Primeira metade dos anos cinqüenta, um coronel da guarda de Getúlio pede autorização para fazer um inquérito com Jesus Soares Pereira, nacionalista, brilhante economista da assessoria de Vargas. Só se for na minha presença, respondeu Vargas. No dia e hora estabelecidos, o coronel pergunta:
– Professor Jesus, dizem que o senhor tem ideias muito avançadas.
– Sim. Por acaso o senhor tem ideias atrasadas?
Getúlio explodiu em sonora gargalhada, engasgou-se na fumaça do charuto e deu por encerrado o inquérito. Dez anos depois, quando os militares assumiram o poder, Jesus figurava na lista dos 100 primeiros cassados. Ninguém sabia quem ele era. Jesus foi o grande mentor da lei 2004, que criou a Petrobras.
Na década de setenta, conheci Soares Pereira pelas mãos de Domar Campos, outro brilhante economista da Assessoria de Vargas, meu chefe no departamento econômico e tributário da Associação Comercial do Rio de Janeiro. Sergipano por acaso, Domar era filho das famílias catarinenses Gama D’Eça e Campos. O Brasil de então era autossuficente na produção de derivados de petróleo. Contudo, produzia somente 20% do petróleo bruto que necessitava para consumo.
Com a descoberta de novos campos, inclusive do pré-sal, o Brasil passou a ser autossuficiente na produção de petróleo, em 2006, mas se tornou dependente da importação de derivados porque não teve um Jesus Soares Pereira para perceber que a estratégia adequada era investir no refino para não depender da importação.
A lei da oferta e procura disciplina o mercado e a visão da OPEP é de que o consumo de derivados de petróleo tende a cair, substancialmente, nos próximos dez anos, pela questão do clima e de meios de transporte alternativos, como os carros movidos por eletricidade. Some-se a isso a questão da desvalorização de nossa moeda em relação ao dólar e você pode entender porque a gasolina e o diesel pesam muito em seu bolso.
O petróleo cru do Brasil não tem uma qualidade que chegue perto do produzido internacionalmente. Necessita de cuidados especiais de refino. Nossas refinarias estão obsoletas. Por isso, exportamos petróleo bruto de qualidade inferior e importamos os refinados a preços internacionais.
Se tivéssemos investido na atualização produtiva de nossas refinarias, poderíamos refinar aqui o petróleo produzido pelo Brasil e não teríamos o custo cambial e, dependendo da política adotada, vender por um preço diferenciado, mais barato que o do mercado internacional. O erro, portanto, não é produto do Governo atual, que peca muito por se intrometer onde não deve, cria insegurança jurídica e afasta investidores necessários para o nosso caminhar. O erro começou lá atrás, principalmente, nos desastrosos governos petistas.
Por Paulo de Tarso Guilhon, Economista, Master of International Management, Doutor em Engenharia de Produção.