O recado enviado pelas urnas em outubro do ano passado segue ecoando forte na sociedade, nas redes sociais, na imprensa, nas esquinas. Mas nem o altíssimo volume da mensagem parece chegar aos ouvidos de líderes que foram mandados para casa em Santa Catarina. Tem gente avaliando que a eleição de 2018 foi apenas um ponto fora da curva, algo anormal e que logo ali adiante tudo voltará a ser como dantes no quartel de Abrantes.
Primeiro exemplo. O ex-governador Raimundo Colombo. Nos bastidores, ele tem sido estimulado e se move já com vistas a nova candidatura ao governo em 2022!
Qualquer cidadão catarinense pode almejar o cargo máximo do Estado. Mas no caso do pessedista, há todo um contexto histórico e eleitoral. Há 12 anos, em 2006, ele elegeu-se senador com quase 1,8 milhão de votos. Na sequência, conquistou dois mandatos consecutivos de governador a bordo de um feito histórico: venceu as duas eleições no primeiro turno!
Em 2018, na eleição subsequente, portanto, Colombo fez menos de 1 milhão de votos quando tentou voltar ao Senado. Ficou em quarto lugar. Resumindo: após quatro anos como senador, sete como governador ele obteve este resultado no ano passado. Daí fica difícil acreditar que possa realmente estar pensando, ele que já está na casa dos 65 anos, em ser governador novamente.
O tucano
Segundo caso, Paulo Bauer. O tucano, no mandato de senador, ficou em quinto lugar em 2018, quando tentou continuar na Câmara Alta. Fez pouco mais de 800 mil votos. Isso depois de ter concorrido ao governo, em 2014, e de não ter chegado ao segundo turno por 1,5% dos votos. Se Bauer passasse ao segundo round, teria sido eleito governador, considerando-se a esmagadora votação que Aécio Neves fez naquele ano em Santa Catarina.
Posição menor
Neste momento, Bauer avalia aceitar o convite do ministro Onyx Lorenzoni para ser o articulador da Casa Civil no Senado. Entre outras coisas, nessa função o tucano terá que pedir votos e se curvar ao senador eleito e diplomado Jorginho Mello (PR), depois de tudo o que ocorreu na campanha, quando o republicano não poupou golpes – altos, médios e baixos – na direção do colega. Bauer terá que não apenas pedir como também conseguir votos aos projetos de Bolsonaro, expondo-se a situações delicadas, como no caso de Mello, para ajudar o Planalto a atingir seus objetivos.
O emedebista
Terceiro caso: ex-governador Eduardo Pinho Moreira. Embora não tenha disputado o pleito do ano passado, o emedebista foi mandado pra casa. Com todas as letras que o eleitorado tinha à disposição para mandar o recado.
Vexame histórico
Senão, vejamos. Moreira presidiu o Manda Brasa por 10 anos. Neste século, teve três mandatos de vice-governador e dois mandatos-tampões de governador. Só que seu partido, o MDB, sequer chegou ao segundo turno em 2018. Um fato histórico, pois o PMDB esteve no round decisivo de todas as eleições ao governo desde 1982, quando foram restabelecidas as votações diretas para escolhas de governadores.
Volta ao passado
Pois agora Moreira novamente se move, nos bastidores, para voltar ao comando partidário tendo como objetivo maior concorrer ao Senado em 2022. Difícil de acreditar nisso tudo. A conferir os desdobramentos e os movimentos de cada um.
O exemplo
Neste contexto, o único que demonstra ter entendido o recado das urnas foi Mauro Mariani. Cabeça de chapa pelo MDB na eleição mais recente, ele vai deixar a presidência do partido sem tentar novo mandato à frente do diretório estadual. E também já decidiu que não disputará mais eleições. Mariani dá o exemplo que poderia ser seguido pelos três citados acima!