Ex-juíza do TRE/SC e ex-secretária geral da OAB/SC, a advogada Ana Cristina Blasi poderia apenas falar da trajetória bem sucedida nas instâncias diretivas das instituições que integrou ao longo dos 25 anos de profissão. Convidada para substituir a ministra Luciana Lóssio como palestrante no Congresso de Direito Eleitoral, que encerrou nesta terça-feira, na Capital, Ana Blasi preferiu falar sobre situações nas quais ela e outras lideranças femininas precisaram enfrentar no processo de ocupação de espaços políticos.
“Eu sempre fui contra as cotas. Cresci acreditando que deveria buscar meu espaço com estudo e mérito. Mas quando você ouve de colegas se referindo a você como louca por expressar determinada opinião, ou mesmo quando vê uma amiga ser criticada porque gosta de estar bem arrumada, percebe que o machismo é algo enraizado. Por que sua opinião não pode ser respeitada? Por que a mulher precisa se masculinizar para vencer? Quando tudo isso acontece à sua volta, você conclui que as políticas afirmativas são fundamentais”, disse.
Para a advogada, não faltam leis que garantam a igualdade de oportunidades às mulheres, mas uma atuação mais efetiva do Judiciário, que deve punir exemplarmente os partidos políticos que desobedecem a lei. “Tem um fundo partidário destinado às candidaturas das mulheres, mas eles não destinam os recursos às candidatas. Temos mecanismos para enfrentar a questão das candidatas que emprestam seus nomes para cumprir cotas de candidaturas de maridos e filhos, mas a fraude continua a ocorrer sistematicamente. Essas situações, quando comprovadas, precisam ser punidas”, observou. “O legislador já fez seu o seu trabalho. O Judiciário tem que fazer o seu”.
O painel que discutiu a participação de mulheres e jovens na política, contou também com a presença da vice-governadora do Piauí, Margarete Coelho, que foi além. “A lei das cotas foi feita para não ser cumprida. O que era para ser piso virou teto”, afirmou, questionando: “Que democracia é esta que exclui jovens e mulheres?”. Para Margarete, os dois segmentos são meros espectadores do processo eleitoral. “Nós corremos atrás da bola, mas não nos passam a bola. Pelo contrário, se puderem vão nos dar uma meia trava”, brincou. A vice-governadora diz que existe uma iconografia clara da representação política brasileira, formada por homens, brancos, meia-idade e que usam ternos. “Não há igualdade de oportunidades. Da mesma forma que as mulheres, os jovens são vistos como uma boa força de trabalho, mas não se confia neles para o exercício do poder”.
Crédito: Ricardo Pereira