O lastimável espetáculo midiático do domingo, 17 de abril, na votação da admissibilidade do processo de impeachment de Dilma Rousseff na Câmara dos Deputados superou em audiência – e bizarrice – qualquer matéria já vista no Fantástico ou no Domingo Espetacular. A coisa estava mais para um Topa Tudo Por Dinheiro com audiência de Copa do Mundo.
Mas, no caso, quem perdeu de 7 a 1 foi a consciência cívica brasileira – se é que isto ainda existe. Sim, porque os atores da pantomima (como já se referira Fernando Collor à mesma edição do ‘programa’, lá no Vale a Pena Ver de Novo de 1992) foram por nós eleitos, e em termos de legitimidade, a todos nós representavam.
Tudo farinha do mesmo saco
E se é pouca, meu pirão primeiro! Também, quem mandou o time do PT aliar-se à ‘seleção’ do PMDB – e aí vai a escalação dos onze titulares: Temer, Sarney, Renan, Jader, Jucá, Cunha, Moreira, Pezão, Paes, Piccianão e Piccianinho. Tá certo – ou tá errado? – que o Piccianinho marcou o gol contra, mas… – esta falha não prejudicou o resultado do nosso trabalho de equipe… deviamos ter escalado o Cabral ou o Geddel no lugar desse aspirante…
Quer que eu desenhe?
Peraí! Mas quem é que está falando de futebol? O assunto aqui é política! Então, vamos explicar direitinho. No presidencialismo ‘de coalizão’ (para lembrar o termo favorito do ex-craque George W. Bush), não tem jogo se você não formar um clube dos treze, ou quatorze, ou dos vinte e cinco. E olha que está fácil, pois temos, hoje, 35 opções no plantel partidário.
Mas… sempre tem um mas… o que dizer de cada uma delas se, na foto, as opções parecem todas iguais? Ninguém consegue distinguir o ponta-esquerda do ponta-direita, o beque central do centroavante. Dá para distinguir só o goleiro – aquele ali de chuteira vermelha… o Cardozão – e, ainda assim… – tem um monte de gente na torcida vaiando ele… Parece que são de outra corrente no meio da torcida organizada.
E tem outra coisa sinistra… – a técnica Dilma montou praticamente toda a equipe reserva com base naquele timinho que nem existia quando ‘a liga’ criou o campeonato… – o PSV Eindhoven? – Não, o PSD do Kassab. O coach FHC diria… – assim não dá, assim não pode.
No fim do jogo, a gente ainda teve que aturar aquela chatíssima resenha esportiva com os boleiros mandando beijinhos para as câmeras: – Alô, Mamãe! – Alô, Marcilene! – Alô, amigo suplente Uóston! – Alô, meu querido pai Jefferson! E por aí foi o circo de horrores…
Na moral
Agora, sem o Bial no dial, vamos falar sério. A presidenta fez um gol quando, no calor dos protestos de 2013, antes de sua reeleição, falou em constituinte exclusiva e reforma política. O problema é que ninguém mais ouviu, naquele momento, a voz rouca das ruas… e ficamos diante – como nunca dantes – dos discursos de nossas excelências (… ou seriam excrescências?) em todo o seu paroquialismo, patrimonialismo e papagaísmo.
Em 2014, antes das eleições daquele ano, o Observatório da Comunicação Institucional realizou uma pesquisa sobre o discurso dos partidos políticos brasileiros. Analisou o que todos à época (eram, então, 32 siglas) diziam sobre si mesmos na grande rede, a internet. E o que se concluiu? Duas coisas: (1) Que TODOS os partidos se comunicam muito mal com a cidadania, e (2) Que os partidos, TODOS, não se distinguem uns dos outros perante o eleitorado. Todos falam mal e todos falam a mesma coisa. Ora, se a comunicação – que é a ponta do ‘iceberg’ – mostra tão graves defeitos é porque toda a montanha de gelo (que não vemos), o ‘corpus’ partidário, está defeituoso. E os partidos são, simplesmente, as principais instituições de uma democracia representativa!
Diante de tais achados, não percamos mais tempo! Game Over, Tilt, Reset. É preciso, ‘político-partidariamente’ falando, refundar a República Federativa do Brasil-il-il!!!
Manoel Marcondes Machado Neto, presidente do Observatório da Comunicação Institucional