Certamente, num futuro não tão distante, o pedido de demissão de Sérgio Moro, consumado ontem, deverá ser lembrado como o divisor de águas no governo de Jair Bolsonaro. Moro não apenas pediu a conta, praticamente fez uma delação premiada ao vivo para todo o país, que assistiu estupefato.
A repercussão nas redes sociais foi imediata. O presidente derrete à luz do dia. O já ex-ministro contou ao público como foi pressionado a revelar até detalhes dos relatórios das operações da Polícia Federal. Isso é gravíssimo. Interferência direta do chefe do Executivo na Polícia Federal. A PF é órgão de estado, não de governo.
Bolsonaro demitiu Maurício Valeixo do comando da PF porque o sujeito é competente. E muito ligado a Moro. O verdadeiro motivo foram as investigações sobre as Fake News, que têm tudo para chegar em Carlos Bolsonaro, o filho 02, vereador no Rio de Janeiro; além do trabalho investigativo que envolve o 01, o senador Flávio Bolsonaro. Inaceitável esse comportamento do presidente.
Começo do fim
Resumindo: é o começo do fim do atual governo. Importante lembrar que o centrão tem três grandes símbolos. Roberto Jefferson, do PTB, Waldemar Costa Neto, dono do PL e que inclusive foi condenado por Sérgio Moro; e o não menos notório Arthur Lira, do PP. Os três foram investigados na Lava Jato e simbolizam o velho sistema corrupto, carcomido, podre.
Jogo sujo
Então ter controle da PF é promover um abafa geral, favorecendo mais uma vez esse bandidos. Postura bem diferente da que elegeu o atual presidente, que teve no combate à corrupção uma das grandes bandeiras da campanha. Ele foi eleito não só como anti-PT e anti-Lula, mas sim como o homem que lideraria a guerra contra os corruptos. Essa imagem se esvai a partir de agora.
Nome forte
Na outra ponta, Sérgio Moro na estrada, mesmo sem estrutura, representa uma ameaça real a Bolsonaro. O ex-juiz é uma figura que tira boa base do presidente. Moro passa a ser um candidato fortíssimo para 2022. Só tem que ver como vai manter sua projeção uma vez que não tem mais cargo no governo e também renunciou à magistratura.
Irresponsabilidade
Agora, tudo isso acontecendo em plena pandemia. É uma enorme irresponsabilidade de Jair Bolsonaro. Trata-se, sim, de um despreparado. Ele não tem envergadura, perfil, estofo, não tem guarda-roupa para o cargo que ocupa.
Por fim, para piorar, outros dois bons ministros, Paulo Guedes (Economia) e Tereza Cristina (Agricultura) estão na linha de tiro dos bolsonaristas.
“Jogada de mestre”
Num mesmo lance, Jair Bolsonaro conseguiu dividir no mínimo ao meio o apoio que tinha, fez a alegria total da esquerda e ressuscitou o centrão, sinalizando para um autoisolamento perigoso. Quadro que, de quebra, faz ressurgir com força a conversa de impeachment. O presidente parece não ter percebido que ter Sérgio Moro ao lado lhe garantia uma blindagem até mesmo contra os confabuladores de plantão. Que agora vêm o caminho aberto para sugar o que der de Bolsonaro e negociar, ao mesmo tempo, com os conspiradores. Que jogada de “mestre”, presidente!