Sergio Renato de Mello, Defensor Público, aqui como escritor
Em tempos de troca instantânea de informações de massa o problema é o celular, como disse o ministro Alexandre de Moraes. Seríamos mais felizes sem o aparelho, afirmou algo neste sentido uma vez em plenário.
O problema é realmente o celular ou o mau uso que fazem dele, seja digitando, seja enviando notícias para um consumidor ávido por entretenimento e à cata de comportamentos contra os quais ele tem alguma chance de apontar o dedo e mostrar sua própria virtude? Pensando assim, o ministro Alexandre de Moraes parece não ter afeto às telas.
Vejamos exemplos.
Tocar em tema de raças hoje em dia só serve para uma coisa: acusar um adversário político ou alguém cujo nome tenha repercussão midiática e gere publicidade daquilo que ele não é, de racista, ou ao menos sugerir esta imputação. Lembremos de uma pérola suprema, da equiparação das ofensas homofóbicas ao crime de racismo e ao de injúria racial. Na ausência de lei a respeito, chamemos o Supremo! O Congresso Nacional, que é a voz do povo, não está tendo competência para ouvir o clamor de seus mandantes?
Uma vítima desse estado de coisas injuriosas, acusatórias, foi o governador de Santa Catarina Jorginho Mello. Alguns jornais publicaram matéria com o fato, entre eles o UOL. O vereador Leonel Camasão Cordeiro, do PSOL em Florianópolis, afirmou que irá denunciar o governador ao Procurador-geral da República para uma futura ação penal.
O governador do Estado Barriga Verde, como é conhecido um dos Estados mais prósperos do país, visitou Pomerode em época da Festa Pomerana e de lá falou sobre o que chama a atenção na cidade, entre outros fatores a cor da pele das pessoas (certamente, dos pomerodenses e dos pomeranos). Pomeranos são povos e comunidades de descendentes de alemães, que migraram para o Brasil no século XIX. Trabalham na terra e dão grande importância à família e aos mais velhos.
Tal comentário chegou ao jornalismo militante, o que faz pouco caso da reputação alheia (o ímpeto de acusar, claro!), entre outros do UOL, que lançou matéria nas redes colocando em dúvida ou ao menos obrigando a defesa do nome do governador, que informou em suas redes que irá acionar medidas cabíveis.
O governador foi acusado de racismo, e isso é grave! Teria que haver uma resposta à altura da acusação.
O medo é geral. Mas medo de quem ou do quê? De novos racistas puro sangue, verdadeiros? O medo é do estado totalitário. Haja coragem para digitar no celular palavras sensíveis sem alterá-las, colocando asterisco ou outro caracter entre as letras, invertendo a ordem delas, ou por outros meios de tangenciar os olhos do Grande Irmão sem mesmo nada dever e ele, que, ao que se vê, procura racismo linguístico até em pessoas com mudez ou gagueira.
Felizmente, estudos sobre raças estão banidos em nosso tempo. Eles levaram a catástrofes. Herança do Conde de Joseph Arthur, que, no século XIX, escreveu ensaio sobre desigualdades das raças, uma hierarquia de raças baseada na pureza do sangue ou na mestiçagem cujo resultado é perda da “raça superior” e ganho pela “raça inferior” e que, infelizmente, serviu de fundamento científico ao nazismo (contrário a qualquer mistura racial).
Cancelada a busca científica, o que restou foi a busca legítima por racistas e sua punição mas que pende para enxergar racismo onde não tem.
Pensamentos como esse de Gobineau sobre desigualdade de raças não servem para mais nada além de incutir interesse do Grande Irmão, que efetivamente está difuso no nosso meio querendo achar pelo menos uma boa notícia para explorá-la, ou seja, comportamentos que gerem algum tipo de polêmica.
No tempo da grama verde (Chesterton), falar para ouvintes que não querem ouvir dá canseira porque o óbvio é cinicamente ignorado. Nem todo comentário sobre pele, raça, cor, sexo é racista. Mas o imperativo jornalístico é informar e apontar o dedo, pois o mercado jornalístico é impiedoso com veículos que deixam passar uma grande notícia aos olhos do consórcio, do Grande Irmão.
Aos catadores de fascistas uma música (Vou pra Santa Catarina, Os serranos):
Eu tô pensando em ser feliz
E minha mãe quer uma nora
Se eu encontrar eu volto logo
Te confesso, ela me disse
Sou o homem que ela adora.
Talvez esteja em Jaraguá
Joinville ou Blumenau
Lá por Santa Catarina
Ou talvez em Rio do Sul
Ou Timbó ou Indaial
Sei que é linda esta menina.