Sou velho aos olhos dos outros. Na minha percepção, sou resultado da soma de todas as idades, já por mim vividas. Carrego comigo as etapas anteriores e essas afloram, no dia a dia. Quando me ofendem por senil é a criança dentro de mim que se manifesta. Aos assombrados com minha sensatez, esquecem-se da sobeja experiência adquirida. Os que depreciam a fragilidade do corpo que arrasto, desconhecem as minhas milhas percorridas. Aos filhos , quando hoje ele repete suas histórias, lembrem-se da paciência que ele tinha, quando vocês crianças repetiam reiteradas vezes a mesma pergunta. O episódio enfadonho para os outros lhe é deveras importante, pois são fragmentos de uma vida.
Pra você, eu sou o que vês, para mim sou toda a jornada vivida, segmentada nas diversas quadras. Entre o teu olhar e a minha existência, há bem mais do que aparento. Então, quando ao se deparar diante de idosos, respeite-os, pense duas vezes antes de proferir qualquer preconceito, pois as águas à tua frente, apresentam-se bem mais profundas…
Por outro lado, embora o cérebro continue pensando como sempre fez, o corpo não mais corresponde às expectativas. Portanto, devemos ter em mente que as limitações são reais e nos impedem de fazermos muitas atividades, as quais, regularmente fazíamos. Devemos nos conscientizar diuturnamente, que não podemos nos tornar um fardo aos mais próximos. A dinâmica atual, não permite que familiares se disponibilizem a nos cuidar. Eles têm seus afazeres inarredáveis e simplesmente não podem largar tudo, para nos tratar. Não significa ingratidão, mas sim de viabilidade concreta frente aos encargos individuais. Por isso, a preocupação com acidentes deve ser constante. Uma simples troca de lâmpada, outrora tão corriqueira, deve ser sobrepesada em suas possíveis consequências. Um tombo na pequena escada ou o simples movimento brusco de olhar para a lâmpada acima, pode causar vertigem e sofrer quedas que podem levá-lo ao leito, necessitando cuidados hospitalares. Devemos afastar o sentimento de que somos inúteis, querendo ser prestativos realizando trabalhos inadequados à idade, pois o risco de realmente nos tornarmos um peso para a família, é bastante factível.
Assim, devemos nos cercar de todos os cuidados, olhar várias vezes para os lados, quando atravessar a rua. Colocar pegadores nas paredes dos banheiros. Retirar tapetes, que fatalmente enroscam. Abster-se de levantar pesos desnecessários. Ter cuidados especiais com a alimentação, restringindo açúcar e álcool. Evitar comidas pesadas à noite ou em horários avançados. Criar o hábito de beber constantemente água, mesmo que não sinta sede. Não dirigir por períodos muito prolongados. Manter assídua as atividades físicas, dentro de suas condições e mesmo que tenha determinadas limitações. Enfim, cada um particularmente deve avaliar sua rotina diária e condicioná-la racionalmente para evitar problemas e otimizar ao máximo nossas performances, às vezes restritas.
Por último, devemos levar em conta que o declínio do corpo é real e despertarmos para a transcendentalidade, que a jornada não termina aqui e continuaremos noutro plano o desenvolvimento espiritual, levando na bagagem o essencial , fruto de nossas histórias de vida. É isso o que realmente nos diferencia como humanos, pois fomos criados à Sua semelhança…
Nelson Weber