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Fiesc: SC é um estado fora da curva

População de Santa Catarina aumenta 3,3 vezes mais do que a média brasileira enquanto a economia cresce quatro vezes mais rápido, ofertando empregos e atraindo novos moradores.

 

O intervalo entre os censos de 2010 e 2022 marcou uma nova etapa no histórico de crescimento populacional do Brasil. Com uma taxa média de 0,52% ao ano, o País jamais cresceu tão pouco desde o início da série histórica iniciada no longínquo ano de 1872. Em comparação com o período imediatamente anterior coberto pelo Censo (2000-2010) a taxa foi reduzida à metade. Como resultante, a população brasileira em agosto de 2022 somava 203,06 milhões de habitantes, de acordo com o Censo Demográfico divulgado este ano pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o que representou uma variação de 6,5% em relação ao registrado em 2010.

Em contraste com a desaceleração do crescimento geral, Santa Catarina se destacou como ponto fora da curva. A taxa de crescimento populacional no Estado foi 3,3 vezes maior do que a média nacional no período. A população elevou-se 21,8% desde então, chegando a 7,61 milhões de moradores. Em termos percentuais, somente Roraima cresceu mais, porém seus dados são distorcidos pela pequena base de comparação (com pouco mais de 600 mil habitantes atualmente, Roraima é o estado menos populoso do Brasil) e inflados pela inusual corrente migratória proveniente da Venezuela.

Em números absolutos Santa Catarina também se destaca. Contabilizando 1,3 milhão de moradores a mais do que na última contagem, o Estado só recebeu menos novos habitantes do que São Paulo. Enquanto isso, estados como Rio de Janeiro, Bahia e Rio Grande do Sul ficaram estagnados, sendo que suas capitais sofreram grande declínio populacional, em favor das cidades médias. O crescimento das cidades médias em detrimento das grandes é uma das tendências captadas no Censo 2023, e esse é justamente o porte das maiores cidades catarinenses – Joinville, o município mais populoso, tem 616,3 mil habitantes, e apenas mais duas cidades, Florianópolis e Blumenau, têm mais de 300 mil habitantes. Entretanto, a atração que as cidades catarinenses exercem não se resume às suas dimensões.

O Censo não estabelece relações diretas entre o crescimento populacional e o desempenho econômico, mas informações compiladas pelo Observatório FIESC, que reúne a maior base de dados socioeconômicos do Estado, demonstram quais foram os principais pilares do destacado crescimento populacional em Santa Catarina, e de que maneira diversos fatores se entrelaçaram para originar os resultados. A começar pela geração de riquezas, o Produto Interno Bruto (PIB).

Entre 2010 e 2020 o PIB brasileiro ficou, na média, praticamente estagnado: crescimento médio anual de 0,3% no período, uma variação ainda menor do que o já baixo crescimento populacional médio. Grosso modo, o dado aponta para uma redução do PIB per capita e uma possível redução da produtividade da economia brasileira. Em Santa Catarina, ainda que o ritmo de crescimento do PIB tenha sido modesto (1,3% ao ano), foi quatro vezes maior do que a média nacional, sustentando o crescimento populacional e ao mesmo tempo se beneficiando dele. Graças ao descolamento, a participação de Santa Catarina no PIB nacional elevou-se: era de 4,2% em 2010 e passou a 4,6% em 2020.

Em função da economia mais acelerada, o Estado ofertou vagas de emprego em grande quantidade. Nos últimos três anos a taxa de desemprego catarinense situou-se abaixo da metade da média nacional, ficando em 3,5% no segundo trimestre de 2023, uma situação de pleno emprego na prática.

“É importante destacar que além de ter mantido baixíssimos níveis de desocupação nos últimos anos, Santa Catarina é o estado brasileiro com maior índice de formalização do emprego”, afirma Mario Cezar de Aguiar, presidente da FIESC. De acordo com o Observatório, a informalidade no Estado atinge 26,6% da população ocupada, enquanto a média brasileira é de 39,2%.

Em períodos recentes, a construção civil é a maior fonte de novas vagas na indústria, segundo o Observatório FIESC. Nos anos de 2021 e 2022 o setor teve saldo positivo de 23 mil vagas, praticamente o triplo do setor que ficou em segundo colocado, o de alimentos e bebidas, beneficiando-se do ciclo de juros baixos que perdurou até meados do ano passado. Não se trata de grandes obras de infraestrutura, tão necessárias ao Estado, mas sim da construção de edifícios, principalmente. Quem faz uma viagem de carro pelo litoral Norte de Santa Catarina pode enxergar com clareza o que está por trás dos números.

O município de Balneário Camboriú notabilizou-se por ostentar os prédios mais altos do Brasil, receber celebridades como moradores e registrar o preço do metro quadrado mais alto do País. A população cresceu de 108 mil para 139 mil moradores, evolução de 28,7% desde a última contagem. Um salto e tanto, considerando os altos preços locais e a baixa disponibilidade de terrenos. Números ainda maiores são observados no entorno.

Valorização | A cidade de Camboriú, localizada ao lado de Balneário, teve um acréscimo de mais de 40 mil moradores no período entre os censos, chegando a 103 mil, o que representou um salto populacional de 65% – e nesse caso é seguro afirmar que ali se estabeleceram muitos trabalhadores da construção que migraram para o Estado em busca de oportunidades. Na também vizinha Itapema, a população saltou de 45,8 mil para 75,9 mil moradores (65,7%), e em Porto Belo o crescimento foi de 72,2%, totalizando 27,7 mil moradores. Em todos esses municípios a construção andou a todo vapor nos últimos anos. Na pequena Porto Belo, por exemplo, entre 2020 e o primeiro semestre de 2023 foram concedidos quase 200 alvarás para construção de prédios, de acordo com a prefeitura. Em metros quadrados autorizados representa ainda mais do que Balneário Camboriú no mesmo período.

O mercado imobiliário dessas cidades cresce não apenas para atender à população que aflui para o litoral catarinense para viver, mas também para sustentar a crescente demanda turística. “Camboriú se tornou uma opção inteligente, seja para quem quer morar ou para quem quer investir, já que a projeção de valorização futura é muito maior do que em áreas que já estão com os preços nas alturas”, diz Filipe Pitz, CEO da PZ Empreendimentos, uma das incorporadoras do projeto Parque Camboriú, em construção na cidade vizinha a Balneário, com 447 apartamentos e entrega prevista para 2027. Ele afirma que 44% dos clientes compraram imóveis com a intenção de alugar. O Censo revelou que 10% dos domicílios de Santa Catarina são de uso ocasional, ou “turístico”, o que representa a maior taxa do País.

Outras cidades litorâneas cresceram nos últimos anos impulsionadas pelas operações portuárias. Itapoá é o município que mais cresceu em Santa Catarina. Desde 2010 a população mais do que dobrou (108,3%), chegando a 30,7 mil habitantes. O principal motor é o Porto Itapoá, inaugurado em 2011, que vem sendo continuamente ampliado desde então. Em Navegantes, o terminal privado Portonave começou a operar em 2007 e a população cresceu 42,7% desde o Censo de 2010 – 86,4 mil moradores –, enquanto a vizinha Itajaí atingiu 264 mil habitantes, com expansão de 44% (leia mais sobre Itajaí na matéria subsequente). As também portuárias Imbituba e São Francisco do Sul cresceram 30,9% e 23,9%, respectivamente.

Navegantes e Itajaí: portuárias tiveram destaque nas taxas de crescimento – Foto: Eduardo Valente / SECOM

No litoral Norte também se destacam cidades como Balneário Piçarras, Tijucas, Bombinhas, Balneário Barra do Sul e Araquari, que tiveram taxas de crescimento acima de 50%, enquanto Barra Velha dobrou de tamanho. No litoral Sul, Garopaba e Imbituba, próximas ao aglomerado urbano da Grande Florianópolis, apresentaram taxas de 65% e 31%.

Palhoça | Já na Grande Florianópolis, consideradas as quatro cidades mais representativas (Florianópolis, São José, Palhoça e Biguaçu), o crescimento entre uma contagem e outra foi de 34%. O maior salto foi dado no município de Palhoça. Com extensas áreas territoriais para expansão, localização estratégica, atrativos naturais, economia forte e custo de vida mais baixo do que Florianópolis, Palhoça se tornou um polo de atração de migrantes de todo o País. A população saltou de 137 mil para 222,6 mil moradores, elevação de 62,1%, o que tornou Palhoça o sétimo maior município catarinense, suplantando Criciúma, Jaraguá do Sul e Lages.

Um dos maiores desafios de Palhoça é superar gargalos de infraestrutura – Foto: Divulgação

De acordo com levantamento realizado pela prefeitura, mais de 65% dos atuais moradores são de fora, oriundos de praticamente todas as cidades de Santa Catarina, com destaque para a região Serrana, e de todos os estados brasileiros. Já houve ondas migratórias em que se destacaram gaúchos, paulistas, nordestinos e pessoas da Região Norte do Brasil, a principal tendência atual. “Isso cria uma mistura, uma diversidade muito interessante”, afirma o prefeito Eduardo Freccia. “Quem vem para a cidade tem o objetivo de encontrar oportunidades de trabalho, e é isso que está engrandecendo o desenvolvimento de Palhoça”, diz o prefeito, que projeta sua cidade como a quinta maior economia de Santa Catarina em 2030, a se manter o ritmo de crescimento.

Ainda que integre uma grande região conurbada com fluxo intenso de negócios e serviços entre diversos municípios, Freccia ressalta que Palhoça deixou de ser uma cidade-dormitório para ganhar dinamismo econômico próprio. Só o setor de tecnologia, por exemplo, tem mais de 2 mil CNPJs registrados. O número de empregados na indústria saltou de 5,3 mil para 9,1 mil entre 2010 e 2022, de acordo a prefeitura, enquanto o estoque total de empregos formais evoluiu de 29,5 mil para 50,2 mil no período.

O crescimento elevou a arrecadação e o orçamento, que saiu de cerca de R$ 400 milhões em 2010 para os atuais R$ 1 bilhão. É com esses recursos que o município tem que suprir a crescente demanda por serviços públicos em todas as áreas, como educação, saúde e saneamento, mas há gargalos principalmente na infraestrutura viária. Para enfrentá-los a prefeitura realiza obras de oito avenidas que interligam os bairros da cidade para que não haja mais a necessidade de transitar pela BR-101 ou suas marginais. A BR, a exemplo de outros municípios da Grande Florianópolis, se tornou na prática a principal avenida da cidade, com bairros se conectando somente através dela.

De acordo com o prefeito, a cidade só não cresceu mais devido ao gargalo logístico, que deve ser mitigado com as obras municipais e a conclusão do Contorno Viário de Florianópolis. Outro problema é o trecho do município cortado pela BR-282, onde o trânsito é completamente saturado. Para tentar endereçar o problema, empresários instalados às margens da rodovia se cotizaram para financiar o projeto das vias marginais e de contornos. O órgão federal DNIT afirma ter recursos disponíveis para fazer obras, mas não há projeto.

Os números do Censo mostram claramente a tendência de crescimento populacional e da economia catarinense no litoral, principalmente entre a Grande Florianópolis e o Nordeste do Estado. Se, no mapa, os municípios que cresceram forem pintados de azul e os que perderam população forem preenchidos em vermelho (veja nesta página), toda a faixa litorânea é azul – a exceção é Laguna, no Sul, que teve decréscimo populacional devido à emancipação do município de Pescaria Brava. Já a faixa correspondente ao Planalto Serrano e ao Planalto Norte é quase toda pintada de vermelho – a exceção fica para as maiores cidades, Lages, Curitibanos e Canoinhas, que tiveram crescimentos populacionais modestos, na faixa de 5%. Tudo somado, parece clara a tendência de estagnação na região. No Oeste, por outro lado, ainda que se apresentem muitas ilhas vermelhas, as principais cidades tiveram crescimento vigoroso, em grande parte pela força da indústria, conforme se demonstra na matéria subsequente.

foto de capa – Centro de Florianópolis: região metropolitana da capital cresceu mais de 30% –  Shutterstock

 

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