Segundo uma antiga lenda grega, ao criar as cidades, Zeus presenteou suas criaturas com duas virtudes: o senso de justiça e o senso de vergonha.
Com isso, acreditava ser possível a convivência harmoniosa entre as pessoas. A justiça apontaria direitos e deveres do cidadão. A vergonha serviria para equilibrar as ambições e vaidades dos indivíduos. Caso Zeus tivesse vivido além da mitologia grega, e o relato fosse verdadeiro, hoje, não saberia onde enfiar a cabeça diante dos valores que balizam a vida de muitos brasileiros.
Infelizmente nosso país está dividido em dois. Um mundo habitado pelos semideuses de colarinho branco que são denunciados por roubo, mostra-se o que eles roubaram, aponta-se quem roubou, faz-se uma investigação para a imprensa e a opinião pública verem, chegaram até serem presos, mas todos, sem exceção, estão livres e felizes, graças aos semideuses das capas pretas.
O outro mundo, na sua maioria é habitado por uma massa de trabalhadores humildes e honestos, que luta desesperadamente para sobreviver, e que quando tem fome, são presos por se manifestarem nas ruas e praças.
São dois brasis bem distintos. Um onde os funcionários da Câmara Federal, do STF e de outras instituições em Brasília, recebem salários bem acima da média nacional. No outro Brasil, o professor e o bombeiro precisam entrar em greve para ter seus míseros salários reajustados. Conclui-se que o status desses salários na capital do país é mais importante que a barriga vazia e a educação das crianças.
Estamos diante de um quadro que transcende o fator dignidade humana. Há uma contaminação nacional que separa injustamente os direitos e privilégios dos brasileiros. De um lado, o setor público vive uma irrealidade total; basta olhar os supersalários que a grande maioria desses funcionários recebem, em comparação com o que ganham empregados no setor privado. Pesquise por exemplo, o salário de um profissional em uma área qualquer e vais descobrir que este profissional ganha até 6 ou 7 vezes mais que a mesma pessoa na área privada.
Na contramão dessa vergonha está o setor privado, onde as empresas são cada vez mais sobrecarregadas de tributos. É uma disputa injusta e ingrata entre esses dois brasis.
Não adianta o Brasil ser a décima economia do mundo e não arrumar a sua própria casa, e ser ao mesmo tempo o estado mais caro do mundo.
Estão fazendo festa com o dinheiro do povo. Espera-se que os poucos honestos que existem consigam reverter o processo, e que comecem a controlar, de maneira firme, nossa economia; fortalecendo nossa moeda e dando um pouco mais de alívio para as pessoas e empresas.
Quem está mais doente: o Brasil ou os brasileiros? Tire suas conclusões, mas não esqueça de cobrar, se possível, daqueles a quem você votou nas últimas eleições.
RICARDO F WINTER
rwinter@iscc.com.br