Blog do Prisco
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Um pacote de danos

 

Antídio Lunelli, deputado estadual

Propagandeado com alarde há mais de um mês, o pacote fiscal anunciado nesta semana pelo governo federal decepcionou os analistas econômicos e causou preocupação ao mercado. Para quem conhece as estratégias já repetidas do PT, nada disso surpreendeu.
Sem coragem para fazer o que é preciso para garantir um futuro mais sustentável ao país – e pensando sempre na próxima eleição- , não era de se esperar que Lula daria aval a um corte de gastos expressivo para reequilibrar as contas públicas, ainda mais depois do desempenho catastrófico de seu partido nas eleições municipais deste ano.

O pacote apresentado deve cortar despesas entre R$ 40 bilhões a R$ 50 bilhões em dois anos, embora o governo projete uma economia de R$ 71 bilhões até o fim de 2026. Mas o governo ainda incluiu um artifício populista no mesmo anúncio: a proposta de isentar de Imposto de Renda os contribuintes cuja renda se limite a R$ 5 mil mensais.
Ou seja, o pacote de corte de gastos cortou receitas. Quem me acompanha sabe que há anos venho criticando a cobrança de imposto de renda dos trabalhadores que recebem esse valor. A questão não é essa. A questão é que o governo federal precisava fazer um corte de despesas muito maior, mas foi incapaz de fazer o dever de casa – e ainda aproveitou para fazer “média” com parcela do eleitorado.

Com todas essas acrobacias, o governo saiu do anúncio ainda mais desacreditado. Afinal, um pacote de corte de despesas cuja principal medida reduz a arrecadação do governo em R$ 35 bilhões não pode ser levado a sério. Antes mesmo do fim pronunciamento do ministro Fernando Haddad, o dólar rompeu a barreira dos R$ 5,90 e encerrou a R$ 5,91. No dia seguinte, logo após o anúncio das outras medidas, a moeda norte-americana alcançou a marca de R$ 6,00, o maior valor nominal desde o início do Plano Real. Esse foi o impacto a curto prazo, mas teremos que enfrentar muitos outros ainda porque a conta dessa irresponsabilidade e miopia sempre vem, não tem milagre. Com mais impostos e sem corte de gastos do governo expressivo, a dívida pública vai subir mais ainda. Daqui a pouco o Brasil vai dever o PIB inteiro, o que significa mais dificuldades para população brasileira.