O caudilhismo é algo presente em qualquer parte do mundo. E o Brasil? Claro que não foi uma exceção. Nós tivemos aqui uma figura que marcou a época. Leonel de Moura Brizola. Um caudilho simpático, insinuante, carismático e que conseguiu suplantar o exílio, retornando após a anistia e conquistando novos mandatos.
O trabalhista eloquente era governador do Rio Grande do Sul quando a revolução colocou as manguinhas de fora. Ele bateu em retirada. Quando retornou, em 1979, Brizola, que também foi prefeito de Porto Alegre, optou por não voltar ao Rio Grande do Sul. Mas por concorrer ao governo do Rio de Janeiro. Aliás, o que fez com êxito.
Muito embora tenhamos tido o episódio da Proconsult, da Rede Globo, aquele envolvimento todo para derrotá-lo. Mesmo assim, no final das contas, a sua vitória foi confirmada no Rio de Janeiro. Não tinha reeleição à época, mas o gaúcho elegeu como sucessor em 1986, Marcelo Alencar.
No mesmo ano ele também elegeu o governador gaúcho, Alceu Collares.
Embocadura
Leonel Brizola ganhou projeção nacional e se preparou para a disputa presidencial, o que ocorreu em 1989. Por menos de meio por cento acabou sendo ultrapassado, nos últimos dois dias de campanha, por Lula da Silva, a quem coube enfrentar e ser derrotado por Fernando Collor de Mello
Pegada
História que seria completamente diferente se Brizola tivesse chegado a grande final contra o então Caçador de Marajás. Depois, em 1994, Brizola chegou a ser vice de Lula. E nunca mais teve aquela importância política, foi se apequenando e perdeu relevância.
Vermelhou
O caudilhismo, de alguma maneira, foi ganhando cores também no PT. O fundador número 1 da legenda é aquele que encarnou o papel de sindicalista e retirante nordestino, também ex-torneiro mecânico Luiz Inácio Lula da Silva.
Primeira derrota
Em 1980, o presidente de plantão criou o partido, concorreu ao governo em 1982. Tanto ele como Jânio Quadro foram derrotados na disputa em São Paulo. Franco Montoro venceu o pleito e assumiu o governo do estado brasileiro mais importante.
Deputação
Lula da Silva se elegeu deputado federal na sequência e participou da Assembleia Nacional Constituinte.
Persistência
O canhoto disputou também os pleitos presidenciais de 1994 e 1998 e na quarta tentativa, em 2002, se elegeu. Antes disso, Fernando Henrique Cardoso havia cumprido dois mandatos.
Bico e pena
O tucano-mor tentou fazer como sucessores José Serra, Geraldo Alckmin e Aécio Neves. Nenhum deles teve sucesso. Consequentemente, o PSDB foi perdendo consistência.
Liberais
O PFL, lá na década de 1990, era muito forte e comandado por Jorge Konder Bornhausen. Que fazia parte do grupo de Marco Maciel, ex-vice de FHC durante oito anos do tucanato no poder.
Mas Marco Maciel não tinha perspectiva eleitoral. O nome que estava sendo preparado era do filho do então senador e ex-governador da Bahia, Antônio Carlos Magalhães, ex-deputado Eduardo Magalhães.
Vácuo
Só que o herdeiro de ACM acabou partindo precocemente e o PFL ficou sem candidato. Trocando em miúdos, o PSDB fez dois mandatos com Fernando Henrique, mas não teve sucessor.
Roteiro
Brizola igualmente não conseguiu construir o sucessor, até porque Lula ocupou o seu espaço. Ah, mas Lula, depois do segundo mandato, elegeu Dilma Rousseff. Foi uma improvisação, porque o nome natural seria o do responsável pela sua eleição em 2002, Zé Dirceu, que era presidente do partido. O Super Zé, contudo, caiu no mensalão.
Hierarquia
O terceiro nome “natural” na linha sucessória vermelha, Antônio Palocci, também foi engolido por escândalo de corrupção.
Sou do Sul
Foi aí que Lula teve que escolher entre dois gaúchos: Tarso Genro, gaúcho da gema, nascido no Rio Grande; e Dilma Rousseff, mineira de nascimento, mas que construiu a sua carreira também no estado vizinho.
Erro histórico
A deidade vermelha optou pela mulher. Ela se elegeu com o seu apoio e se reelegeu com o seu respaldo. Mas sucumbiu na metade do segundo mandato com o impeachment.
Poste
Durante a sua prisão, Lula da Silva escalou Fernando Haddad, o famoso poste, que polarizou com Jair Bolsonaro e foi pro segundo turno, fazendo quase 45% dos votos. Votação nada desprezível, registre-se.
Manobra
Em 2022, o Supremo soltou Lula para disputar com Bolsonaro. O petista supostamente ganhou a eleição. Agora, quem garante que ele chega para a reeleição? Principalmente considerando as condições político-eleitorais. O seu governo vai de mal a pior.
Faria Lima
O setor produtivo já anda incomodado. E aí, se for para Lula passar o bastão novamente? Terá uma Dilma ou um Dilmo? Quem seria? Hoje, especula-se três nomes: Haddad novamente, que é o seu pupilo e atual ministro da Fazenda.
Baiano
O Ministro da Casa Civil, Rui Costa, que foi oito anos governador da Bahia e que hoje é o braço direito do presidente no Palácio do Planalto. O terceiro é o ex-governador do Ceará, eleito senador, Camilo Santana, hoje ministro da Educação.
Sem chance
A perspectiva de um desses três ganhar corpo para suceder a Lula é remota, porque Lula nunca preparou o sucessor. A exemplo de Brizola, não passa de um caudilho.
Foto: Âmbar Florestal / Divulgação