Continua repercutindo, especialmente nos bastidores da política catarinense, a conversa da semana passada entre o governador Jorginho Mello e o todo-poderoso presidente do PSD nacional, Gilberto Kassab, em São Paulo. O grupo que comanda o PSD catarinense mergulhou, submergiu, nenhuma palavra, nenhum pio, nenhum comentário. Nada. Foram pegos de surpresa. Não sabiam, verdadeiramente, desse encontro.
O encontro foi capitaneado pelo prefeito reeleito de Florianópolis, Topázio Silveira Neto, e pelo secretário da Articulação Internacional do Governo do Estado, Paulo Bornhausen. Eles começam a querer tomar pé da situação. Então, vão ao encontro de Kassab.
É claro que Kassab não pode desconsiderar um prefeito reeleito de Chapecó, capital do Oeste, e um deputado de 5 ou 6 mandatos, Júlio Garcia, que vai para um quarto período à frente da Assembleia Legislativa. Também não pode ignorar algumas prefeituras importantes conquistadas por esse grupo político, como Criciúma e São José.
Claro que essas lideranças não serão ignoradas por Gilberto Kassab, mas essa situação incomoda. Incomoda porque pode ser interpretada como uma jogada de Jorginho Mello para dar uma esvaziada no projeto majoritário de João Rodrigues, que se lançou à sucessão estadual antes mesmo de Jorginho e antes de ser reeleito em Chapecó.
Mira
Então, essa conversa do João Rodrigues, de candidatura ao governo, pode ser mesmo para mirar uma vaga ao Senado na chapa de Jorginho Mello. Só precisaria ver como fica Raimundo Colombo nisso tudo. Vai estar no jogo e fazer sombra a Rodrigues?
Menos
Agora, também fica claro que o governador, ao acenar com essa possibilidade de coligação com o PSD, neutraliza uma maior visibilidade de João Rodrigues como pré-candidato ao governo.
Quem?
O oestino não é conhecido no estado. Mal e mal é conhecido no Grande Oeste. Tanto é que o município maior que o PSD elegeu foi Capinzal, excluindo-se Chapecó, naturalmente.
Entorno
Todos os outros oito principais municípios, tirando Chapecó, onde ele foi reeleito, o PSD não elegeu ninguém. Então, pode ser uma estratégia de Jorginho também para dar uma esfriada no nome de João, que queria ficar fazendo campanha nos dois anos. Essas articulações, essas conversações podem neutralizar esse palanque antecipado para o pessedista.
História
No momento político em que Santa Catarina se encontra, é interessante lembrar como surgiu politicamente o radialista João Rodrigues, outrora conhecido pela alcunha de João Verdade. Ele nasceu pelas mãos de Paulinho Bornhausen, que o buscou em Pinhalzinho e o colocou para atuar em veículos de comunicação de envergadura.
Mandato
Com essa exposição, o ex-João Verdade passou a se chamar João Rodrigues e virou deputado estadual.
Executivo
Depois, o ex-Verdade foi prefeito, deputado federal, e chegou a passar um período preso na Papuda, para onde foi levado algemado.
Rivais
Eles logo se atritaram, mas acabaram sendo secretários, formando juntos o primeiro colegiado de Raimundo Colombo: João Rodrigues na Agricultura e Paulinho no Desenvolvimento Econômico. Reeleito, Raimundo ignorou a dupla olimpicamente. Nenhum deles continuou no governo.
Lado
Os dois criaram uma área de atrito forte. E evidentemente que Jorge Bornhausen não vai trabalhar por João Rodrigues. Aí surge essa possibilidade de uma composição.
Racha
Hoje o PSD está rachado. Até porque o ex-governador de dois mandatos e ex-senador Raimundo Colombo não estará com João Rodrigues e Júlio Garcia, de quem quer distância. Ele estará com Jorge Bornhausen, que é o seu padrinho político.
Nominata
Estamos falando, portanto, de Jorge Bornhausen, Paulinho Bornhausen, Topázio Silveira Neto e outras lideranças que eles vão persuadir da outra corrente do PSD. Agora, é acompanhar como Gilberto Kassab vai se posicionar.
Proximidade
Outro aspecto: Gilberto Kassab é secretário de Tarcísio de Freitas, com quem Jorginho se dá muito bem. Eventualmente, até para atender seu padrinho político, Jorge Bornhausen, Kassab poderá raciocinar futuramente sobre outro encaminhamento.
Morro abaixo
Talvez o próprio Bolsonaro esteja alinhado a um projeto que também pode ser o de Jorge Bornhausen: apoiar Jorginho.
Dito
Bolsonaro mesmo já falou, em Chapecó, num evento promovido por João Rodrigues, quando a plateia começou a entoar “João Rodrigues governador”. O ex-presidente reagiu prontamente: “Governador, não, senador. Governador é o Jorginho.”
Convergência
Daqui a pouco, apoiar a reeleição de Jorginho pode ser o objetivo de Topázio, Jorge Bornhausen, Paulinho, Raimundo Colombo, e até de Bolsonaro. Nesse contexto, lideranças do PL, como Carol De Toni, poderiam ser preteridas.
Percalços
Mais uma questão importante: daqui até 2026, como estarão algumas lideranças que hoje se posicionam no tabuleiro? Terão sobrevida ou ficarão pelo caminho?
Retorno?
Não se pode descartar que Raimundo Colombo, que disputou as últimas duas eleições ao Senado, possa ser novamente o nome pessedista para esse cargo, o que não impediria o projeto de Carol De Toni.