O desaparecimento repentino de Luiz Henrique da Silveira do cenário político nacional, sem qualquer demérito as demais lideranças, provoca um vazio na representação catarinense no Congresso difícil de ser preenchido. Um vazio que será sentido especialmente por Santa Catarina que contou com Luiz Henrique para as lutas que levaram os brasileiros a reconhecer nos catarinenses, para nosso orgulho, um povo virtuoso e solidário.
No último dia oito de maio, ao final da tarde, Luiz Henrique tomou conhecimento do restabelecimento do Programa Emergencial de Recuperação dos Municípios atingidos por catástrofes, o PER, através de normativo do BNDES, para financiar em condições especiais o reerguimento dos agricultores, micro, pequenas e médias empresas de Xanxerê e Ponte Serrada que sofreram a catástrofe de abril. Foi talvez a sua derradeira intervenção politica solidária, como Senador, em favor das comunidades atingidas que ele, mesmo com fratura recente no pé, fez questão de imediatamente visitar, na hora difícil, em apoio à ação do Governador Raimundo Colombo.
A paixão que nutria pela política a favor das pessoas refletia-se não apenas na sua enorme vitalidade e inquietação permanente para servir. Animava-o, sobretudo, a busca incessante da preservação do convívio democrático entre convicções diferentes. Fazia isso com uma invejável capacidade agregadora na manutenção do diálogo e da confiança entre lideranças partidárias estremecidas às vezes por conflitos próprios da disputa de ocupação de espaços.
Meu amigo, como no Poema em Linha Reta, de Fernando Pessoa, “Foi campeão em tudo”.
Era um ser humano admirável, obstinado pelo sucesso de suas ações, em todas as atividades que liderou, no esporte, no magistério, na advocacia, na vida pública da boa política.
Privei intensamente, no convívio diário, das raras virtudes que integram um ser único da têmpera de Luiz Henrique.
Eleito três vezes Prefeito, visionário, conseguiu projetar Joinville como referência da dança universal ao instalar a única filial do Ballet Bolshoi fora da Rússia.
Governador, o primeiro reeleito, fez do projeto de descentralização administrativa o modelo que acreditava ideal para tornar as ações e obras do governo mais ágeis e democráticas pela escolha das prioridades de investimento no Conselho Regional mais próximo de cada comunidade, tornando-as menos dispendiosas com a utilização dos serviços locais.
Senador, defendeu a reforma política como a única forma para salvar e fortalecer os partidos políticos como base da representação popular, com o financiamento público das campanhas, o fim da reeleição, a implantação do voto distrital misto e a cláusula de barreiras.
Apontava a urgência da reforma fiscal, na criação de um pacto federativo capaz de garantir maior participação dos Estados e Municípios no bolo dos recursos tributários, assegurando-lhes mais autonomia de gestão.
Vice-presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado mantinha vínculos com as principais Embaixadas em Brasília, em especial com aquelas que representavam o DNA de Santa Catarina. Nas viagens oficiais ao exterior, ou mesmo em férias, enaltecia e decantava as qualidades do povo e do território catarinenses por suas peculiaridades, convencido de que nenhum outro Estado da Federação possui potencialidades iguais as nossas.
Destacava, para convencimento de futuros investidores, a excelência dos nossos produtos eletroeletrônicos, a incomparável mão de obra, disciplina e compromisso da nossa gente com o trabalho. E ressaltava isso exibindo os excelentes índices de desenvolvimento humano que os catarinenses construíram.
Exaltava, apesar de incipiente, nossa vitivinicultura, as boas cepas de nossas uvas, o bom clima e altitude para o “terroir” da produção de bons vinhos que já ganham reconhecimento de prêmios internacionais.
Não perdia oportunidade para declarar a sua paixão pelo Estado e por nossa gente. Fazia isso até nos trajetos de seus constantes deslocamentos pelo Estado e exterior, de avião ou por terra, tempo que usava para escrever belas e criativas crônicas. Possuidor de uma memória fotográfica ressuscitava nos seus textos os grandes vultos da literatura, da música, das artes, da cultura universal, e cantava a sua pequena e bela Santa Catarina.
Carregava no coração as lições que Ulysses lhe ensinou, destacando-se como um dos mais autênticos e legítimos líderes do velho MDB de guerra e do nosso PMDB.
Fidalgo, sabia como ninguém receber autoridades em sua residência oficial na Casa da Agronômica, quando Governador. Em Brasília, Jonville e Itapema acolhia os seus convidados e amigos com um peculiar fascínio, ao lado de sua esposa Ivete. Foi sempre um marido carinhoso e devotado a Ivete, companheira sábia e discreta de todas as horas, responsável por conselhos e solidariedade em suas admiráveis conquistas.
Luiz Henrique deixa a marca indelével de um sonhador que com altruísmo e perseverança conquistou, com justos méritos, um lugar de destaque na história política contemporânea do nosso Estado e do País.
Nenhum catarinense, na sua morte, foi tão homenageado. Todas as manifestações traduziam o preito de gratidão e reconhecimento dos brasileiros reverenciando a obra e o trabalho deste inigualável catarinense.
Sentirei falta, como tantos que a ele recorriam por qualquer motivo, da sua saudação doce, calorosa e única ao receber uma ligação telefônica:
“Oi, amigo!”
O meu amigo foi um campeão em tudo.
Renato Vianna, Diretor Financeiro do BRDE