Pesquisa inédita do Observatório Febraban revela que 70% já ouviram falar em hiperinflação e 64% associam o termo ao passado, indicando que o Brasil já não vive mais essa realidade
Passados quase 30 anos do lançamento do Plano Real, os brasileiros mantêm o apoio ao programa de estabilização de preços, de 1994, consideram que ele foi um sucesso, mas admitem que a inflação ainda é uma preocupação permanente da sociedade. A maioria da população (66%) acredita que os brasileiros “continuam muito preocupados” com a inflação e 79% opinam que a inflação “deve ser uma preocupação permanente da sociedade e do governo”. É o que revela a 15ª edição da pesquisa Observatório Febraban feita pelo Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (IPESPE) para a Febraban.
Além disso, 71% dos brasileiros opinam que ele “continua importante, pois lançou as bases para uma economia mais sólida e estável”. Aqueles que avaliam que “com a economia brasileira estável a inflação deixou de ser uma preocupação prioritária” somam apenas 15%.
Realizada entre os dias 3 e 9 de dezembro de 2023, com 3 mil pessoas nas cinco regiões do País, a pesquisa aborda a perspectiva dos brasileiros sobre os 30 anos do Plano Real e a inflação. O levantamento inédito procura investigar o que pensam os brasileiros a respeito do Plano e o que a geração que nasceu nos anos seguintes, e não viveu o Brasil da hiperinflação, sabe do Plano Real. A pesquisa também apura as opiniões específicas em cada uma das cinco regiões brasileiras.
Em uma sociedade que conviveu com níveis altíssimos de inflação – que fechou 1993 em 2.477% –, a escalada de preços ainda está na memória: 70% já ouviram falar em hiperinflação e 64% associam o termo ao passado, indicando que o Brasil já viveu, mas não vive mais, essa realidade.
A memória da hiperinflação, contudo, mostra-se difusa mesmo nas gerações contemporâneas ao Plano Real. Entre os que ouviram falar, 37% lembram o que é hiperinflação e 33% não lembram. Essa lembrança e o conhecimento sobre hiperinflação (“já ouviu falar e lembra o que é”) são maiores nas faixas a partir de 45 anos (45 a 59 anos: 45%; 60 anos ou mais: 46%), e menores entre os mais jovens (18 a 24 anos: 26%; 25 a 44 anos: 33%).
O levantamento mostra que, mesmo com a economia estabilizada, quase metade dos brasileiros (47%) avalia que o Brasil vive atualmente uma inflação alta ou muito alta. Perguntados sobre qual a taxa acumulada da inflação em 2023, um terço dos entrevistados (34%) acham que é maior do que efetivamente é. Um quarto (26%) indica um número entre “3% e 5%”, próximo à projeção do último Boletim Focus para o IPCA (4,51%), divulgada pelo Banco Central.
“A Inflação é um imposto perverso, atinge as famílias, dificulta o cálculo empresarial, eleva o risco da economia, tira a previsibilidade do investimento de longo prazo, reduz o consumo de bens e serviços e, particularmente, penaliza as camadas mais baixas da população. A notícia boa desse levantamento é que, felizmente, o brasileiro compreendeu a importância de combater a inflação e manter os preços estáveis”, diz Isaac Sidney, presidente da Febraban, que alerta: “Mas a inflação é um gato de sete vidas: ela precisa ser controlada, pois volta quando baixamos a guarda.”
“O Plano Real e o Bolsa Família são vistos como as duas principais marcas da economia brasileira na Nova República. O que significa que a estabilidade da moeda juntamente com as políticas sociais são ambas valorizadas como as mais relevantes alavancas do nosso desenvolvimento”, avalia o sociólogo e cientista político Antonio Lavareda, presidente do Conselho Científico do IPESPE.
A íntegra do 15º levantamento Observatório Febraban, pesquisa Febraban-IPESPE, pode ser acessada neste link.
Abaixo, seguem outros resultados do levantamento:
CONHECIMENTO E OPINIÃO SOBRE O PLANO REAL
Bolsa Família e Plano Real disputam o primeiro lugar como programas mais importantes para a economia brasileira nas últimas décadas, em uma lista de doze programas ou ações reconhecidas por especialistas como relevantes para o desenvolvimento econômico e social do país:
26% – Bolsa Família
23% – Plano Real
15% – Abertura da economia para o comércio internacional
9% – Auxílio Emergencial
5% – Entrada do Brasil no BRICS
3% – Lei de Responsabilidade Fiscal
3% – Descoberta do Pré-Sal
2% – Reforma Trabalhista
2% – Reforma da Previdência
2% – Reforma Tributária
2% – Programa de Aceleração do Crescimento, PAC
1% – Programa de privatização das telecomunicações, energia e siderurgia
1% – Nenhum
6% – NS/NR
CRUZEIRO X REAL
Enquanto o Cruzeiro é a moeda mais lembrada em associação aos períodos de maiores taxas inflacionárias no país, o Real aparece consolidado no imaginário da população como a moeda que marcou a estabilidade da economia.
Pouco mais de um terço (35%) citam acertadamente, em pergunta estimulada, o Cruzeiro como a moeda em vigor quando o país enfrentou as taxas mais altas de inflação. E 48% mencionam outras moedas, incluindo o próprio Real (19%), o Cruzado e o Cruzado novo (ambos com 14%).
Em outra questão estimulada, sobre qual moeda está associada a menores taxas de inflação e à estabilidade da economia, 70% dos respondentes citam o Real. Os demais 30% se distribuem em menções, com menos de dois dígitos, a outras moedas.
CONHECIMENTO DO PLANO REAL
Sob estímulo, o conhecimento do Plano Real (“já tinham ouvido falar”) é de 80%, enquanto 15% dos brasileiros nunca ouviram falar do Plano Real ou não souberam responder (5%).
A avaliação retrospectiva e atual do Plano Real é majoritariamente positiva. Cerca de oito em cada dez entrevistados (77%) avaliam o Real como ótimo ou bom, após quase 30 anos de implementação. Outros 18% o consideram regular e apenas 2% expressam uma opinião negativa.
IMPORTÂNCIA DO PLANO REAL
Numa lista de oito aspectos, pelo menos 70% dos brasileiros avaliam o Plano Real como muito importante ou importante:
- Estabilização da moeda e da economia (89%)
- Crescimento do país (88%)
- Melhora do poder de compra (85%)
- Vida pessoal e de sua família (83%)
- Geração de emprego e renda (81%)
- Confiança do país no Exterior (80%)
- Atração de investimentos (80%)
- Diminuição das desigualdades sociais (70%)
PERCEPÇÃO SOBRE A INFLAÇÃO NO BRASIL
66% dos entrevistados acreditam que os brasileiros “continuam muito preocupados” com a inflação e 79% opinam que a inflação “deve ser uma preocupação permanente da sociedade e do governo”. Um quinto dos respondentes (21%) acredita que atualmente a população está menos preocupada com a inflação e para somente 10% a inflação não é uma preocupação atual. Já aqueles que avaliam que “com a economia brasileira estável a inflação deixou de ser uma preocupação prioritária” somam 15%.
Quase metade dos brasileiros (47%) avalia que o Brasil vive atualmente uma inflação alta ou muito alta. Quase quatro em cada dez entrevistados (38%) classificam como moderada a atual taxa de inflação, enquanto 13% a consideram baixa ou muito baixa. Para esse agregado de 51%, portanto, o país tem a inflação em níveis aceitáveis, dentro do teto estabelecido pela autoridade monetária.
Perguntados sobre qual a taxa acumulada da inflação em 2023, um terço dos entrevistados (34%) acha que é maior do que efetivamente é. Um quarto (26%) indica corretamente um número entre “3% e 5%”, próximo à projeção do último Boletim Focus para o IPCA (4,51%), divulgada pelo Banco Central. Outra parcela de quase um quarto (23%) não tem ideia; e pouco menos de um quinto (17%) responde um percentual menor do que é a inflação de fato.
A MEMÓRIA DA HIPERINFLAÇÃO
Entre os entrevistados 70% já ouviram falar em hiperinflação e 64% associam o termo ao passado, indicando que o Brasil já viveu, mas não vive mais, essa realidade. A memória da hiperinflação, contudo, é difusa mesmo nas gerações contemporâneas ao Plano Real. Entre os que ouviram falar, 37% lembram o que é hiperinflação e 33% não lembram. Pouco mais de um quarto dos brasileiros (27%) nunca ouviu falar no termo.
A despeito da ampla associação entre a moeda brasileira atual e a conquista da estabilidade econômica, mais da metade da população (57%) não sabe precisar, de forma espontânea, qual o programa econômico que recuperou o controle dos preços e pôs fim à hiperinflação no Brasil. Apenas 38% cita espontaneamente o Plano Real.
O REAL HOJE
71% dos brasileiros opinam que ele “continua importante, pois lançou as bases para uma economia mais sólida e estável”. Parcela próxima a um quarto (23%), porém, considera que o Plano Real “perdeu importância, pois o Brasil mudou muito desde então e os desafios de hoje são outros”.
Atualmente, a confiança no Real é considerada maior no próprio país do que fora dele, junto a outros países e investidores estrangeiros. O sentimento de confiança na moeda brasileira apresenta os seguintes números:
- 63% dos respondentes acreditam que os brasileiros confiam muito ou confiam no Real.
- 60% creem que as instituições do setor econômico confiam muito ou confiam na moeda brasileira.
- 48% creditam confiança ao Real por parte dos outros países e investidores estrangeiros.
A despeito da confiança dos brasileiros na moeda nacional, mais da metade dos deles (55%) avaliam que o Real está muito desvalorizado ou desvalorizado em relação ao Euro e ao Dólar.
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Sobre o IPESPE
O Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (IPESPE), fundado em 1986, é uma das instituições mais respeitadas do Brasil no setor de pesquisas de mercado e opinião pública. E conta com um conselho científico formado por especialistas de diversas áreas, o qual é presidido por Antonio Lavareda, mestre em sociologia e doutor em ciência política.
Tem equipes operacionais e consultores em todos os estados do País e atuação em âmbito nacional e internacional, sempre atualizado com o que há de mais inovador em técnicas e sistemas de pesquisas. A experiência, o rigor técnico e a agilidade do IPESPE têm se transformado em ferramentas fundamentais para que empresas privadas, governos e organizações possam conhecer melhor o seu público e o mercado.
Sobre o OBSERVATÓRIO Febraban
O Observatório Febraban – Pesquisa Febraban IPESPE foi lançado em junho de 2020 com objetivo de se tornar uma fonte de informações sobre as perspectivas da sociedade e o potencial impacto econômico-financeiro, ouvindo a população e estimulando o debate em diversos setores. Com periodicidade trimestral, a iniciativa é parte de uma série de medidas da FEBRABAN para ampliar a aproximação dos bancos com a população e a economia real, de forma cada vez mais transparente.