Manchete

Começa a azedar

A Assembleia Legislativa retoma suas atividades normais do ano depois de um recesso de um mês e meio. Nem vamos entrar no aspecto partidário das bancadas. Mas o quadro entre os parlamentares não é nada favorável ao governo Jorginho Mello. Por vários motivos. O primeiro e mais explícito é a falta de um articulador do governo no Legislativo.
O deputado Estêner Soratto vinha se movimentando, mas com dificuldades. Também não dispunha da experiência necessária para a Casa Civil. É o seu primeiro mandato na Alesc. O segundo aspecto é toda aquela conversa de que o advogado Filipe Mello o substituiria a qualquer momento.
A mudança ocorreu na véspera da posse dos novos secretários, em dezembro do ano passado. Antes de assumir, contudo, Filipe Mello recuou. Foi um movimento providencial. Não pela ausência de qualidade profissional do advogado, mas pelo fato dele ser filho do governador.
Era um risco que Jorginho Mello não deveria correr e o freio de arrumação foi puxado. O indicado para o cargo foi uma pessoa da confiança da família Mello. Um procurador que lá está cumprindo uma missão técnica de coordenação dos assuntos de governo, mas ele faz a interlocução com a Assembleia. Longe disso.

Bastidores

Filipe Mello vai continuar a interagir com os parlamentares. Certo, mas para que o ambiente governista melhore sob o aspecto das relações com o Legislativo, Jorginho Mello tem que entregar. Cumprir os compromissos assumidos, os acenos dados aos parlamentares em termos de obras, investimentos, emendas e indicação de cargos. Esse é o jogo, infelizmente.

Funcionamento

Essa é a sistemática, é a mecânica que vigora no Brasil, tanto lá no Congresso como nas assembleias estaduais e também nas câmaras municipais de vereadores. O clima é muito adverso na Alec em relação ao Centro Administrativo. Embora o ano tenha começado oficialmente ontem para o Parlamento Catarinense, as informações do azedume circularam nos bastidores durante todo o mês de janeiro. Há contrariedade inclusive na bancada do PL. São 11 deputados que formam um colegiado muito heterogêneo, com algumas figuras complicadas no trato.

Nariz torcido

Além disso, nas bancadas de outras legendas simpáticas ao governo do estado, há reclamações as mais diversas. Está faltando o governador tricotar melhor esse relacionamento. Não só pela falta de atenção nas questões administrativas, mas também porque ele não está conversando como deveria estar com os deputados. Essa é a realidade deste início de fevereiro de 2024.

Risco controlado

Apesar dos ares carregados, por ora o governo parece não correr nenhum risco de revés em votações estratégicas neste início de ano. Mas se não for dada uma maior articulação ou uma melhor negociação junto às bancadas, poderão surgir problemas mais sérios.
Não podemos perder de vista que o ano é tipicamente eleitoral nos municípios e aí entram outros interesses, outras expectativas e outras perspectivas eleitorais.

Oposição

O PSD é oposição a Jorginho Mello, bem como o PT e mais algumas pequenas bancadas de esquerda. Com o governador fazendo o encaminhamento adequado, ele terá maioria. Hoje, no entanto, está tudo muito solto, muito largado. As conexões necessárias da administração estadual com as bancadas têm deixado a desejar.

Hora certa

O momento de acertar é agora, no reinício das atividades. Ou o Centro Administrativo encontra o prumo, o ponto de equilíbrio ou poderá ter um ano colhendo dissabores no âmbito legislativo. A indicação de um secretário da Casa Civil é fundamental. De preferência, um parlamentar e tenha autonomia, algo de que Estêner Soratto não dispunha.

Discrição

O advogado Filipe Mello fica nas internas, atuando e trabalhando. Ok, mas as coisas precisam acontecer. Ele é maleável, é habilidoso, mas não basta só prometer. As coisas precisam acontecer. Ou o governo Jorginho Mello acorda agora, ou terá problemas pela frente nesse novo exercício no relacionamento Executivo-Legislativo.

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