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Capacidade dos portos está no limite para receber contêineres

Para armadores, situação do Brasil é dramática e sem investimentos para melhorar e ampliar terminais portuários ruma para o colapso. Portos estão defasados em 15 anos e navios que aportam no país estão 6 gerações atrasados

A competitividade brasileira e a ambição de ampliar seu comércio internacional enfrenta uma limitação muito séria: a atual capacidade dos portos brasileiros de movimentar contêineres. A avaliação é dos armadores presentes na reunião que a Federação das Indústrias de SC (FIESC) organizou nesta quarta-feira (8) em Florianópolis, e corroborada por Maurício Medeiros de Souza, chefe da regional Florianópolis da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (ANTAQ).

O diretor executivo do Centronave, Cláudio Loureiro de Souza, descreveu a situação como “dramática”. O representante da associação que reúne as 19 maiores empresas de navegação de longo curso em operação no Brasil explicou que os portos brasileiros estão 15 anos defasados e atrasados em 6 gerações em relação aos navios hoje disponíveis e a, considerando também os cargueiros encomendados e em produção em estaleiros.

“Hoje estamos operando com navios que comportam 11,5 mil TEUs. Mesmo esses navios menores (em relação ao resto da frota mundial) entram no país com capacidade de carga reduzida, o que os torna menos eficientes não só no volume de cargas mas também no consumo de energia”, explicou.

Para o gerente da Antaq, a infraestrutura brasileira de contêineres já está no limite. “Qualquer situação climática, qualquer pequeno acidente em um terminal gera caos. Precisamos investir em novas instalações, aumentar a capacidade de armazenamento, fazer o investimento em dragagem. Nem o básico está sendo feito”, destacou.

Armadores também são vítimas

Na avaliação de Luiz Carlos dos Santos Bertechini, gerente comercial da Evergreen, o armador também sofre com os problemas enfrentados hoje nos portos catarinenses. “Quando temos um navio colocado em espera para atracar, atrasamos não só as cargas que seriam destinadas àquele porto, mas também todos os demais”, explicou.

A falta de janelas de atracação dos navios, motivadas por eventos climáticos, falta de dragagem ou ainda questões operacionais dos portos são situações que também prejudicam os armadores.

Integração

A líder de direito e política da concorrência para a América Latina da Maersk, Ana Carolina Albuquerque, explica que toda a cadeia é afetada pela falta de investimentos em expansão e melhorias nos portos catarinenses. “Precisamos de soluções integradas para termos confiabilidade dos serviços. O problema não está na frota. O maior problema é a infraestrutura”, destacou.

A percepção foi reforçada pelo presidente da FIESC, Mario Cezar de Aguiar, que destacou a necessidade de se pensar na logística de forma integrada. “Não podemos esquecer de que as nossas rodovias precisam estar em boas condições e com capacidade adequada para atender a demanda e fazer a conexão entre o setor produtivo e o porto”, salientou.

No caso das rotas operadas pela Maersk em SC, os navios trabalham com menor capacidade, dadas as restrições de calado. “A dragagem é essencial para navios carregarem mais contêineres, mas situações como a limitação noturna em Itapoá, Itajaí em período de transição, greves de servidores e a falta de licenças também afetam a operação dos armadores”, explicou Ana Carolina.

Medidas em curso

Para minimizar os impactos para a indústria, os armadores têm tomado medidas como a negociação de contratos com clientes em caso de “demurrage”, entre outras situações. Para Loureiro, da Centronave, os armadores não têm intenção de dificultar a relação comercial e estão  abertos a negociar situações emergenciais.

No caso da Evergreen, as duas linhas que operam ligando SC à Ásia estão sofrendo mudanças, numa tentativa de mitigar os recorrentes problemas de atrasos, janela e problemas de atracação. Reduzir escalas está entre as alterações que estão sendo implementadas.

A Maersk também está realizando ajustes operacionais para priorizar carga cheia, numa iniciativa de favorecer a vazão na produção. A empresa também alterou escalas em outros lugares do mundo para continuar atendendo SC. “Estamos reforçando com as autoridades as necessidades de licenças e de aprofundarmos as dragagens para 17m, para que navios maiores e mais eficientes possam atracar”, destacou. A Maersk explicou que, com a dragagem adequada e investimentos para ampliar o calado, poderia-se aumentar a oferta de movimentação de contêineres em 2500 TEUs por escala.

O secretário de Portos, Aeroportos e Ferrovias de SC, Beto Martins, explicou que o estado está se mobilizando para ajudar Itapoá a encontrar uma solução para a Baía da Babitonga. “Estamos construindo um modelo de parceria entre o poder público e o privado em um case que pode ser referência em infraestrutura pro Brasil”, afirmou.

O presidente da câmara de transporte e logística da FIESC, Egídio Martorano, destacou a importância de um diálogo aberto entre a indústria e os armadores. “É importante que tenhamos essa linha de comunicação aberta para tirar dúvidas e negociar em situações de emergência”, destacou.

foto>Filipe Scotti, Fiesc, divulgação

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