Depois do passeio presidencial de domingo no Distrito Federal, ficou muito clara a estratégia de Jair Bolsonaro. Ele atua em dois fronts: para derrubar o seu ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. Como não vê condições de demitir o colaborador sumariamente, o titular da pasta está fazendo um bom trabalho e tem boa aceitação, ainda mais considerando-se o quadro geral de pandemia, o presidente está criando fatos para lhe encurralar.
No sábado, houve uma reunião tensa da cúpula. Mandetta teria dito que se o presidente fosse ao metrô de São Paulo ou frequentasse o transporte coletivo de Minas Gerais, como havia acenado na semana passada, ele seria obrigado a criticá-lo publicamente. Ato contínuo, bem ao seu estilo, Bolsonaro rebateu que neste contexto, teria que demití-lo.
O périplo irresponsável do presidente no domingo foi uma isca. Só que, ao que tudo indica, Mandetta não está disposto a mordê-la. O time do ministério está fechado com ele. Conselheiros tem pedido para ele permanecer na missão, tendo em vista o delicadíssimo momento que atravessamos.
Neste fim de semana o titular da Economia, Paulo Guedes, também deu o ar da graça. Salientou que, como cidadão, gostaria de ficar em casa. Ou seja, todo o governo vai numa direção e Bolsonaro, noutra. Por que?
Além de desejar a exoneração de Mandetta, o presidente da República também raciocina o seguinte. Se a economia definhar, vão tentar culpa-lo e apeá-lo do poder. Daí a insistência na questão do trabalho. Jair Bolsonaro está se agarrando na premissa de que não haverá muitas mortes no Brasil. Agora, se houver, ele fica muito enfraquecido.
Caso contrário, não vão poder usar o argumento de tirá-lo do poder por omissão, muito pelo contrário. Balizado por 2022, o presidente está tentando reconstruir suas linhas de apoio. Não é por acaso que ele está de olho nos 38 milhões de autônomos; nos caminhoneiros e nos micro e pequenos empresários.