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Ex-presidente Sarney e amigos prestam homenagem ao Doutor Lobato

Ex-presidente da República, José Sarney, enviou mensagem de agradecimento ao procurador federal Georgino Melo e Silva pelo artigo escrito por este último em homenagem ao médico Isaac Lobato, que morreu esta semana, na Capital, aos 96 anos. Homem íntegro, Dr. Lobato foi um dos maiores médicos da história catarinense. Em comum, os três têm/tinham a amizade e as origens no distante estado do Maranhão. Georgino, assim como havia feito Lobato, estabeleceu-se  há anos em Santa Catarina. Sarney também fez referência a outra falecimento de personalidade estadual ocorrido recentemente, revelando que o empresário Mário Petrelli era “seu maior contato em Santa Catarina.”

Escreveu o ex-presidente. “Obrigado querido Georgino. Minha geração está desaparecendo. Peço mandar—me todos contatos e endereços de sua família (referindo-se a Lobato, de quem era primo). Agradeço-lhe o generoso e bem feito artigo. Você é hoje, depois da morte de Petrelli, meu maior contato em SC. Fraterno abraço de amizade, Sarney”.

Causou estranheza o fato de Sarney não ter feito qualquer referência ao ex-senador Jorge Konder Bornhausen, que inclusive foi seu ministro da Educação por um período durante o governo que o maranhense herdou de Tancredo Neves. 

 

 

Segue o artigo da lavra do procurador federal Georgino Melo e Silva

 

DOUTOR LOBATO

O Brasil e o mundo, que estão a enfrentar uma terrível pandemia com sombrios horizontes, perderam um dos expoentes da saúde e da Medicina: o Professor Isaac Lobato Filho, que partiu no último dia 16. A sua morte, aos 96 anos, deixa um clarão que nunca pode ser preenchido. Mas, ficam a lição e a inspiração do seu rico legado como um luminoso exemplo.

Nascido na cidade de São Bento, nos vastos campos da Baixada Maranhense, Isaac Lobato Filho consagrou-se como grande e inovador cirurgião cardíaco.

A sua mente vibrante e privilegiada foi uma usina criadora de grandes inovações no campo da ciência médica. Conta-nos o Dr. Saul Linhares, seu admirável aluno, que o médico Lobato com o seu bisturi mágico realizou a primeira cirurgia cardíaca sem circulação e extracorpórea em 1960, e a primeira com extracorpórea em 1963. Foi fundador da Faculdade de Medicina da UFSC, em 1960, e do Instituto de Cardiologia do Estado, em 1964.

O Dr. Isaac Lobato Filho deixou também a marca do seu talento como professor titular de cirurgia torácica da UFSC e de membro emérito da Academia Catarinense de Medicina. Era um cavalheiro de trato suave e gentil, que conhecia como poucos o prazer da fala e da vida; tinha o sorriso aberto e o olhar luminoso.

Ao recordar-me do Dr. Lobato, veio-me à memória um episódio existencial de Beethoven, que, num momento de inspiração, interrompeu a aula de piano que estava ministrando e, sem maiores explicações, saiu de noite a passear pelo campo. Regressando, escreveu de corrido a “Sonata ao Luar”, nome popular que foi dado à “Sonata quase fantasia” e do qual Beethoven não gostava. Numa recepção posterior, interpretou a composição. Quando acabou, aproximou-se uma dama e lhe perguntou: “Maestro, qual é o significado dessa peça tão maravilhosa?” O músico olhou-a com certo desprezo e respondeu: “Minha senhora, o significado é este”. E, sentando-se ao piano interpretou a Sonata ao Luar completa, nos seus três movimentos, levantou-se e foi embora. Algo de equilíbrio racional procurava a boa senhora, e encontrou por resposta a harmonia genial do compositor.

A inspiração do médico provirá muitas vezes da corda da compaixão que vibra com facilidade num coração disposto a ajudar. Essa será a nota que dará a tonalidade para o desenvolvimento posterior da sua atuação, para os acordes harmônicos do raciocínio clínico. Gregório Marañón, médico humanista e profundo conhecedor dessa simbiose harmônica, adverte: “O médico, cuja humanidade deve estar sempre alerta dentro do espírito científico, tem de contar, primeiramente, com a dor individual; e mesmo que cheio de entusiasmo pela ciência, deve estar disposto a adotar a paradoxal postura de defender o indivíduo, cuja saúde lhe é confiada, contra o próprio progresso científico”. Ou, em palavras nossas: antes abrir mão de uma falsa ciência, do que abdicar da harmonia que beneficia o paciente.

O Dr. Issac Lobato Filho soube compor, com divina harmonia, a verdade da ciência e os valores do humanismo. Ao vê-lo nas minhas lembranças, um verso de Fernando Pessoa aloja-se no meu espírito: “Não reparamos que éramos um só, que cada um de nós era uma ilusão   do outro, e cada um dentro de si, e mero eco do seu próprio ser.”

O meu ilustre conterrâneo e estimado amigo, Dr. Zaquinho, como Paulo de Tarso a Timóteo, tinha consciência de que combateu o bom combate e guardou a fé.

É com o sentimento de que o Dr. Isaac Lobato continuará a ser uma fonte de perene inspiração e um paradigma de médico, professor e gestor, que lhe reverencio com minha homenagem, com a consciência de que o seu legado é motivo de orgulho para todos os maranhenses e catarinenses.

Georgino Melo e Silva.

 

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