Os livros sempre me fascinaram. Para mim, ler torna-se imperioso, e, em certos momentos, também, escrever.
As “Confissões” de Santo Agostinho, as “Confissões” de Rousseau, os “Sermões” do Padre Vieira, “Dom Quixote de La Mancha” de Cervantes e “A Democracia na América” de Tocqueville são os meus prediletos e estão entre as grandes realizações do espírito humano.
Alexis de Tocqueville tem sua imortalidade garantida nos anais da Filosofia Política. Nesta turbulenta quadra de nossa História, quando tanto se fala em democracia e liberdade, torna-se obrigatório um mergulho na obra de Tocqueville. “A Democracia na América” foi escrita depois de uma longa viagem aos Estados Unidos. Ele procura mostrar como um país alicerçado sobre princípios extremamente diferentes daqueles que balizavam as constituições da Europa podia funcionar, e funcionar com excelência.
Tocqueville ficou deveras impressionado com a inexistência de uma aristocracia na nação americana. Todavia, o que é de suma relevância é a conclusão que tirou desse fato: a nova república era mais do que o país da liberdade, o país da igualdade. A sua grande força residia na igualdade. Não se questionava a liberdade dos cidadãos da América, mas o que mantinha o país coeso era a manifestação de um pacto sobre o que era certo e o que era errado. Manifestava-se uma incontrolável pressão da sociedade sobre os seus componentes que, mais do que leis, obrigava a se comportarem de acordo do que era esperado deles.
Tocqueville descobriu na emergente democracia a perspectiva de uma nova forma de autoritarismo, o despotismo da maioria, do qual a igualdade seria o grande mote, e no qual todos teriam a obrigação de se adequar a seguir o padrão geral da sociedade. A inexistência de uma aristocracia que vislumbrasse o melhor caminho implicaria um rasteiro, e nos próprios Estados Unidos Tocqueville descortinou que nem mesmo entre os políticos havia uma elite dominante. Pelo contrário, constatou, com muita nitidez, que os cidadãos que ganhavam brilho e destaque não procuravam uma carreira política, e que isso nem sempre era visto como necessário ou meritório. As pessoas estavam sempre preocupadas com suas atividades privadas, e deixavam as tarefas de governo para aqueles que se apresentavam como postulantes, porém sem refletir que esses candidatos teriam de ser os melhores cidadãos do país.
“A Democracia na América”, inquestionavelmente, é a mais perfeita descrição não só de um definido país, mas como a melhor descrição e análise da democracia.