A gigante brasileira do setor de alimentos, a JBS, agora vai diversificar a sua atuação empresarial.
A partir de julho ou agosto, através da Seara, empresa genuinamente catarinense, comprada pelo grupo liderado pelos irmãos Batista, Joesley e Wesley; ficará responsável pelo funcionamento do Porto de Itajaí.
O terminal está fechado para a movimentação de contêineres desde o final de 2022, no apagar das luzes do governo Bolsonaro.
E assim permaneceu em 2023 e em 2024 até aqui.
A empresa Mada Araújo, que ganhou legitimamente a possibilidade de tocar o porto, acabou entregando os pontos.
O contrato de arrendamento provisório vai ficar por um prazo de dois anos com a JBS, inclusive a Antaq (Agência reguladora do setor portuário) já respaldou esse encaminhamento.
Paralelamente a isso será realizado um leilão para a concessão do Porto de Itajaí. Possivelmente em 2025.
Nesse leilão, o prazo será de 34 anos para as operações prorrogáveis para o mesmo período. Com um detalhe: a JBS poderá participar, só que não mais através da Seara. Terá que recorrer a outra companhia do grupo.
Searas
Saindo um pouco do contexto técnico, ingressamos no setor econômico. O prejuízo foi brutal para Santa Catarina e para o Brasil. Justamente na movimentação de contêineres era onde o Porto de Itajaí se destacava. Muito. A paralisação foi trágica sob o aspecto financeiro.
Política
Mas vamos refrescar a memória no segmento político. Décio Lima, amigo, correligionário e compadre de Lula da Silva, nomeado pelo presidente de plantão para a presidência nacional do Sebrae, entidade que tem orçamento maior do que a maioria dos ministérios espalhados pela Esplanada em Brasília, é natural de Itajaí.
Pé lá
Embora Décio tenha construído carreira política em Blumenau, sendo vereador e prefeito por dois mandatos. Ele também foi deputado federal.
Isolamento
Concorreu ao governo de Santa Catarina já em 2018, sozinho pelo PT, sem sequer um partido aliado. A votação foi bisonha. Mas em 2022, no embalo da candidatura Lula, e graças à pulverização de candidaturas de centro e de direita, o petista beliscou o segundo turno. Sabia que seria derrotado pela onda conservadora no round final do último pleito estadual.
Parceria
Décio Lima teve um grande aliado no último pleito. Gelson Merisio, aquele que foi derrotado no segundo turno de 2018 para o ilustre desconhecido Carlos Moisés, eleito por Jair Bolsonaro, de quem ele se distanciou depois da acachapante vitória.
Guinada
Merisio, que não disputou mais eleições, sempre militou em partidos de direita e de centro, mas em 2022 resolveu dar um cavalo-de-pau para ajudar o PT de Décio.
Articulador nato
Ele atuou na articulação da chapa do petista, inclusive abrindo mão de uma candidatura ao Senado em favor de Dário Berger, do PSB.
Partidos
Filiado ao Solidariedade, Merisio, após passagem relâmpago pelo PSDB, em 2022, declinou até de ser vice de Décio. Mas participou de todo o processo nos bastidores.
Faz sentido
Será que o fato dele atuar já há alguns anos como conselheiro da JBS e de sua proximidade com o presidente nacional do Sebrae não contribuiu para essa operação portuária?
Por cima
Os irmãos Batista têm fortes laços com Zé Dirceu, Lula e vários líderes do PT. Obviamente. Mas considerando tudo o que passaram na Lava Jato, um freio de arrumação não faz mal a ninguém. Daí podem ter acionado seu conselheiro, Merisio, que não se deve duvidar pode ter costurado a chegada da JBS ao terminal itajaiense.
Caminhos
Operação que passou pelo governo federal e quem sabe por Décio Lima. Merisio tem tido boa convivência com o governador Jorginho Mello. O governo do Estado poderia ser um empecilho para essa solução. Merisio e Jorginho sempre se relacionaram muito bem quando eram deputados estaduais. Aliás, ambos dividiram o mandato na Presidência da Alesc.
Divisão
Um ano para cada um. Depois, Merisio se reelegeu para mais dois anos na proa da Alesc e Jorginho subiu de estadual para deputado federal em 2010.
Tudo em casa
Portanto, estamos acompanhando aí uma solução casada do governo do Estado, o PL de Jorginho Mello; a prefeitura de Itajaí, onde quem ainda está no cargo é Volnei Morastoni, do MDB; e o governo Lula, do PT. Através da articulação de alguém que circula bem em todas as frentes e que responde pelo nome de Gelson Merisio.