O posicionamento absolutamente fechado dos cinco desembargadores que julgaram o segundo pedido de impeachment de Moisés da Silva – todos eles pela continuidade do processo e consequente afastamento do governador – enseja algumas leituras sobre o contexto político do momento.
Não se pode descartar a hipótese de que os magistrados ficaram profundamente incomodados com as idas e vindas na relação entre Moisés e os deputados estaduais.
O primeiro processo de impedimento visava a degolar o titular do Executivo e a vice-governadora, Daniela Reinehr, que agora assume interinamente mais uma vez.
Como não houve êxito na empreitada, o governador e os parlamentares se tornaram amigos de primeira hora, com deputados compondo o primeiro escalão e indicando nomes para cargos de segundo e terceiro escalões. A abertura foi tão brusca e generosa, que os três maiores partidos do estado agora têm assento e posições estratégicas na máquina estatal. Não se pode perder de vista, contudo, que se o governador mantiver os quatro votos dos deputados que o apoiaram nesta rodada, ele não será cassado.
Todos juntos
Dois deles, PP e MDB, sempre foram arquirrivais e agora participam do mesmo governo!
Não seria absurdo conjecturar que os magistrados deram agora sua resposta a este quadro, digamos, pouco republicano.
Alô, presidente
Os cinco juízes também podem ter aproveitado a situação para mandar um recado ao presidente do Tribunal de Justiça e do tribunal especial de julgamento, Ricardo Roesler.
Ao final das contas, ele não precisou votar, como ocorrera no primeiro impeachment. Contudo, se Roesler fosse obrigado a desempatar, ele teria que escolher entre ficar ao lado do governador ou de seus colegas de corte.
Holofotes
O presidente do TJ não precisou votar porque o deputado Láercio Schuster encarnou o papel de Sargento Lima da vez. Destoou de seus pares, se posicionado pela continuidade do processo. Foi o voto decisivo para o desfecho. E também para dar holofotes a Schuster.
Clima pesado
Outra leitura a partir do resultado. Já se sabia, nos bastidores, que o ambiente no Judiciário não era favorável ao governador. O que pode explicar o movimento do deputado Valdir Cobalchini que, lá atrás, pediu para que o tribunal especial tivesse acesso a todas as informações do processo sobre os respiradores fantasmas que tramita no STJ.
Tempo ao tempo
Apostava-se, ainda, que o relator do processo na corte superior, ministro Benedito Gonçalves, poderia se posicionar antes do julgamento, o que ajuda a entender, ainda, o adiamento da sessão desta sexta-feira. Ocorre que Gonçalves concedeu mais 30 dias de prazo para o Ministério Público investigar a participação do governador, prolongamento que pode ter atrapalhado Moisés da Silva.
Exonerado
Eron Giordani, indicado por Júlio Garcia à Casa Civil do governo estadual, já pediu exoneração. E declarou que mais adiante será possível trazer à tona informações que explicariam o encaminhamento do tribunal especial. Não se sabe se ele se referiu à decisão do deputado Láercio Schuster, que tem base próxima a de um outro parlamentar que tem muito trânsito no Centro Administrativo, Jerry Comper; ou se o recado foi endereçado aos cinco desembargadores. O tempo dirá.
Que hora!
Agora o quadro é delicadíssimo. Trocar, de novo, de governador no pico da pandemia, com todos as regiões em situação gravíssima, ajuda no combate à Covid19? Obviamente que não. Como fica, por exemplo, o secretário de Saúde, André Motta Ribeiro. Vai permanecer ou não?
A conferir os desdobramentos nas searas políticas e sanitária nos próximos dias.