Artigos

A LIBERDADE

Estou avançado na idade e sempre escolhi meus caminhos. Andei livre a voar em pensamentos, muito além do que meus curtos passos permitiam. Nunca dei valor, pois como o ar que respiro, não me dava conta de sua essencialidade. Hoje aprendi que só sentimos falta de algo, quando não mais se tem.
Quando a tirania comparece, a liberdade se afasta. Os que estão, não por mérito, “sin permiso”, investidos de convenientes achismos, sem estarem alicerçados em justos parâmetros, afetam sobremaneira cidadãos, enlameando o arcabouço legal, alastrando a insegurança jurídica e assim provocam incertezas, medo e o império do caos.
Diante do cenário, num piscar de olhos vimo-nos sufocados, quando o natural direito de expressão foi se apagando, frente à sentenças descabidas, flagrantemente desproporcionais ou insanas, com o firme propósito de intimidar. A força do ditador reside no medo do povo. Primeiramente, percebemos pessoas falando baixinho, olhando pros lados, medindo palavras e se auto-policiando. Logo o receio se embrenhou pelos grupos sociais, surgindo restrições e temas proibitivos. Chegamos à antessala dos regimes totalitários, onde irmão incrimina irmão. Qual peste se alastrando, a sensação de medo permeou por um período e nem as cívicas manifestações mais houveram. E de repente passamos a nos incomodar com as censuras, punições, sentenças provindas do arbítrio e a nítida sensação de uma bruma que lentamente se espraiava, asfixiando a todos.
Esta nação que já carregou em seus ombros o pesado fardo da escravidão e portanto, pensava estarmos plenamente afastados dos grilhões. Eis que desgraçadamente resvalamos novamente rumo à escuridão. Agora não mais o sofrimento físico, mas alcançamos o requinte da prepotência, o calar da voz. Nunca antes, tantos se uniram para num sórdido conluio, tentarem amordaçar um povo. Segmentos, influenciadores, parcelas significativas da sociedade e instituições foram majoritariamente cooptadas no mais vil dos propósitos, o de silenciar os oprimidos.
Nessa prática autoritária, o que vale é a narrativa, incessantemente repetida, criando pseudoverdades que procuram moldar pensamentos e alterar comportamentos. A sanha ideológica chegou ao ponto de não ter mais volta, se tornou irreversível. Tudo isso é fruto de nossa isenção, baixa combatividade no campo das ideias e a clara omissão por parte das instituições.
Faz-se necessário o contraponto, um hígido posicionamento por parte daqueles que comungam dos mesmos ideais, no intuito de evitar que o mal se alastre, pondo novamente a carruagem na trilha. Não dá mais pra se ausentar, postergar ou fingir que não é comigo. Esse comportamento de isentão, foi o que nos trouxe ao atual estágio. A anomia coletiva foi o campo fértil onde prosperou a insensatez.
A reação ressurge com as últimas manifestações gigantescas e a plena convicção de que todo o poder emana do povo. “Liberdade! Liberdade! Abre as asas sobre nós!”. E que tua sombra revigore a esperança dos que sonham, livres. Aos cidadãos não cabe a submissão, pois mesmo quando de joelhos, haverão de se levantar.
Calar a boca, jamais. Liberdade não se implora, não se ganha, se retoma… Nelson Weber

Sair da versão mobile