É notório que Governo e sociedade trabalham há décadas para elevar a qualidade de vida no campo. Essa é uma questão que ganhou prioridade por várias razões, entre elas, a crescente importância do setor primário e do agronegócio para a economia brasileira. O crescimento da produção agropecuária, a expansão da agroindústria, a conquista de mercados mundiais e o protagonismo nas exportações deram ao universo rural a importância que sempre mereceu.
Conforto, bem-estar e segurança para a família, empresários, produtores e trabalhadores rurais tornou-se ponto central nas políticas de apoio ao setor. Estradas, escolas, postos de saúde, energia elétrica e programas de formação profissional rural tornaram-se investimentos essenciais e imprescindíveis para as comunidades, contribuindo assim para evitar o êxodo.
Uma nova exigência desses tempos de conectividade total e de transformação digital é a internet no campo. Já destacamos aqui que o sucesso no campo é orientado pela ciência. Os resultados obtidos em melhoria da sanidade e no aumento da produtividade, da produção e da qualidade nas áreas da agricultura, da pecuária, da piscicultura, da silvicultura e do extrativismo, entre outros, são integralmente devidos ao emprego de tecnologia.
Todas as ferramentas digitais e as tecnologias disponíveis são acessadas pela internet. Nesses tempos de pandemia, onde todas as ações educativas e instrucionais ocorrem de forma remota, ganha mais importância ainda a reivindicação por internet de qualidade no campo.
Esse anseio do campo ganhou um forte aliado. O secretário Altair Silva, da pasta da Agricultura, Pesca e Desenvolvimento Rural, com aval do governador Carlos Moisés, acaba de apresentar à Assembleia Legislativa um criativo projeto de lei que viabiliza a instalação de redes de fibra ótica para levar serviços de internet com qualidade para o campo.
O projeto de lei autoriza as concessionárias ou permissionárias de distribuição de energia elétrica a compartilharem sua infraestrutura para a passagem de cabos do serviço de telecomunicação nas áreas rurais, sem nenhum custo. A vantagem é que as empresas de telecomunicações não terão que pagar tarifas ou taxas para a utilização desses postes. Em contrapartida, as concessionárias de distribuição de energia elétrica poderão utilizar os serviços de internet gratuitamente. Como se sabe, o aluguel dos postes é um dos maiores impeditivos para a instalação de fibra ótica no Interior.
Os cabos de internet passarão nas principais estradas rurais de Santa Catarina e após a instalação da estrutura de fibra ótica nas estradas rurais, os agricultores contarão com o apoio da Secretaria para fazer a conexão com suas propriedades.
Além dessa importante inovação, o Governo Catarinense disponibilizará recursos para viabilizar a conectividade ao meio rural, com investimentos para viabilizar a instalação nos municípios. A expectativa é de que sejam destinados R$ 50 milhões para atender mais de 20 municípios. Por outro lado, o Fundo de Desenvolvimento Rural (FDR) oferecerá uma linha de crédito especial, com financiamentos sem juros, para que os agricultores conectem suas propriedades à infraestrutura de fibra ótica do município. A conectividade, inclusive, será uma das linhas atendidas pelo novo programa SC Rural, que está sendo negociado junto ao Banco Mundial.
Como se vê, é um projeto integral, pois a questão foi pensada por inteiro. Esse avanço constitui-se em grande conquista para os jovens que vivem e trabalham no meio rural: eles passarão a ter acesso a todos os produtos educacionais, culturais e recreativos ancorados na internet. O Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar/SC) utilizará essa estrutura para intensificar a capacitação on-line dos produtores.
A revolução do conhecimento que a indústria e demais setores da economia absorveram chegará ao campo de forma mais célere pela internet. Será cada vez mais frequente, no futuro próximo, o uso da inteligência artificial, do big data (estuda como tratar, analisar e organizar informações), das impressões 3D, da internet das coisas (uso de sensores para colher dados), blockchain (permite rastrear o envio e recebimento de dados pela internet), automação parcial, identificação e controle por radiofrequência (RFID), realidade aumentada, visão computacional etc. É notório que o emprego articulado dessas tecnologias tem impacto transformador nas cadeias produtivas. Mas tudo isso depende da internet.
Assim, fica patente que internet de boa qualidade é uma condição sine qua non para o desenvolvimento das regiões agrícolas, sem a qual não terá acesso ao conhecimento científico – seja na forma de tecnologia ou de cursos de capacitação.
José Zeferino Pedrozo, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de SC (FAESC) e do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR/SC).