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Cooperativas: Na crise ou na bonança

Luiz Vicente Suzin, presidente da Organização dasCooperativas do Estado de Santa Catarina (OCESC) e do ServiçoNacional de Aprendizagem do Cooperativismo no Estado de SantaCatarina (SESCOOP/SC).

As classes econômicas localizadas na base da pirâmide social sofrem um processo de empobrecimento inédito na história recente. A crise econômica que se arrasta desde 2016 e os percalços para o crescimento do País geraram uma elevada taxa de desemprego e de subemprego. As expectativas de uma retomada segura, que se vislumbrava no primeiro trimestre de 2020, foram derrubadas pela eclosão da pandemia e por todas as mazelas que trouxe em seu bojo.

O quadro, inevitavelmente, deteriorou-se nesses 13 meses de crise sanitária no Brasil, deixando ainda mais vulnerabilizados aqueles a quem o serviço social chama de hipossuficientes, ou seja, os destituídos de tudo ou quase tudo. O Governo Federal prudentemente instituiu o auxílio emergencial no ano passado, medida reeditada neste ano por questões fortemente humanitárias.

É inspirador identificar, nesse cenário de dificuldades, o papel das cooperativas dos diversos ramos de atividade no esforço – ora isolado no plano local, ora articulado na esfera regional ou estadual – de mitigar as dores físicas e emocionais desses brasileiros.

Na crise, a segurança alimentar é a primeira preocupação: a história nos mostra que onde grassar a fome não haverá paz social. As 45 cooperativas agropecuárias de Santa Catarina são essenciais para assegurar o preparo de grande parte dos 1,3 milhão de hectares cultivados em território barriga-verde e, consequentemente, contribuem com parcela significativa da safra agrícola estadual que, neste ano, deve render 7 milhões de toneladas, entre arroz, feijão, soja, milho e outros produtos agrícolas. Essa imensa produção rende ao Estado milhões de dólares em exportações, mas, acima de tudo, assegura alimento farto e acessível à população em todas as regiões. Simultaneamente, as cooperativas produzem grãos para a nutrição animal de duas cadeias produtivas que notabilizaram os criadores catarinenses no Brasil e no mundo: a suinocultura e a avicultura.

Nesse particular, é importante notar a questão do alimento acessível. Excetuando-se um ou outro produto que, por questões climáticas, sanitárias, logísticas ou mercadológicas, apresenta-se episodicamente encarecido, de regra a comida no Brasil tem preço entre baixo e moderado. Parte dessa realidade é edificada pelas cooperativas.

Os formuladores de políticas públicas perceberam que a forma mais eficiente de distribuição de renda é o emprego. Contudo, em tempos de baixa atividade econômica e legislação trabalhista complexa, a alternativa é capacitar e instrumentalizar as pessoas para uma atividade viável, sustentável e rentável – mesmo que seja no microcosmo desse pequeno agente econômico. Santa Catarina aderiu a essa fórmula, como comprovam os mais de 500 mil microempreendedores individuais (MEIs) registrados. Esses trabalhadores também podem ser organizados em cooperativas, quando realmente houver uma vocação coletiva para um projeto associativista.

É fato notório e historicamente comprovado que a sociedade em geral e o Poder Público em particular podem contar com o papel solidário das cooperativas em épocas de bonança ou de crise.

LUIZ VICENTE SUZIN

Presidente da Organização das Cooperativas do Estado de Santa Catarina (OCESC) e do Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo no Estado de Santa Catarina (SESCOOP/SC)