Em videoconferência promovida nesta terça-feira (19) pelo Ministério Público Federal (MPF) em Santa Catarina e Regional 4ª Região (PRR4), o epidemiologista Pedro Hallal, da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), disse que já estão praticamente solucionados todos os problemas que envolveram no último final de semana pesquisadores do projeto que coordena em 133 municípios brasileiros, que coleta dados sobre a difusão do coronavírus no país. Doutor em epidemiologia, Hallal garantiu que a primeira fase do levantamento, que mostrará dados inéditos sobre o avanço da covid-19 no Brasil, se estenderá até esta quinta-feira (21), quando serão apresentados resultados.
A pesquisa, relatou Pedro Hallal, foi recebida por três diferentes maneiras nos municípios onde está sendo realizada. Segundo ele, o projeto Epicovid19, que é chancelado pelo Ministério da Saúde, foi bem recebido em cerca de 80 localidades. Um outro grupo, de cerca de 30 localidades, foram criadas barreiras, mas que acabaram sendo removidas. O terceiro grupo, disse, foi dos municípios que trataram as equipes da pesquisa com truculência, com uso de força policial, como mostrou reportagem do “Fantástico”, da Rede Globo, no domingo (17). “A falha de comunicação que aconteceu não pode servir de argumento para justificar a truculência”, disse.
Apesar dos contratempos, o pesquisador garantiu que, cumprindo o prazo, até esta quinta-feira (21) a primeira fase do levantamento de dados estará concluída e poderá começar a ser revelada a realidade do coronavírus no Brasil. A pesquisa Epicovid-19, desenvolvida pelo Centro de Pesquisas Epidemiológicas da UFPel com apoio do Ministério da Saúde, formará um banco de dados com acesso aberto ao público. Hallal avaliou que a situação do Brasil na pandemia é bem melhor que a dos países europeus, mas pior que a dos países da Ásia e que o Sistema Único de Saúde (SUS) tem “dado conta do recado”, com respostas adequadas à pandemia.
Durante a videoconferência o epidemiologista disse que o país aderiu ao isolamento social no momento certo. “O Brasil tem mais acertado do que errado no combate ao coronavírus”, afirmou. Um dos diferenciais para o combate ao vírus que o país tem é o SUS, que por ser universal e gratuito em muito se difere de sistemas de saúde restritos ou menores, como é na maioria dos países.
No entanto, observou que há falta de uma política de testagem efetiva da população e que existe a possibilidade de um efeito rebote porque em algumas regiões as autoridades se adiantaram ao permitirem o fim do isolamento social e a retomada de atividades. Para Pedro Hallal, “no caso da covid-19, a doença começa nas populações mais ricas do Brasil e, no final, onde vai trazer maior dano, é nas populações mais vulneráveis”.
Foram debatidas possíveis ações do MPF para contribuir para se chegar e a se manter uma curva decrescente de contaminação da população. Os procuradores da República que representaram o MPF no debate defenderam a ação do poder público em defesa da população. Isso tanto em curto prazo, com relação à pandemia, quanto em longo prazo, como foi lembrado pelo procurador Fabio de Oliveira, do MPF em SC, que destacou o trabalho realizado anteriormente ao surgimento do novo coronavírus, para contratação nas vagas deixadas pelo programa Mais Médicos – que não tinham sido preenchidas pelo Ministério da Saúde até a urgência deste momento de pandemia.
Participaram do debate com o mestre e doutor Pedro Hallal, reitor da UFPel e coordenador do projeto Epicovid19, os membros do MPF com atuação na área dos Direitos do Cidadão: Paulo Gilberto Cogo Leivas (Naop/PRDC/4ª Região), Fabio de Oliveira (membro focalizador do Gabinete Integrado de Acompanhamento da Epidemia Covid-19 – Giac-Covid-19 em Santa Catarina), Enrico Rodrigues de Freitas (procurador regional dos Direitos do Cidadão no Rio Grande do Sul) e Darlan Airton Dias, procurador-chefe do MPF em SC. A conversa foi mediada pela jornalista Ângela Bastos, do grupo NSC Comunicações.
A videoconferência, de pouco mais de três horas, foi promovida pelas Coordenadorias de Gestão de Pessoas do MPF em SC e da Procuradoria Regional do MPF na 4ª Região (PRR4), com o tema “Impactos da covid-19 no sul do país – Atuação do MPF”.