem, fazer economia e estar mais presente na vida das pessoas.

Blog do Prisco – E o senhor tem conseguido canalizar mais recursos para estas três áreas prioritárias?

Colombo – Sim. Nós temos um programa de investimentos que é o maior da história de Santa Catarina. São R$ 10 bilhões. Esses recursos, eles estão indo para a rua, estão se transformando em investimentos importantes. Essa semana, começamos a duplicação da Rodovia Antônio Heil, entre Brusque e Itajaí. Semana que vem, em Itajaí, a gente vai dar a ordem de serviço para um investimento muito grande, em Navegantes e Itajaí, para que o porto possa receber navios de maior calado, que hoje estão dominando o mercado. Estamos fazendo um reforço  muito grande em energia elétrica, melhorando o sistema, inclusive para fazer atividade anti-crise, fazer com que investimentos que a gente tenha, na ordem de 10 bilhões, a gente acelere. E com isso a gente não diminua a atividade econômica e não diminua o nível de emprego que nós alcançamos, que é um número extraordinário.

Blog do Prisco – Diante da crise nacional, Santa Catarina tem números positivo, em vários setores. A que o senhor atribui esse momento?

Colombo – Ao nosso modelo. Você veja, o setor do agronegócio hoje é um setor que está em expansão por causa da questão de exportação. Nós temos uma presença muito grande, abrimos mercados. O setor têxtil, que estava em crise por causa do produto chinês, o que aconteceu com a mudança do dólar e da política interna da china, nós tivemos um crescimento bom em 2014. Em  2015, o primeiro mês foi ótimo. Fevereiro foi um mês bom. Como foi o setor cerâmico, as mesmas condições, o setor se revigorou. Claro que o setor metal-mecânico está pagando o preço da atividade menor nessa área.

É diferente isso no Rio de Janeiro, onde o petróleo é muito farto e o petróleo baixou o preço com essa crise toda da Petrobras. A situação de Minas, onde baixou o preço das commoditties. As atividades de minério caíram, e os preços também. Nós tivemos uma safra cheia e tivemos uma atividade turística forte, o que ajuda a amenizar um pouco. São circunstâncias conjunturais da economia catarinense que nos ajudam a enfrentar a crise.

Blog do Prisco – De qualquer forma, 2015 a projeção é para um ano difícil do ponto de vista econômico. Que medidas o setor já adotou e pretende adotar para contornar essa situação?

Colombo – Vou te dar um exemplo. O consumo de energia elétrica na indústria, com relação a janeiro, teve queda de 7%. Mesmo com todo esse movimento turístico que teve aqui. No residencial, subiu um pouquinho, mas na indústria, que é o motor, ela está desativando, está perdendo energia. Isso vai refletir na receita do setor público, das prefeituras, do governo federal e do governo do Estado. Vai refletir na atividade econômica. Vai prejudicar as conquistas sociais se nós não reagirmos. Não cabe a nós do governo nos prostrarmos diante da crise. Então, o que nós estamos fazendo. Uma série de contratos internacionais com o BID, por exemplo, nós estamos acelerando, botando mais dinheiro à ação e tentando animar alguns setores, para que o catarinense sofra menos com essa crise. Porque se você olhar o aumento do dólar, a questão do ajuste fiscal, o aumento da taxa de juros, tudo isso são elementos que pressionam a atividade econômica.

Blog do Prisco – O ano é recessivo no plano nacional. Santa Catarina sempre teve desempenho na receita. Neste mês de fevereiro, o aumento deve ter ficado em 5%, ou seja, abaixo da inflação. Isso significa R$ 100 milhões a menos de receita. É um número que preocupa e até que ponto isso torna mais necessária sua determinação de fazer ajustes, cortes?

Colombo – Não tem outra saída. Estamos fazendo um esforço muito grande, contendo através do fluxo de caixa. Estamos analisando contrato por contrato. Estou cuidando pessoalmente disso. Nós melhoramos bastante e precisamos melhorar muito.

Blog do Prisco – Está tendo cobrança do colegiado em cima disso?

Colombo – Está tendo é um certo descontentamento. Normalmente, o que você fazia? Fazia um decreto cortando 20% e cada um (gestor) faz o que quer. Nós não estamos fazendo assim. Porque isso não funciona. Estamos pegando área por área, contrato por contrato. Sabe quantos contratos nós temos em vigor? Onze mil e duzentos contratos. Estamos avaliando um por um.

Blog do Prisco – O que dá pra enxugar, tem estimativa?

Colombo – Estamos trabalhando com 15%, mas não é linear. Tem coisas que você elimina e outras corta menos.

Blog do Prisco – Isso representaria uma economia de quanto?

Colombo – Nosso custeio no ano passado foi algo em torno de R$ 4,5 bilhões. Estamos trabalhando com algo em torno de R$ 60 milhões (de economia) por mês. É claro que a gente tem uma série de outras ações financeiras. Estamos prontos pra trabalhar com uma receita bem menor do que nos outros anos e manter a normalidade dos nossos serviços.

 

Blog do Prisco – Esses 5% de crescimento de fevereiro (na arrecadação estadual) representam uma perda de receita de quase 100 milhões.

Colombo – O governo do Estado, mantida a situação atual, o que for abaixo de 10% (no incremento da receita) exige um esforço da nossa parte. Nós temos um déficit de previdência.  A previdência do governo do Estado consome R$ 250 milhões por mês. Se você olhar os números, nós temos que mexer onde for possível mexer. Já estamos fazendo isso há dois, três anos. Se você olhar o que aconteceu com o Rio Grande do Sul. O RS sacou R$ 5 bilhões de depósitos judiciais, em que ele (o Estado) não é parte. É dinheiro de terceiros, que vai ter que repor. É emissão de moeda. E sacou mais R$ 2 bilhões da fundação de energia elétrica (como se fosse a nossa Celos) para honrar seus compromissos. Isso no ano passado. Se você olhar para o Paraná, está vivendo a mesma situação. Nós não sacamos e não vamos sacar dinheiro de ninguém. Nós vamos cumprir nossos compromissos. Agora, isso vai exigir um esforço muito grande e pra isso a gente está trabalhando e conscientizando todos os companheiros.

Blog do Prisco – O governador já falou em alguns cortes, como licença-prêmio. Isso não pode gerar uma reação do funcionalismo e acontecer aqui o que está acontecendo no Paraná?

Colombo – Isso pode acontecer. Na verdade, ninguém quer perder. Não sei se a palavra é direito ou privilégio. Mas a verdade é que isso foi concedido. Agora, o nosso princípio é bem equilibrado. Nós não queremos tirar licença-prêmio de quem já tem. É daqui pra frente. E veja bem, essa é uma atitude que não vai beneficiar o meu governo, porque a licença prêmio é de cinco em cinco anos e o meu governo termina antes de cinco anos. A questão da previdência não terá nenhum efeito nos próximos quatro anos. Terá mais à frente.

Eu estou fazendo esse encaminhamento. Tem que achar a hora certa pra que essa discussão seja feita não sob pressão, e desapaixonadamente. A verdade é o seguinte, se nós não mexermos na previdência dos funcionários que estão aposentados no governo do Estado, de todos os governos do Brasil, do governo federal, vai quebrar. Eu me lembro que quando era prefeito de Lages, eu reuni todos os funcionários e fiz uma apresentação muito clara, dizendo: olha, a situação é essa. Se vocês concordarem, a cada um que aumentar dos servidores, nós aumentamos dois (Reais de contribuição). O prazo, vocês decidem. Vocês não vão acreditar, mas todos concordaram e o instituto do município hoje é um instituto equilibrado.

Eu não vou impor aos servidores públicos. Vou dizer: olha, ou faz isso ou vai quebrar.