Quando todo o foco deveria estar em salvar vidas e empregos, nós passamos boa parte deste ano numa CPI “rodeando o toco”, como se diz na minha terra. O objetivo de fato desta Comissão Parlamentar de Inquérito até as paredes sabem. Ao limitar-se às ações do Governo Federal, confessou que a motivação política é o que move seus defensores de primeira hora. Infelizmente, durante a totalidade das mais de 60 oitivas, o empenho em criar narrativas que fizessem sangrar o presidente Bolsonaro foi bem maior do que o de apurar responsabilidades pela perda de milhares de vidas.
Podíamos ter esperado para fazer essa investigação mais adiante, quando todos estivessem vacinados e a pandemia controlada. Quando já tivéssemos garantido a votação de projetos importantes no Congresso, por exemplo, para ajudar o micro e pequeno empresário, nocauteado pela crise sanitária. É o caso do Relp, um Refis moderno, e do MEI Caminhoneiro, ambos de minha autoria, além de iniciativas como o Marco do Reempreendedorismo, só para citar algumas matérias importantes que se encontram paradas.
Mas acionado pelos mentores da CPI, o STF determinou a sua instalação. E o que se seguiu foi um trabalho capenga e constrangedor, que se negou a ampliar a investigação para estados e municípios. Ora, todos sabemos que o Governo Federal enviou bilhões de reais para o enfrentamento à pandemia. Onde foi parar esse dinheiro? Como foi aplicado? Alertamos, incansavelmente, para a gravidade de episódios investigados de Norte a Sul do país: compras fraudulentas, empresas de fachada, sumiço de dinheiro, afastamentos de governadores. Em Santa Catarina, vivemos um vaivém do chefe do executivo investigado pela compra de 200 respiradores por R$ 33 milhões de reais. O dinheiro ainda não voltou aos cofres e os responsáveis não foram apontados.
Em resumo, nenhuma surpresa na CPI que se encerra nestes próximos dias. Começou com relatório pronto, fato aliás nunca escondido pelo relator Renan Calheiros. Usaram politicamente as mortes de milhares de brasileiros, desrespeitaram os que pensam diferente, destruíram reputações e se proclamaram donos da verdade e da ciência. Uma CPI midiática do início ao fim, de olho nas eleições de 2022.
CPI é um remédio amargo que precisa ser usada com muita responsabilidade. E isso, o Brasil todo sabe, está longe de ser o que se viu nesta CPI do Circo, como foi batizada por milhares de brasileiros.
Por Senador Jorginho Mello, representante de SC na CPI da Covid-19