Se alguém ainda alimentava alguma esperança de que Michel Temer poderia renunciar, esse sentimento se esvaiu na tarde de sábado. O presidente foi à TV e durante treze minutos tentou, em alguns pontos com sucesso, desqualificar o delator e candidato a fazer Al Capone parecer um colegial, Joesley Batista.
O chefe da nação chamou o algoz de “falastrão” e autor de grampo clandestino, um sujeito que fugiu com bilhões para os EUA, para onde pôde transferir seu conglomerado empresarial. Que comprou um bilhão de dólares e vendeu milhões em ações de sua própria empresa um dia antes de vazar as informações. No dia seguinte, inverteu. Vendeu os dólares com preço bem maior e recuperou suas ações a preço de banana.
Temer ficou muito mal na foto por ter recebido, na calada da noite, um bandido confesso da pior espécie e não ter reagido com autoridade às insinuações criminosas do delator. Agora, não há nada de extraordinário no diálogo, que na verdade mais parece um monólogo, que deixe transparecer que o presidente está dando anuência à compra de silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha à base de propina. Temer pediu ao STF a suspensão das investigações contra ele, alegando que o áudio divulgado pelo Grupo Globo, onde a JBS investiu milhões e milhões em anúncios, foi editado mais de 50 vezes. Este ponto também não está claro. O mínimo que se espera agora é que as estruturas judiciais ajam com rapidez e um mínimo de isenção!
Redução de danos
Michel Temer está atuando fortemente para minimizar a debandada de aliados. No PSDB, que chegou a anunciar o desembarque total, a ordem é aguardar um pouco mais. O PSB diz que vai para a oposição, mas que o ministro pode continuar se quiser. Ou seja, deixou a porta aberta. E o PPS registrou a baixa de Roberto Freire, mas permanece por enquanto com Raul Jungmann
Livro dos recordes
A empresa de Joesley Batista valia, em 2007, R$ 4 bilhões. Em dez anos, saltou para R$ 160 bilhões. Ou o homem é um gênio (o que definitivamente não é o caso) ou usou dos piores métodos possíveis para amealhar tudo isso.
Coincidências
Certamente é só uma coincidência, mas o colunista não poderia deixar de observar. Em 2016, o déficit fiscal deste país bateu nos R$ 170 bilhões. No mesmo ano, a empresa mais esperta do mundo, o conglomerado dos Batista, chegou a R$ 160 bilhões.
Tempo
Não raras vezes registrou-se aqui que Michel Temer não era nenhum santo. De fato, não é. Sua postura o inviabiliza para a presidência. Mas seus antecessores o tornam o aprendiz quando o assunto é pilhar o país.
Rindo à toa
Só há dois grupos rindo à toa com o caos que se estabeleceu no país: JBS e PT.
Contra o tempo
Para o PT, nunca antes na história foi tão conveniente o discurso das Diretas Já. Lula da Silva e os pombos da Praça XV sabem que a condenação e possível prisão é iminente. Por mais uma coincidência, a única chance dele voltar ao poder seria a queda de Temer e a instituição de eleições diretas, ainda este ano, fora do que prevê a Constituição. Lula da Silva está mais Lula da Silva do que nunca.
OAB no circuito
Noves fora a guerra de bastidores entre partidos e forças econômicas, outro ponto de preocupação para Temer. A OAB vai pedir seu impeachment ao Congresso, exatamente como fez com Fernando Collor em 1992. A decisão foi aprovada pelo Conselho Federal da Ordem composto por três catarinenses, que foram favoráveis à abertura do processo: Tullo Cavallazzi Filho, Sandra Krieger Gonçalves e João Paulo Tavares Bastos.