Você já ouviu falar do Índice Geral da Paz? O GPI, na sigla em inglês, é considerado a principal medida mundial de paz, elaborado pelo Instituto de Economia e Paz, Institute for Economics and Peace (IEP), uma organização de pesquisa global sem fins lucrativos com sede na Austrália.
A Islândia é o primeiro país no ranking do Índice Global de Paz, que classifica 163 países de acordo com seu nível de violência.
Nesse mesmo ranking divulgado anualmente há 15 anos, sendo a última edição publicada em junho de 2021, o Brasil mantém uma avaliação estável segundo os critérios da própria organização do estudo, ocupando a posição 128 em 2021 e 126 em 2020. Esse período equivale ao crescente registro de armas de fogo junto ao Exército e a Polícia Federal que dobrou no mesmo ano, conforme o Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Quando analisamos o mesmo ranking entre os anos de 2019 e 2020, constatamos que o Brasil obteve uma piora de 10 posições, passando de 116 para 126.
Alguns poderiam argumentar que a pandemia e medidas de isolamento contribuíram para estancar essa queda na violência, o que não procede, já que o mesmo relatório afirma que justamente a pandemia do Covid-19 contribui para a deterioração da paz global, incentivando conflitos civis e polarizações políticas.
Mas, voltando à Islândia, o país ostenta a quarta posição do ranking de Desenvolvimento Humano (IDH) da ONU, enquanto o Brasil se apresenta na 84ª posição. Seu PIB per capita ultrapassa os 59 mil dólares, enquanto o Brasil não chega aos 7 mil. Na terra do gelo e do fogo, a tensão econômica entre as classes sociais é inexistente. Lá, praticamente não há diferença entre classes, levando-se a crer que a igualdade é um dos grandes fatores para a ausência de transgressões graves. Justamente num país que defende o armamento civil e que não relaciona o número de homicídios ao uso de armas de fogo.
Olhando agora para o Brasil, o relatório GPI divulga um dado que chama atenção. Somos o país que registra o maior medo de violência: 83% dos brasileiros classificam-se como muito preocupados em serem vítimas de um crime violento.
A segurança é a segunda maior necessidade humana, conforme a conhecida “Pirâmide de Maslow” (Abraham Maslow, 1908-1970), que corresponde à segurança da família, do corpo e da propriedade, ficando atrás apenas da necessidade de comida, água, abrigo e sono.
Se estamos num dos países menos pacíficos do mundo, é razoável que o porte de armas possa ser uma opção à população que vive com medo e tem como necessidade básica a segurança.
Pesquisas e dados estão disponíveis para argumentação. Mas associar índices de criminalidade exclusivamente ao porte de armas é o mesmo que chover no molhado e pouco estamos ganhando com essa interminável discussão.
Inspiramo-nos então em países como a Islândia. Que tal mudarmos o ponto de vista e começarmos a avaliar outros fatores que influenciam a violência, como impunidade e circunstâncias socioeconômicas, numa análise e discussão produtiva para o nosso país.
Congressos, seminários e eventos do setor de defesa e segurança do Brasil, podem e devem estressar estudos e dados que tragam insights e uma nova visão para a construção de estratégias e iniciativas que promovam a segurança para a população civil e militar, essa última dentro do âmbito operacional, garantindo a proteção do indivíduo, da família, do patrimônio e da liberdade de escolha. Os cidadãos não podem mais ficar à margem do crime organizado, que se fortalece nas desigualdades do nosso país, enquanto deixamos de apontar soluções para tomarmos o rumo do desenvolvimento.
Os eventos que organizo anualmente, desde 2017, o Congresso Internacional de Operações Policiais (COP) e o World Combat Conference (W2C) buscam esses objetivos, ao reunirem as principais referências e autoridades da área de segurança pública do país e do mundo e um público interessado e com energia focada em melhorar o país em que vivemos. Essa é umas das minhas contribuições para um amanhã mais pacífico para o nosso país. A mudança já começou, que sigamos no caminho.