Dados apresentados por palestrantes na reunião do Conselho de Governança do Movimento Santa Catarina pela Educação, nesta quinta-feira, 20, apontam grandes desafios educacionais do país. O secretário de Educação de Santa Catarina, por exemplo, lembrou que apenas 56% dos brasileiros na idade normal de fazer o ensino médio estão matriculados nesses cursos.
O diretor de educação e tecnologia da CNI, Rafael Lucchesi, acrescentou que 90% dos estudantes que concluem esta etapa da vida escolar não sabem o esperado em matemática e 70%, têm deficiências em língua portuguesa. São problemas que têm reflexos na produtividade do país, o que, no entendimento do presidente da Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (FIESC), Glauco José Côrte, coloca a educação como um dos temas centrais para o desenvolvimento do país. “Há uma relação direta entre educação e qualidade do emprego, da saúde, do rendimento do trabalhador. Esse esforço vai se refletir numa melhoria da produtividade do trabalhador catarinense e, portanto, também, da competividade das nossas empresas”, disse.
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Na mesma linha de raciocínio, o presidente da Fecomércio, Bruno Breithaupt, destacou a necessidade de se valorizar uma formação com ética, sustentabilidade, inovação e empreendedorismo. “O desenvolvimento de um país depende substancialmente da capacidade de elevar sua produtividade, principalmente a partir da inovação”, destacou.
Para Deschamps, além de acesso, permanência e aprendizagem para todos, é preciso “garantir valor percebido pelo estudante ao final da etapa da educação que está concluindo. No caso do ensino médio, se o jovem não perceber valor naquilo que está estudando, ele vai embora”. Assim, concluiu o secretário, se 40% não fazem o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM, uma das formas de acesso à universidade) e poucos fazem formação técnica, os jovens não estão percebendo valor nesses cursos.
Lucchesi criticou a “lógica academicista” do modelo educacional brasileiro que sobrevaloriza as carreiras profissionais de nível superior. Ele avalia que, “no modelo anterior do ensino médio, era como se todo mundo fosse para a universidade. No entanto, menos de 20% chegam a um curso superior e apenas 9,3% dos jovens de 15 a 17 anos fazem a educação profissional junto com a educação regular”. Lucchesi citou pesquisas da CNI, segundo as quais 90% das pessoas concordam que a educação profissional gerará mais oportunidades para o mercado de trabalho e 82% creem que gerará mais renda. “O salário médio das dez profissões técnicas mais demandadas pela indústria é maior do que os da grande maioria das profissões de nível superior, seja no início, no meio ou no final da carreira”, destacou, lembrando que, na média nacional, sete em cada dez estudantes do SENAI obtêm emprego alguns meses após o término do curso.
“Estávamos na direção errada, porque, no restante do mundo, o ensino médio é período de transição; os jovens que passam por ele estão se engajando na vida ativa”, afirmou. “Porque no Brasil aceitamos que a identidade social conferida por profissões só se dê no nível superior? Não é assim que funciona nas outras sociedades. Há um discurso que pretende uma coisa, mas na prática se traduz numa enorme cunha de exclusão social”, disse.
Novos Caminhos
No evento a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (Fecomércio-SC), incluindo o SENAC, aderiu ao Novos Caminhos, programa de apoio e qualificação profissional a jovens sob a tutela do Estado. Iniciativa da FIESC, Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJSC) e Associação dos Magistrados Catarinenses (AMC), o programa já obteve a adesão da Ordem dos Advogados do Brasil em Santa Catarina (OAB-SC) e Ministério Público de Santa Catarina, além, agora, da Fecomércio.
Durante a reunião do Conselho foi assinado protocolo de intenções entre FIESC, SENAI, Secretaria Estadual de Educação e Itau BBA, para o desenvolvimento do ensino médio integral, a exemplo do SENAI Conecte, que vem sendo realizado as unidades do SENAI em Florianópolis e Criciúma.
O professor Wemerson da Silva Nogueira, do Espírito Santo, apresentou o projeto de ensino de química, com saídas dos alunos em campo para análises da água do Rio Doce, após o rompimento da barragem em Mariana-MG. “Educação é uma das profissões que mais contribuem para o nosso mundo, porque elas transformam vidas, que fazem as pessoas pensarem de forma cognitiva, solucionar problemas ajudar pessoas e encontrar resultados”, disse o docente, classificado entre os melhores do mundo, segundo o Global Teacher Prize.
Também foi lançado o livro “Gestão Democrática da Educação: da Base Legal à prática na escola”, que relata a aplicação de gestão escolar pelo Movimento Santa Catarina pela Educação, em duas escolas estaduais da Grande Florianópolis. Alexsander Fortkamp, diretor da Escola Jacó Anderle, de Florianópolis, um dos estabelecimento onde a metodologia foi aplicada, apresentou um depoimento de como foi a experiência. Outra experiência apresentada foi o Espaço de Educação Maker, no SESI de Blumenau e que será estendido a outras cidades, pela coordenadora de educação de entidade, Maria Tereza Paulo Hermes Cobra.
Panorama Econômico
O presidente da FIESC apresentou um panorama da economia catarinense, salientando que, nos primeiros meses do ano, o Estado “está dando sinais bastante concretos do início de um processo de crescimento e de recuperação da economia, sobretudo quando comparado com o Brasil”. Côrte citou índice de crescimento regional divulgado pelo Banco Central que aponta um crescimento da economia catarinenses, nos meses de janeiro e fevereiro, de 4,1%, contra uma queda de 4,3% no mesmo período do ano passado. “De acordo com este índice do Banco Central, estamos com crescimento bastante vigoroso”, afirmou. Desempenho semelhante teve a produção industrial catarinense, que, nos dois primeiros meses de 2016 teve uma queda de 9%, mas cresceu cerca de 5% no mesmo período de 2017. Côrte apontou ainda o crescimento da oferta de empregos e das exportações. “Esperamos que esses dados se confirmem no fechamento do primeiro trimestre do ano, mas isto está alinhados ao esforço que todo o setor produtivo catarinense está fazendo no sentido de criar as condições para a recuperação do nosso desenvolvimento e, mais importante, para a geração de novos postos de trabalho”.