Manchete

Devagar com o andor!

Que o santo é de barro. Assim reza o dito popular. E é isso que está faltando à CPI dos Respiradores. Comissão Parlamentar de Inquérito no contexto do legislativo sempre enseja o componente político. Historicamente. Faz parte do processo, evidentemente. Mas é preciso que haja a dosagem correta de política pelo meio do trabalho investigativo.
Na última rodada de depoimentos desta semana, houve avanços, mas é preciso tomar os cuidados para não haver pré-julgamento, uso político-politiqueiro da CPI e que os depoentes sejam tratados com educação e o respeito a que têm direito. Afinal, ninguém ainda foi condenado no âmbito deste escândalo.
Revelador, por exemplo, o depoimento do coronel da reserva, Campos Maia, diretor de licitações da Secretaria de Saúde do Estado. Função estratégica e sem sombra de dúvidas, hoje um dos cargos mais importantes da máquina estadual.

Farra histórica
Chegou ali pelas mãos do ex-secretário Helton Zeferino. Que fez muito bem em nomear o militar para este posto-chave.  Consta que ali, justamente com o setor compras,  houve farras e mais farras com dinheiro público há décadas.

Porta adentro
Campos Maia revelou que quando a situação chegou para ele, já chegou encaminhada pelo jurídico da pasta. E que participou de uma reunião com a então sua superior, Márcia Pauli, exonerada do cargo de confiança na Saúde, agenda que foi invadida pelo então secretário-adjunto e hoje titular da pasta, André Motta.

Sem postura
De acordo com o relato do militar, Motta adentrou à reunião e de forma arrogante deu ordens à Márcia Pauli. Para Campos Maia, a servidora tem servido de bode expiatório para os verdadeiros responsáveis pela compra pra lá de suspeita dos 200 respiradores.

Dupla
O relator da CPI, deputado Ivan Naatz, saiu-se muito bem ao conseguir extrair de Campos Maia uma declaração da maior gravidade e importância. Segundo o diretor de licitações da Saúde, os dois grandes responsáveis pelo negócio são justamente Helton Zeferino e André Motta.
Isso precisa ser muito bem investigado pela CPI e também pela força-tarefa do Gaeco.

Cacoete acadêmico
Outro depoimento foi o do Controlador-Geral do Estado, Luiz Felipe Ferreira, que é um professor, um acadêmico.
Ele acabou usando a expressão roubo, bastante explorada politicamente logo na sequência, e deu uma escorregada aqui e ali, mas nada que justifique a forma como foi destratado por alguns deputados. Ferreira, saliente-se, não é do métier, não vive o cotidiano da política estadual, que, convenhamos, não é para amadores.

Grosserias
Só que o professor foi tratado como se fosse um bandido. Foi espezinhado e não dispensaram a ele a mínima educação que devem ter autoridades públicas numa situação de oitiva em CPI.
Então, alto lá, senhores. Sabemos que esse jogo não é uma reunião de vestais num convento de freiras!

Muita calma
Nessa toada de pré-julgamento e politização fora do tom, agora o relator já quer incluir o governador do estado nas investigações.
Mas porquê? Qual o motivo?  Lembrando que até agora não há nada que ligue oficialmente Moisés da Silva  a condutas ilícitas, apesar do escandaloso negócio dos respiradores.

Prerrogativas
Lembrando, ainda, que se o govenador for convidado, ele não pode ser convocado, só convidado, ele pode escolher se vai, a hora, a data e o local da inquirição.
Isso não é assim, não. Só chamar o chefe do Executivo e ponto. É preciso ter elementos consistentes – e se eles aparecerem, que se investigue o governador a fundo – para cassar um governador.

Alhos e bugalhos
Não se pode chamar/envolver o governador só porque o deputado Ivan Naatz é o líder da oposição na Assembleia. Para que seu relatório final tenha fé pública, ele precisa agir de forma bem mais imparcial e equilibrada. Caso contrário, corre sérios riscos de cair em descrédito.

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