O Governo Federal incentivou durante anos a abertura de novos cursos de medicina em diferentes partes do País. Em Santa Catarina, foram criadas dezesseis faculdades nas últimas décadas. Hoje há oferta de 1.260 vagas anuais – 1.060 na rede privada e 200 Universidades Públicas.
O aumento no número de escolas médicas no País e sua descentralização foram resultado de reivindicação social e tiveram como justificativa a intenção de universalização do acesso e interiorização da presença de profissionais, fomentando o desenvolvimento e a melhora da qualidade do atendimento em saúde. São propósitos nobres, não há dúvida.
Infelizmente, porém, os resultados práticos alcançados mostram que a solução proposta não foi a ideal. De um lado, há faculdades em excesso – e algumas delas em regiões com pouca infraestrutura e condições de ensino que não são as ideais. Para se ter uma ideia, basta dizer que hoje o Estado tem uma escola para cada grupo de pouco mais de 400 mil habitantes. Nos países desenvolvidos, a média é de uma escola médica para cada 1,5 milhão de habitantes. Resultado: o número de médicos por habitante aumentou de forma exponencial, mas isso não foi suficiente para a retenção de profissionais em locais que sofriam – e ainda sofrem – com escassez de especialistas.
Na prática, há médicos, mas falta política pública que permita ao profissional se fixar no interior com segurança financeira e boa infraestrutura. O poder Público, responsável pela oferta de saúde à população, deve assumir a tarefa de atuar de forma objetiva para melhorar a qualidade de formação dos novos profissionais e, em paralelo, as condições de trabalho em diferentes regiões. Isso, mais do que despejar milhares de novos profissionais no mercado a cada ano, é que poderá garantir a interiorização de profissionais.
O médico conhece a fundo a realidade do setor – afinal é ele o profissional responsável pelo contato direto com o cidadão (com o essencial apoio, claro, de enfermeiros e enfermeiras, técnicos e pessoal administrativo de hospitais, clínicas, laboratórios e outras estruturas de atendimento). Por isso, entidades representativas como o Conselho Regional de Medicina, a Associação Catarinense de Medicina e o Sindicato dos Médicos devem ser ouvidos pelo Executivo e pelo Legislativo nas discussões sobre o tema. Há um fato inegável: sem a participação do médico nesse diálogo, não há chance de sucesso na criação de políticas públicas que melhorem de forma efetiva a saúde no País.