O STF está sempre a surpreender os brasileiros. Na reunião de ontem, da segunda turma da corte, pilotada pelo notório Gilmar Mendes (foto), a pauta foi o julgamento da suspeição do juiz Sérgio Moro em relação às condenações do ex-presidente Lula da Silva.
Tese advogada pela defesa do petista, alegando que Moro deixou a magistratura para ser ministro do atual presidente. Mas a linha central da defesa foi baseada em mensagens criminosamente hackeadas (e por isso mesmo de impossível comprovação da veracidade do seu teor)! Viva o Brasil!
O julgamento estava 2 a 2 até semana retrasada. Edson Fachin e Carmen Lúcia considerando Moro imparcial. Diferentemente de Gilmar Mendes e Ricardo Lewandoski, que acionaram a metralhadora giratório contra o ex-juiz de Curitiba.
Aí veio o voto de Cássio Marques. Indicado por Jair Bolsonaro, ele surpreendeu e votou com Sérgio Moro. O posicionamento do mais novo integrante do supremo olimpo, aliás, já rendeu leituras de que o atual chefe do executivo preferiria enfrentar o ex-magistrado nas eleições de 2022 do que propriamente ir para a disputa com Lula da Silva.
Aí veio a surpresa das surpresas. Carmen Lúcia anunciou que reformaria seu voto e estabeleceu a suspeição de Sérgio Moro na segunda turma pelo placar de 3 a 2. O que só ilustra o diapasão que rege as decisões na corte, eminentemente político e ao sabor das conveniências.
Sem dúvida uma vitória do ex-presidente, que cada vez fica com mais pinta de candidato.
Agora há dúvidas sobre a extensão da decisão de ontem. Refere-se somente ao tríplex do Guarujá, decisão prolatada por Sérgio Moro quando ainda era juiz em Curitiba ou também alcançaria o caso do Sítio de Atibaia, condenação da lavra da juíza Gabriela Hartd, que substituiu Moro na 13 Vara de Curitiba?
Chicanas jurídicas à parte e acordões inescrupulosos à parte, tal pauta é absolutamente inadequada neste momento tão grave dos pontos de vistas sanitário e econômico. De um lado, o presidente só pensando na reeleição e entrando na politização das ações sobre a pandemia. Do outro, a oposição sedenta por voltar ao poder. Definitivamente, mais um capítulo que segue nos envergonhando como nação, como sociedade. E eue marca a mais absoluta insensibilidade não apenas do STF, mas também da maioria das lideranças políticas. Sejam elas de direita, de esquerda ou de centro.
foto>Evaristo Sá, AFP Photo