Estamos observando, nos bastidores, uma queda-de-braço entre o atual presidente da Assembleia Legislativa, Júlio Garcia, e um ex-comandante da Casa, Gelson Merisio. Este foi candidato ao governo em 2018 pelo PSD, mesmo partido de Garcia, mas migrou para o PSDB depois de baixada a poeira da derrota no pleito estadual.
Merisio, que fez apenas 29% dos votos válidos no segundo turno de 2018, passou cinco anos na presidência do Parlamento catarinense. Criou laços com parlamentares que ainda estão cumprindo mandatos de deputados estaduais.
O neo-tucano agora trabalha firmemente no sentido de tentar salvar Daniela Reinehr, a vice-governadora, ou até mesmo os dois, governador e vice. O objetivo é tentar evitar o afastamento dos dois mandatários (Moisés da Silva e Daniela).
Justamente porque isso implicaria na posse, interina num primeiro momento e talvez definitiva mais adiante, do próprio Júlio Garcia, terceiro na linha sucessória de Santa Catarina.
Abismo
Os dois não falam a mesma língua há tempos. Como terceiro deputado mais votado, Garcia fez uma campanha-solo em 2018, totalmente desvinculada de Merisio, que era o cabeça de chapa de seu partido. Em nenhum momento houve associação de imagem ou de pedido de votos.
Criatura e criador
Ocorre que Merisio cresceu na política pelas mãos de Júlio Garcia. O oestino chegou à Alesc na condição de suplente e se aproximou do atual presidente do Legislativo.
Por aqui
Exímio articulador, Júlio Garcia costurou e pavimentou o caminho para Merisio chegar ao comando do Parlamento estadual pela primeira vez. Foi em 2010, em mandato que foi dividido entre ele e o hoje senador Jorginho Mello, que pilotou a Casa um ano antes.
Oportunidade
Também foi Garcia quem trouxe o advogado Antônio Gavazzoni (cunhado de Merisio) de Chapecó, onde atuou como procurador do município.
Dono do cofre
Em Florianópolis, Gavazzoni assumiu a Secretaria de Administração de Luiz Henrique da Silveira. Na sequência, ascendeu à pasta mais poderosa, a Fazenda, onde permaneceu por anos consecutivos.
Distanciamento
A partir daí, movimentos de parte a parte foram distanciando Júlio Garcia e Gelson Merisio. Agora declaradamente adversários/inimigos, os dois se reencontram em frentes opostas. Merisio por provavelmente ainda alimentar perspectivas majoritárias para 2022. E Garcia sob a perspectiva de assumir o governo, algo que seu algoz não conseguiu.
Fator externo
Sempre é bom, neste contexto, considerar os fatores externos. Como as investigações da Polícia Federal, que envolvem Júlio Garcia e Moisés da Silva em processos diferentes.
Decisões podem ocorrer a qualquer momento, mudando o cenário.
Sal grosso
Por fim, mais um ingrediente neste caldeirão. Em agosto, Gelson Merisio passou a integrar o Conselho de Administração da JBS. Aquela empresa do açougueiro que gravou Michel Temer e tentou derrubar o presidente, que sobreviveu a processos de impeachment e completou o mandato.
Memórias
A mesma JBS que, com base na delação de um de seus diretores, teria transferido R$ 10 milhões para a campanha de reeleição de Raimundo Colombo. O assunto já foi arquivado, mas foi aventado lá atrás. Outro citado pelo delator da JBS, que não conseguiu provar, foi Antônio Gavazzoni. Fora todos os outros problemas da JBS, por isso, causou estupefação a informação de que agora Merisio faz parte do conselho gestor da companhia, que tem sua imagem na lona. Isso pode enfraquecer suas articulações, também considerando-se que Merisio não tem mandato eleitoral.