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Escola Isolada e Espaço Cultural são inaugurados

Uma ‘aula de recordação’ finalizou o ato de entrega da reconstrução da Escola Isolada Ângelo Moretti, no Ribeirão Grande do Norte

Integrante dos 147 anos de Jaraguá do Sul, sendo o último evento da programação que transcorreu no mês de julho, a Prefeitura de Jaraguá do Sul inaugurou nesta segunda-feira (7), a reconstrução da Escola Isolada Ângelo Moretti e do Espaço Cultural Eurides Silveira, localizados na Rodovia JGS 240 (Estrada Ricardo Luiz Floriani), na localidade de Ribeirão Grande do Norte, Nereu Ramos. A recuperação do espaço iniciou em 2021, com o lançamento do edital de concorrência pública. A empresa Cúbica Construções Ltda. foi a vencedora e reconstruiu o prédio que abrigava a Escola Isolada Ângelo Moretti e construiu o Espaço Multiuso, que tiveram investimento total de R$ 2.129.550,35.

Conforme comentou a secretária de Cultura, Esporte e Lazer, Natália Lúcia Petry, as escolas isoladas foram fundamentais no início do sistema de ensino de Jaraguá do Sul, facilitando o acesso educacional nas comunidades mais afastadas do centro da cidade, e essa reconstrução representa o reconhecimento da importância dessas escolas. O objetivo foi resgatar a imagem da antiga escola, tendo como referência construtiva as técnica e padrões da época, como dimensão e ritmo de janelas e portas, piso em assoalho de madeira elevado, embasamento em pedra, alvenaria de tijolos maciços assentados a chato com reboco de argamassa de cal, inclinação do telhado e estrutura da cobertura em triângulo, com uso de encaixe nas madeiras e uso de molduras e cimalhas lisas com o fim de marcação das aberturas e estrutura

A área do Espaço Cultural Eurides Silveira tem área construída de 136,85 metros quadrados, já a Escola Isolada Ângelo Moretti tem 120 metros quadrados. No local, uma placa conta a história da edificação e homenageia os sócios fundadores Ângelo Moretti, Aleixo Bértoli, Arthur Floriani, Eugênio Floriani, Jacinto Ropelatto, Joan Floriani, José Hanisch, Luís Floriani, Luís Lunelli, Romano Bértoli e Victorio Moretti.

A inauguração do espaço contou com as presenças de famílias dos fundadores, de ex-alunos e até de ex-professores da unidade isolada, como é o caso das professoras aposentadas Maria Aurélia Alquini Lenzi e Fidélia Maria Lucilda Lenzi Dias. Fidélia é filha do também professor Giardini Lenzi e dedicou 18 anos de sua vida com a Escola Isolada Ângelo Moretti. “Estou muito feliz em participar com vocês desta homenagem. Eu fiz o meu curso primário nesta escola, com o professor, meu pai, Giardini Luís Lenzi. Aos 18 anos, em 1949, fui nomeada professora regente de ensino primário para esta escola. meus alunos eram filhos de lavradores. Eram crianças educadas, estudiosas e sempre queriam apresentar seus trabalhos de aula com precisão. Foram anos maravilhosos”, disse a ex-professora, emocionada ao reencontrar grande parte dos seus ex-alunos, muitos que ainda residem naquela região.

Outro momento emocionante foi a leitura de uma carta escrita em 2017 pelo ex-aluno Argemiro Bértoli, mais conhecido na escola como Miro, e que expressa muito bem o sentimento da época em relação à chegada da escolinha àquela comunidade. O documento, que na época foi endereçado ao então prefeito Antídio Lunelli, foi lido por Franciele Bertoli de Freitas Mendes.

“À beira do rio generoso em águas e peixes, imigrantes italianos e alemães construíram no pasto a Escola Rural Ribeirão Grande do Norte, servida pela Estrada do Itapocu, depois Estrada dos Italianos, e hoje Estrada do Abílio Luneli, Município de Jaraguá do Sul… A escola se resumiu numa sala espaçosa. As quatro primeiras séries estudavam juntas, o que exigia empenho dobrado do professor. Não havia carteiras individuais, bancos compridos acomodavam os alunos. Na parede frontal, mapas do Brasil de Santa Catarina, mapa Mundi e um globo terrestre…”, trechos da carta escrita por Miro, relembrando o cotidiano da pequena Escola Isolada Desdobrada da Barra do Ribeirão Grande do Norte.

A secretária de Cultura, Esporte e Lazer, Natália Lúcia Petry, lembrou que a reconstrução da antiga escola foi assunto de mais de dez anos. “Mais tarde, foi um dos projetos que o então prefeito Antídio Lunelli almejava. E o prefeito Jair Franzner, com a sua sensibilidade, deu continuidade a todos os projetos iniciados naquela gestão, e hoje estamos entregando várias obras, assim como esta”, resumiu. Já a secretária de Educação, Emanuela Wolff, anunciou como será utilizado o espaço de educação e cultura. “Nós traremos crianças aqui. Uma pessoa vai se dedicar especialmente a receber os alunos aqui, a contar a história do lugar, mostrar como era uma sala multisseriada”, disse a secretária, acrescentando que o projeto chama-se Conhecendo Jaraguá do Sul, onde os alunos visitarão a Escola Isola Ângelo Moretti e também a Escola Isolada Arnoldo Schultz, onde terão a experiência de ver como era uma escola onde o professor morava nela, pois lá ainda é preservada a casa do professor.

Entusiasta do projeto de reconstrução da escola, o ex-prefeito de Jaraguá do Sul, deputado estadual Antídio Aleixo Lunelli, estava emocionado ao ver o prédio reerguido. Ele, inclusive, foi autor de uma Moção de Agradecimento na Assembleia Legislativa de Santa Catarina, como forma de homenagear as famílias fundadoras da escola, há mais de 100 anos. “Este projeto iniciamos lá atrás, ainda quando eu não fazia parte vida pública, para que esta obra ou pelo menos uma réplica da antiga escola fosse reconstruída em memória das pessoas e das famílias que tanto se dedicaram a esta comunidade e a todos os alunos que aqui passaram”, mencionou.

Para finalizar os pronunciamentos, o prefeito de Jaraguá do Sul, Jair Franzner, disse estar muito alegre em participar da entrega desta obra, que possui um grande significado para toda a comunidade. “É uma alegria estar aqui participando da entrega desse espaço, por tudo o que simboliza, pela memória afetiva que desperta nas pessoas e o que ele vai proporcionar de aprendizado e de valorização, principalmente para as nossas crianças. Como prefeito, quero expressar minha gratidão a todas as mãos que fazem nossa comunidade prosperar, mãos de pessoas que não medem esforços para buscar o que é necessário para o seu trabalho, sua família, sua comunidade”, resumiu.

Após finalizado o cerimonial, os convidados, especialmente ex-alunos, tiveram a oportunidade de reviver um momento único, ao entrarem na sala multisseriada reconstruída e sentarem nos bancos semelhantes aos utilizados no período de funcionamento da escola isolada e tiveram uma aula de recordação, com a professora Fidélia.

HISTÓRICO
Em 1º de janeiro de 1922, foi fundada a Sociedade Escolar Barra do Ribeirão Grande do Norte no terreno doado pelo Senhor Luiz Bagatolli, colonizador italiano remanescente de Arrozeira (atual município de Rio dos Cedros). O senhor Ângelo Moretti foi, na época, escolhido o primeiro presidente da entidade associativista na defesa da educação italo-brasileira. Assim, tão logo definida a iniciativa da escola comunitária foi contratado o professor Carlos Valenza, que atendeu o quadro de matrícula inicial de 70 alunos, cuja trajetória foi de quatro anos.

Em 1926, o professor Giardini Luiz Lenzi assumiu a vacância do titular, permanecendo na vaga até 1957. Com a presença do professor Lenzi, a unidade escolar passou por várias mudanças de controle público municipal e estadual, seguindo as diretrizes do Sistema Nacional de Educação para construir a identidade brasileira. Além disso, a estrutura do prédio escolar de alvenaria foi reformada ao longo de sua existência, dentre as quais o telhado, nos anos 50, cuja mudança interferiu bruscamente na estética, passando de duas calhas para quatro calhas, um bangaló. No transcorrer do ano de 1979, entre outras mudanças ocorridas também houve a demolição do prédio, que foi substituído por uma arquitetura padrão e de alvenaria, executada pela mantenedora, Secretaria de Estado da Educação.

Em 1993, a escola foi municipalizada e, no ano de 1997, encerrou as atividades escolares. A ação provocou uma profunda mudança na paisagem cultural da comunidade. O abandono do prédio provocou a perda da memória coletiva do ponto de sociabilidade educativo de várias gerações. Em 2014 iniciaram as tratativas de planejamento para reconstrução da imagem original do prédio escolar. Nesta perspectiva, foram efetivadas e transcritas 22 entrevistas pelo recurso da História Oral, sendo a ação desenvolvida por profissionais da área da Fundação Cultural do município. Em 2022, na gestão do prefeito Antídio Aleixo Lunelli, iniciou-se a reconstrução da imagem arquitetônica do antigo prédio escolar. A conclusão ocorreu em 2023, na gestão do prefeito José Jair Franzner.

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