Blog do Prisco
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A era dos ressentidos e o populismo.

 

Vivemos uma quadra histórica de crescente insatisfação das massas.

Contraditoriamente, a era em que a ascensão social passou a ser possível ao maior número de pessoas desde que mundo é mundo.

Em que época da história da humanidade em que alguém com um telefone celular na mão e um canal gratuito no YouTube poderia ascender da pobreza à riqueza em meses que não essa ?

A questão é que essas facilidades dos atuais tempos trouxe à reboque o ressentimento da imensa maioria que não consegue o sucesso financeiro aparentemente tão mais fácil [se comparado a outras épocas o é ao-menos-menos-difícil, embora continua sendo uma realidade para poucos proporcionalmente a toda população].

Lado outro, as pessoas mais carentes, que vivem de programas sociais, ao receber o básico passam naturalmente a querer mais. E quando alcançam mais, como um emprego de carteira assinada, passam a se ver como pagador de tributos para benefícios que não os tocam mais diretamente e a se ressentir de passar a ser “o pagador da conta”.

Não bastasse esse estado de coisas, quando se volta os olhos aos noticiários se vê reiteradamente a classe política, das esquerdas às direitas, mergulhadas nas páginas policiais por questões de corrupção.

Sente-se assim a população roubada. O que de fato é um sentimento verossímil.

Nessas circunstâncias, revoltas pessoais com os detentores do poder, com o político tradicional, aumenta. Atingindo também os honestos, tanto das direitas às esquerdas.

Aflora nesse contexto um sentimento constante por mudanças, na velocidade de um mundo 5G, em que o sucesso precisa ser para ontem.

Assim, figuras que conseguem se comunicar com as massas e se por firme “contra tudo que está aí” acabam canalizando esses sentimentos em torno de si com promessas vazias, populistas, mas o mais importantes, que provenham das novas e não das velhas maculadas bocas do “establishment”.

No viés do Judiciário, muito que se tem de revolta em relação ao “Supremo”, não raro provém de uma contenda judicial mal resolvida. Afetos e desafetos encadeados num pensamento automático subconsciente que alerta que litigar é ruim, logo quem decide também o é [é o sistema subrepetício cerebral operando com a profundidade de um pires, mas causando estragos nas emoções e nas lentes que cada um e todos enxergam o mundo].

No Brasil há em média 2 processos por pessoa, o que significa dizer que há tanta disputa pelos chamados “bem da vida” que não há estrutura judiciária física e moral que possa contentar a todos. Até porque a escassez efetiva de bens para contemplar os infinitos desejos da população é uma tônica invariável.

As Instituições tradicionais precisam, com urgência, melhorar e muito sua forma de comunicação com o público, investir em transparência e buscar andar em compasso com uma sociedade que odeia privilégios sem mérito, que se ressente de não está no topo dos “likes” em redes sociais, e que se encontra alienada acreditando que todos têm uma Prosche e viajam para todo lugar do mundo a todo tempo, e com uma beldade ao lado.
A ilusão criada pelas redes sociais, de vida fácil de milionário para geral, entrelaçada a noticias da mídia tradicional que não se cansa de mostrar corrupção em órgãos oficiais gera um turbilhão de revolta numa massa que julga menos difícil “se livrar do que está aí”, e nisso, figuras autênticas com redes sociais com muitos seguidores [pouca importa se boas ou ruins, o importante é ser diferente de quem-já-está-lá] projetam-se como nunca antes.

Isso são fatos já constatados.

Mas, o que mais preocupa, é a próxima etapa, quando as pessoas sentirem que também quem-não-está-lá quando passar a estar não resolver seus anseios. E vai chegar o dia que isso vai ocorrer.

Daí então, das duas uma, eclodirão revoluções nas proporções do que se teve entre 1600 e 1940, ou se voltará a um mundo mais lento e paciente, isso é se sobrar um mundo após isso vir a ocorrer.