Ex-presidente do Banco Brics esteve na Federação das Indústrias (FIESC) nesta sexta-feira, dia 18, e explicou como o aumento da população mundial para 10 bilhões de habitantes em 25 anos e o reposicionamento das cadeias globais de valor abrem oportunidades para países como Brasil, México e Índia
“O agronegócios é extraordinariamente importante e o Brasil não se desenvolverá sem ele, mas também não se desenvolverá apenas com ele porque terá que agregar valor em diferentes setores”, afirmou o ex-presidente do Banco do Brics, Marcos Troyjo. Ele ministrou palestra na Federação das Indústrias (FIESC), nesta sexta-feira, dia 18, a uma plateia de lideranças industriais e políticas, em que explicou como o aumento da população mundial para 10 bilhões de habitantes em 25 anos e o reposicionamento das cadeias globais de valor abrem oportunidades para países como Brasil, México e Índia.
Apesar do cenário positivo que se desenha, Troyjo salientou que, para que o Brasil possa se beneficiar, não pode ser uma espécie de “fortaleza de protecionismo comercial”. “Não podemos nos fechar em relação ao resto do mundo”, alertou ele, que é economista e diplomata e foi um dos principais negociadores do acordo Mercosul-União Europeia.
Em sua palestra, Marcos disse que, quanto mais complexa e diversificada uma economia é, e mais ela conseguir agregar valor em múltiplos setores, mais próspera e maiores são as chances de sucesso. “Temos uma série de países que, se inteligentemente usarem a sua estratégia, poderão extrair benefícios do novo cenário internacional”, explicou, observando que o Brasil é um deles por conta da combinação entre o tamanho do mercado interno, a capacidade de produção de alimentos (que o mundo vai precisar), a abundância de água e a importante experiência em industrialização (até os anos 1980, o principal parque industrial do hemisfério Sul era o brasileiro).
Nos próximos 25 anos, as projeções são de que a população mundial vai crescer dos atuais 8 bilhões de habitantes para 10 bilhões. “E isso vai gerar uma pressão enorme do ponto de vista da demanda da agroindústria, de bens de infraestrutura e vai levar, também, a um reposicionamento das cadeias globais de valor, ou seja, das redes de produção. “Nos acostumamos, nos últimos 25 anos, em ver a China como uma espécie de fábrica do mundo. Mas, por conta de razões geopolíticas e da própria evolução da economia chinesa, as atividades que se localizam na China, sobretudo, do ponto de vista da manufatura, vão se deslocar para outras partes do mundo”, ressaltou o economista, explicando o que chamou de “desindustrialização da China”.
Troyjo disse que o Brasil pode receber parte dessa produção, mas está concorrendo com outros países que já estão se beneficiando da desindustrialização chinesa: a Índia, que tem uma estratégia industrial para atrair os capitais que estão saindo do país asiático; o México, que, em boa medida, vem se beneficiando porque integra um acordo comercial que envolve Estados Unidos e Canadá, e também porque desde os anos 1990 realizou 48 tratados de comércio com outras regiões. Além do Canadá, que está atraindo indústria intensiva em valor. “Ou seja, haverá uma reconfiguração das cadeias globais de valor. E aí eu pergunto para vocês: que país do mundo tem a escala territorial, a combinação entre pujança e tamanho do mercado interno, com recursos naturais abundantes, uma classe gerencial preparada e que poderia ter toda a chance de atrair esse capital? É o Brasil.
Mercosul: No encontro, ao ser perguntado sobre o futuro do Mercosul, ele respondeu que depende dos sócios, ou seja, dos países integrantes do bloco. “Estamos vivendo um período agora de redefinição do Mercosul e temos forças importantes para modernização do bloco. Uma delas é o acordo Mercosul-União Europeia, que é um dos maiores da economia mundial entre blocos. Ele foi concluído, mas depois disso, me parece que os europeus tentam reabrir algumas discussões, sobretudo, as ligadas à questão ambiental, mas torço para que isso aconteça o mais rapidamente possível. Isso porque acordos de comércio são acordos de investimentos”, explicou. Segundo ele, há um potencial enorme de formação de parcerias e joint ventures entre empresas europeias e do Mercosul. “No seu conjunto, a União Europeia representa um bloco de praticamente 450 milhões de pessoas, então o Mercosul tem muito a ganhar com isso”, declarou.
Economia SC: Na abertura do encontro, o presidente da FIESC, Mario Cezar de Aguiar, apresentou um panorama que mostra a pujança da economia catarinense. Ele destacou que o estado tem o sexto maior Produto Interno Bruto (PIB) do país, totalizando R$ 455,6 bilhões – dos quais 27% vêm da indústria. O estado também registra a maior taxa de formalidade do Brasil (73,4%) e a menor taxa de desemprego do país (3,5%).
“Somos um estado que tem uma economia importante para o desenvolvimento nacional. Somos um estado de oportunidades. Temos desafios, mas possuímos índices que são referência nacional”, afirmou. No campo dos desafios, Aguiar chamou a atenção para as deficiências na infraestrutura dos transportes, notadamente para a situação das rodovias. No ano passado, o estado registrou uma corrente de comércio de US$ 41 bilhões. “Isso se dá graças à cultura empresarial e à estrutura portuária invejável que temos aqui”, disse.