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A VIOLÊNCIA ENTRE CINCO PAREDES

Professor SILVIO LUZARDO, psicopedagogo.

A violência doméstica é uma realidade tão amarga que fica difícil às pessoas normais encontrarem justificativas para ações sinistras, carregadas de maldade, que são perpetuadas com uma frequência assustadora no cotidiano do tecido social brasileiro. As atrocidades cometidas contra mulheres e, em especial, contra crianças e adolescentes enchem de horror as manchetes e sobre elas se debruçam especialistas, sociólogos, educadores e a comunidade procurando encontrar respostas. Em vão, não encontram. Aliás, nem animais praticam tal virulência, com tamanho grau de crueldade

O que há, realmente, atrás dos elevados índices de violência doméstica, enquadrando aí também milhares de mulheres que são molestadas e violadas pelos companheiros? Como é possível a um homem ou uma mulher, por vezes, desenvolver a capacidade destrutiva e homicida contra um ser inocente e indefeso? Acredito que é um conjunto de fatores dentro de um sistema social decadente, o nosso. Vemos o Estado assistencialista se apropriando das funções da família (creches, bolsas famílias), onde se identifica a alienação dos valores afetivos, a incapacidade de avaliar um problema de forma coerente, a confusão mental no exercício dos papéis sociais, a inexistente tolerância para lidar com situações de liderança no núcleo família através do exemplo. O “pátrio poder”, incompreensível, nesse ambiente. Definindo: entre essas quatro paredes podemos lançar mão de mais uma parede, que atrofia, que macula, que mata, que adultera. Sim, a ignorância, o vírus que agride e contamina o afeto.

A parede a que me refiro, divide a convivência, separa o entendimento, cancela o carinho, espanta para longe a harmonia e a esperança. A parede surge como um muro intransponível nas relações humanas e sociais. Eis o muro lacrado, incapaz de raciocínio logico, de respeito, de compreensão. O muro pode ser a parede interna de um barraco, uma casa, uma mansão, ou de uma ideologia. Tivemos muros que separaram fisicamente a Alemanha pós 2ª Guerra, o muro da segregação racial, o muro que inibe a migração de pessoas em busca de qualidade de vida até e, principalmente, o muro que existe dentro das pessoas alienadas de qualquer nível social.

Sem dúvida, é dentro de casa, na realidade brasileira, que a violência se esconde e se declara, onde ela vocifera contra a mulher e contra os filhos. Onde a força supera o bom senso, onde o álcool projeta seu efeito noviço, onde a ignorância, o quinto muro, se apresenta com sua envergadura e seu poder destrutivo, sua fúria e seu desprezo pelo ser humano que gerou ou que lhe cabe encaminhar na vida.

Parece simples, não é? Se repete isso há décadas! Só a educação salva! Mas, no Brasil, a educação está atrelada ao retrocesso das políticas públicas. E para erradicar esse muro, somente uns 50 anos pela frente de prioridade nacional, respeito e dignidade pelo ser humano, pelo cidadão, pelo bem da Nação.

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