A partir da revolução de 1964, os militares implantaram o bipartidarismo no país. Antes desse período que durou 21 anos, havia partidos políticos com claras orientações programáticas e ideológicas. Existia uma tal de identidade partidária.
Vamos nos ater somente nas três principais siglas da época. Duas delas, aliás, criadas pelo ditador Getúlio Vargas. O PTB, Partido Trabalhista Brasileiro, e o PSD, Partido da Social Democracia. A UDN, União Democrática Nacional, fazia oposição à esquerda.
O eleitor daqueles dias, quando ia votar, caso tivesse dúvidas ou não soubesse em quem depositaria sua confiança na eleição proporcional (deputados federais e estaduais; ) se ele era udenista, pessedista ou petebista, o cidadão não titubeava. Olhava a nominata do seu partido e escolhia um nome. Simples assim.
Não havia a menor possibilidade de votar em candidato que não fosse da legenda pela qual ele tinha simpatia ou militância.
Geleia geral
A realidade atual é completamente distinta. E não por culpa do eleitor e sim da condução viciada de lideranças políticas que emergiram na redemocratização. Não existem mais partidos sólidos, com verdadeira identidade programática.
Marca registrada
Peguemos como exemplo o MDB. Está sempre no poder. Sempre. Seja com FHC, Lula, Dilma ou mesmo com Itamar Franco. Partido absolutamente fisiológico. Houve um lapso de moralidade nos últimos quatro anos, mas isso agora é história. Outra legenda que “ganhou” este status, de fisiologista até a medula, é o PSD, dirigido por Gilberto Kassab.
Linha
O catarinense Jorge Bornhausen foi presidente, por 14 anos, do PFL. Havia uma linha clara de atuação e de postura da falecida legenda.
Oposição
O Partido da Frente Liberal nasceu como dissidência do PDS por lideranças que não concordaram com o apoio à candidatura de Paulo Maluf à presidência contra Tancredo Neves no colégio eleitoral de 1985.
Venceu e não levou
Os futuros pefelistas apoiaram Tancredo, que venceu o pleito indireto, mas não assumiu. Baixou o hospital na véspera. José Sarney foi empossado no dia seguinte.
Nomenclatura
Voltando a JKB, ele fez a transição do PFL para o DEM. Entregou a presidência para um jovem parlamentar que ele identificava com grandes perspectivas para a renovação. Era Rodrigo Maia que foi, na verdade, uma estrondosa decepção.
Dupla
Certa feita, Bornhausen confidenciou ao colunista que ficou dividido entre entregar o partido a Maia ou a Gilberto Kassab.
Outra frente
JKB indicou Kassab para vice de José Serra na eleição para a prefeitura de São Paulo em 2004.
Serra havia sido derrotado por Lula da Silva em 2002 na sucessão de FHC. Bornhausen impôs o nome do vice ante algumas reações ao indicado. Se Serra não aceitasse, o PFL não o apoiaria.
Escalada
Dois anos depois Serra renunciou para concorrer ao governo paulista, pleito que conquistou em 2006. Gilberto Kassab assumiu a prefeitura e se reelegeu em 2008.
Na alma
Rememoramos estas passagens para ilustrar este personagem, que hoje é o mais completo fisiologista deste país. É o protótipo do dirigente partidário oportunista de carteirinha. Já aprontou várias vezes.
Duas canoas
A última agora é entrar no governo de Tarcísio de Freitas, bolsonarista de quatro costados. Vai ser secretário do governo para fazer a articulação política com a Assembleia Paulista.
Boiada
Em São Paulo começa o reforço do PSD. Kassab está arrebanhando para o seu partido o espólio do PSDB. O PSD renasceu com Kassab esvaziando justamente o DEM, sucedâneo do PFL.
Já no plano nacional, Kassab apoia Lula e fala até em indicar ministros do presidente que saiu das urnas. Definitivamente, temos que fechar para Balanço.
foto>Renato S. Cerqueira, Futura Press