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Peetergate, a versão tupiniquim do caso Watergate?

Reviravolta em Balneário Camboriú: conteúdos vazados indicam que governo municipal comprou conteúdo roubado e forjou provas contra Leonel Pavan naquilo que já está sendo chamado de Peetertate*

 

A sexta-feira começou agitada no litoral norte do Estado. Diz o ditado popular que o diabo faz a panela, mas não faz a tampa. O portal teve acesso a conteúdos vazados na internet, que mostram que o secretário municipal de segurança, Castanheira, intermediou em nome do prefeito Fabrício Oliveira a compra de um pacote de informações – conversas de WhatsApp do ex-governador Leonel Pavan (PSD), envolvendo atividades empresariais de Pavan, que é candidato a prefeito de Camboriú.

 

Na verdade, as informações estavam em celular roubado do empresário Glauco Piai, que adquiriu terreno de Pavan neste ano. Quanto as conversas com Pavan, nenhum áudio ou mensagem suspeitos. Mas o empresário falava com terceiros se gabando da amizade com Pavan, e aí o conteúdo foi descontextualizado e a pauta vendida para um colunista da Folha de S.Paulo como uma bomba. Mas na verdade, tudo se tratava de uma grande armação: quem roubou o material tinha contato com o atual vice-prefeito de Camboriú, Júnior Cardoso (MDB), que fez a intermediação do pacote de informações para tentar prejudicar a candidatura de Pavan.

O meliante pede a Fabrício, via Júnior Cardoso, 500 mil reais pelo conteúdo. As conversas, vazadas nesta sexta-feira, indicam que o prefeito de Balneário Camboriú, entendeu ser este caminho a única bala de prata para poder tentar virar a eleição, pois seu candidato, Peeter Lee (PL), só lidera as pesquisas quando  se trata de rejeição. Fica sempre em segundo lugar, com grande distância da primeira colocada, justamente a filha de Leonel Pavan, a atual vereadora Juliana Pavan (PSD).

Para operacionalizar a compra de material fruto de roubo, Fabrício escalou o secretário Gabriel Castanheira, policial civil que veio de Curitiba já no primeiro mandato de Fabrício. Ele mantém contato com o fornecedor do conteúdo, que é entregue defronte a sede do comitê de Peeter Lee Grando (PL-foto). Castanheira, em mensagem de visualização única, informa que 01 (codinome de Fabrício nas negociações) prometeu entregar 400 mil reais pelo conteúdo antes das eleições, e mais 200 mil reais caso o material fosse decisivo para a vitória de Peeter. Mas como justificar a origem dos dados?

 

O celular entregue aos cuidados do prefeito Fabrício, na verdade, havia sido roubado no mês anterior do empresário Glauco Piai. A estratégia foi a mais patética possível: utilizar a estrutura da Guarda Municipal para forjar um chamado ao núcleo de inteligência da Secretaria de Segurança. A desculpa esfarrapada: denúncia de carro advindo de Brusque que teria participado de um assalto. Documento emitido pelo delegado regional da polícia civil nesta semana confirma: não houve assalto em Brusque no dia 23 de setembro, nem na semana anterior na terra da Fenarreco.

Pelos vídeos vazados nesta sexta-feira, o próprio secretário Castanheira recebe informações do jovem que vendeu o aparelho de celular de Glauco sobre a movimentação do empresário. Isto porque ele estava sendo seguido, e a rota era passada em tempo real para aquele que deveria garantir a ordem pública da capital catarinense do turismo.

Feita a abordagem do veículo, o próprio secretário de encaminha a senha dos dispositivos de Glauco Piai para o meliante, que ainda possui outros equipamentos do empresário. Tudo devidamente registrado nas gravações que comprovam o escândalo que já pode ser chamado de PeeterGate: uma trama que supera qualquer crime ou baixaria cometida nos demais municípios de SC nestas eleições.

Castanheira recebeu outras informações roubadas, mas do laptop de Piai

Em 17 de setembro, o secretário de Segurança recebeu em seu WhatsApp mais informações de relações empresariais de Glauco Piai. Desta vez, além dos depósitos feitos para Leonel Pavan e sua construtora, até o contrato de compra e venda de terreno chegou ao conhecimento do prefeito Fabrício e sua trupe. Mas essa informação não foi vazada na estratégia de criar uma “bomba” contra a família Pavan: claro, a transação imobiliária, registrada e com o devido pagamento de impostos, justificaria as transações e faria toda a trama criada perder sentido.

Primeira remessa de informações foi intermediada pelo próprio prefeito

O vendedor do conteúdo roubado liga para o prefeito de Balneário Camboriú, e chamando Fabrício de chefe, pergunta se o responsável por receber o celular e prover o pagamento já está chegando. Fabrício Oliveira responde: “não não, ele já está chegando. Já pegasse tudo lá?”, se referindo ao equipamento e conteúdos. Ao final, Fabrício complementa: “Ele já está chegando, tá passando Itajaí, aguarda um pouco”. Outros vídeos mostram o rapaz que furtou o celular aguardando Castanheira em frente ao comitê eleitoral de Peeter Lee Grando, na tarde de 16 de agosto. Logo após o acerto teria sido feito num posto de gasolina próximo, com imagens já obtidas, com recurso sendo entregue numa sacola de uma contabilidade.

Castanheira recebeu outras informações roubadas, na reta final da campanha

Em 17 de setembro, o secretário de Segurança recebeu em seu WhatsApp mais informações de relações empresariais de Glauco Piai. Desta vez, além dos depósitos feitos para Leonel Pavan e sua construtora, até o contrato de compra e venda de terreno chegou ao conhecimento do prefeito Fabrício e sua trupe. Mas essa informação não foi vazada na estratégia de criar uma “bomba” contra a família Pavan: claro, a transação imobiliária, registrada e com o devido pagamento de impostos, justificaria as transações e faria toda a trama criada perder sentido.

 

O uso da Guarda Municipal para fazer política: uma estratégia mal sucedida

A forma truncada como a abordagem foi realizada em 23 de setembro, gerou desconfiança e vazamento de informações dentro da própria Guarda. Além de áudios vazados, contextualizando a armação e provando a ingerência de Castanheira na Guarda, nesta quinta-feira outro GM registrou boletim de ocorrência por ameaça de morte. Tudo isto após publicarmos em primeira mão os pontos sem nós da armação, e o descontrole de Castanheira ao ser questionado pela reportagem.

Políticos de Camboriú também participaram da trama

Em outras conversar vazadas, a ex-vereadora Jane Steffen, relata indignação pelo fato de que o material seria utilizado supostamente para prejudicar a campanha de Juliana Pavan em Balneário Camboriú. Ela entendia que o estrago deveria ser feito nas duas cidades. “Ou a pessoa se interessa em ajudar tudo, em resolver a eleição nas duas cidades, ou então tem rolo aí”, afirma Jane.

Na conversa vazada, o jovem que está de propriedade dos conteúdos reclama do vazamento de vídeos de Pavan, e Jane pede para que seja responsabilizada. Ele pede para que ela intermedie com o candidato a prefeito Ramon Jacob, 20 mil reais de forma urgente para proteger sua família. Na segunda cobrança pelo recurso, feita de forma mais incisiva, ele pede para que a ex-vereadora cobra de Ramon “aquela situação”. Jane responde: “To vendo, ei, tu acha que não é o que eu mais quero? Já pedi 300 vezes, Ramon disse calma que eu já vou ajeitar”, afirma.

O rapaz então entra em contato com um senhor do comitê de Ramon Jacob (PL), com nome de Eliseu, para agendar a ida no local, supostamente para pegar os 20 mil reais prometidos por Jane Steffen.

Ainda, em outras conversas, diálogos são mantidos com Eduardo Gonzales Santos, apoiador da candidatura a prefeito de Édson Piriquito (MDB), em Camboriú. Pelos áudios, presume-se que Eduardo combine locais para encontro, afim de efetuar pagamentos pela entrega de mais materiais vazados para prejudicar Leonel Pavan.

Após receber cobrança via mensagem de voz de visualização única, Eduardo responde que: “ainda não tenho algo concreto, mas estamos trabalhando”.

O vazamento das conversas envolvendo o prefeito Fabrício e o secretário Castanheira na obtenção de material de roubo, a descontextualização de mensagens, a farsa de uma abordagem policial e a divulgação espalhafatosa dos fatos em uma coletiva de imprensa – após venderem a pauta para a folha de São Paulo como um grande escândalo de corrupção, geram o fato político decisivo na reta final das eleições em Balneário Camboriú. Até porque, não existem áudios comprometedores de Juliana Pavan em nenhuma das conversas. Sobre Leonel Pavan, a omissão da venda do terreno e a divulgação de conversas de terceiros usando o nome de Pavan mostram como o desespero pode ser sorrateiro.

Ontem, o candidato Peeter Grando, espalhou pela cidade material apócrifo contra Juliana Pavan, alterando o título da notícia plantada na folha de São Paulo. Não deu outra, a Justiça Eleitoral mandou recolher o material. Mesmo assim, a distribuição continuou de casa em casa, durante esta madrugada, na surdina.

A campanha de Peeter parece propensa ao vale-tudo. Também estão desrespeitando a decisão judicial de impugnar a última pesquisa do Instituto DNA, cuja divulgação foi impedida por ordem judicial. As outras três pesquisas do mesmo Instituto foram impugnadas pelo TRE. Na última, criaram o fato de que após as acusações infundadas e ataques contra Juliana, Peeter virou a eleição estando 1% a frente de Juliana. Piada pronta.

Certamente muitas respostas para tudo isso que estamos assistindo serão dados depois das eleições deste domingo.

foto>NDTV, Recod, arquivo

*Watergate

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