As manifestações de domingo não foram estrondosas, como chegou a ser esperado até pela mobilização das redes sociais, mas também não foram pífias. Digamos que não deixaram mal o presidente, que nos bastidores retratou um respaldo ao movimento, mas que na ordem prática das coisas representou um tiro no pé.
Quando o povo vai para a rua, não tem como controlar. Bonecos de Rodrigo Maia foram expostos, junto com pesados posicionamentos contra ele. Erro estratégico, pois na vida real o presidente da Câmara está fazendo mais força pela aprovação da Reforma da Previdência do que o próprio Bolsonaro. Essa que é a grande verdade.
Neste contexto, não adianta daí o presidente chamar Dias Toffoli (STF), o próprio Maia (Câmara) e Davi Alcolumbre (Senado) e dizer que estão juntos, propondo um pacto pelas reformas se, na outra ponta, o chefe da nação respalda o povo nas ruas justamente contra o STF e o Congresso.
Jair Bolsonaro acertou ao não ir para o asfalto. Aconselhou seus ministros a fazerem o mesmo. O detalhe é que deputados estaduais e federais do PSL não só apoiaram a movimentação como estiveram à frente das manifestações. Foi um engajamento total.
Dissimulação
Isso tudo transparece que o presidente pode estar agindo de forma dissimulada, reunindo-se com os chefes dos demais poderes para propor pacto, mas nos bastidores atiçando a população justamente contra Judiciário e Parlamento.
Hora de trabalhar
A estratégia está equivocada. A eleição já passou, agora é hora de governar. Bolsonaro não tem que chamar as pessoas para o respaldarem. Ele já tem o suporte conquistado nas urnas, já foi eleito com grande maioria de votos.
Moisés ignora
No fundo, está faltando o presidente dizer a que veio. Talvez até por isso Moisés da Silva não tenha participado do movimento de domingo. Ignorou olimpicamente. Não se viu nem se ouviu absolutamente nada do governador em relação aos movimentos dominicais.
Fênix oposicionista
Os equívocos de Bolsonaro e companhia estão ressuscitando a oposição, que estava morta, sem discurso, desnorteada. Além das manifestações da semana retrasada, que foram bem maiores do que o Planalto imaginara, a UNE, tradicional braço do PCdoB, partido que é tradicionalíssimo satélite do PT, já está chamando nova mobilização esquerdista para este dia 30.
Prioridade
O foco do governo precisa ser total nas reformas e nos enormes desafios que o Brasil tem diante de si. Até porque, só com a Reforma da Previdência e as subsequentes, como a tributária, haverá geração de emprego, fundamental no sentido de fazer a roda voltar a girar. É tempo de trabalhar e deixar de balela.
Bem rodeado
Outro ponto. Bolsonaro montou um belíssimo ministério. Com raras exceções, são pessoas qualificadas e honradas. Paulo Guedes na Economia e Sérgio Moro, na Justiça, foram dois golaços. O que só torna mais inexplicável a falta de foco nas reformas estruturantes.
Radicais imbecis
Tanto que os dois ministros foram citados, tinham bonecos e ganharam o apoio das ruas. O que não dá é pra falar em fechamento do STF e do Congresso. Há ministros do Supremo, senadores e deputados que não deveriam estar lá? Sim, mas isso jamais pode motivar o viés ditatorial. Basta ver o péssimo, terrível, maligno exemplo da Venezuela!