Destaques

Filme de Heitor Caramez sobre o pai, Eloy Gallotti, tem exibição dia 16, no Joia, com debates

O pai de Eloy Gallotti era primo-irmão da mãe do blogueiro que iniciou no jornalismo em 4 de fevereiro de 1980 no Jornal O Estado. Ele tinha acabado de ser demitido do periódico, assim como outros grandes jornalistas: Sérgio Rubim, o Canga, Jurandir Camargo e Nelson Rolim, além do chargista Bonson.

Foram eles que fundaram o Jornal Afinal, que fazia oposição ao governo Jorge Konder Bornhausen. Gallotti era jornalista de mão cheia e um esquerdista convicto. Carioca de nascimento sua origem é na família Gallotti de Tijucas.

O texto e as informações são do Jornal do Brasil

‘Meu caro Michel’ faz uma reconstrução poética e política da vida do jornalista pelo olhar do seu filho

Por CADERNO B
redacao@jb.com.br

A partir de uma carta que chega a seu destino quase 50 anos depois, Heitor Caramez, filho do jornalista Eloy Gallotti, procura investigar quem foi a figura do seu pai. Esta é a história do documentário “Meu caro Michel” (2024, 85’), que estreou em 22 de abril em Florianópolis, teve exibição em 6 de maio, em Blumenau, na Fundação de Cultura, e agora chega ao Rio de Janeiro.

A exibição será nessa quinta-feira (16), às 19h30, no Cine Joia, em Copacabana. No dia 17, a exibição será no Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ, no Largo de São Francisco, onde Eloy estudou. As sessões serão seguidas de debate com o diretor Heitor Caramez.

 


O filho-diretor Heitor Caramez Foto: Acervo do filme

Através de uma montagem poética com as cartas, diários, poemas e jornais deixados por Eloy, entrevistas com familiares, amigos e colegas de jornalismo, imagens de arquivo e animações, o filme conta a sua história, apresentando também um panorama das suas visões políticas inseridas no embate à ditadura militar e a produção em Florianópolis do jornal independente “Afinal”, no começo dos anos 1980.

‘Meu caro Michel’ é uma produção da Lua Filmes e Vedere Marketing, e um projeto contemplado pelo Prêmio Catarinense de Cinema 2020, executado com recursos do Estado de Santa Catarina por meio da Fundação Catarinense de Cultura, e tem apoio técnico do NPD/IFSC Campus Florianópolis.

Neste link é possível ver o trailer e acessar o acervo de todas as edições do Afinal.

Uma trajetória intensa


Páginas do jornal ‘Afinal’: estilo Pasquim Foto: Acervo do filme

 

Eloy Gallotti (Rio de Janeiro, 1952 – Florianópolis, 1999), falecido quando Heitor tinha 12 anos, teve uma trajetória intensa nos movimentos estudantis, como professor, ativista da contracultura e jornalista. Foi membro do jornal “Afinal”, tabloide editado em Florianópolis entre 1980 e 1983 e ícone da imprensa alternativa, representando um papel semelhante em Santa Catarina ao jornal “Pasquim” em âmbito nacional.

 


Redação do jornal ‘Afinal’ Foto: Acervo do filme

 

 

O “Afinal” surgiu a partir da demissão coletiva dos seus membros do jornal “O Estado”, após a cobertura da “Novembrada”, episódio de confronto popular com o presidente João Figueiredo em Florianópolis, em 1979. O povo protestava quanto às panelas vazias, em reação à promessa do governo do general Figueiredo de “encher a panela do povo”. O presidente e ministros desceram à rua para brigar. Mais tarde, jornalistas do “Afinal” foram denunciados na Lei de Segurança Nacional e, embora civis, foram julgados por um tribunal militar, tendo sido absolvidos da acusação de propaganda adversa.


Novembrada: panelas vazias Foto: Acervo do filme

 

O filme parte da busca a Michel Misse, amigo de Gallotti e colega do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ, para quem ele escreveu a carta que nunca havia sido entregue. Entrevista amigos do tempo da universidade, pessoas que foram duramente atingidas pela ditadura no Rio de Janeiro e mantiveram um círculo de amizade de quase cinco décadas, passa pelo autoexílio de Eloy na França, o retorno ao Brasil, a vida em Florianópolis, a “Novembrada”, o jornal e as agitações culturais nos bares, incluindo o Ceca – Centro Etílico, Cultural e Artístico e uma viagem à China, em 1987.

Eloy Gallotti também fez parte da realização do julgamento “Cem Anos Humilhação”, na UFSC, em 1995, sobre a mudança do nome da cidade, que homenageia o marechal Floriano Peixoto (1891-1894), segundo presidente do Brasil, responsável pelo massacre de 187 opositores na Ilha de Anhatomirim.

***
Buscas em arquivos do SNI

Para essa reconstrução da multiplicidade da vida de Eloy foram feitas 30 entrevistas e mais de 40 horas de filmagens. A pesquisa incluiu buscas em inúmeros acervos, como os do Serviço Nacional de Informações (SNI), no Arquivo Nacional no Rio de Janeiro, já que os membros do “Afinal” e amigos em comum foram vigiados e fichados durante anos. O documentário preenche ainda uma lacuna nos registros do que foi a ditadura militar em Santa Catarina.

O filme cita nomes da referência da imprensa catarinense, como o chargista Bonson, do jornal “O Estado”, padrinho do diretor, com a animação de uma de suas charges. A foto do cartaz é do jornalista, fotógrafo e historiador Celso Martins e as fotos da cobertura da “Novembrada” são de Dario de Almeida Prado. A produção também realizou uma das últimas entrevistas com o jornalista Carlos Damião antes do falecimento em 2022, que estará no site do projeto.

Entrevistas:

Alzemir Machado, Ana de Oliveira, Carlos Damião, Claudia Barcellos, Dario Almeira Prado Jr, Evandro Ouriques, Flavio Espedito de Carvalho, Francisco Giannattazio Neto (Lord K), João Galdino, Marcio de Souza, Marcio Dison, Maurício de Oliveira, Michel Misse, Nelson Rolim, Nelson Wedekin, Paulo Afonso (Piroco), Rosângela Koerich, Sergio Rubim (Canga), Reginaldo da Silva Cordeiro, Utah Schweitzer. Familiares: Eloy Côrtes Menezes Cortes, Gilberto Menezes Côrtes, Heloisa Côrtes Gallotti Peixoto, João José Côrtes Gallotti Peixoto, Matheus Quaglia Peixoto, Cecilia Peixoto, Maria Alice Côrtes Gallotti Peixoto, Marta Côrtes Gallotti Peixoto, Renato Côrtes de Lacerda.

Sobre o diretor:

Heitor Caramez Peixoto é cineasta, editor, realiza captação e pós-produção sonora. Sua pesquisa é voltada para estudos sobre cinema, jornalismo alternativo, ditadura e narrativas. Realizou mestrado em Literatura pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC – 2016-2018), onde desenvolveu pesquisa sobre narrativas cinematográficas. Dirigiu o curta-metragem “Que cheiro de grama cortada no frio” (2009) e o documentário “Cena Criativa” (2022), sobre políticas públicas no cenário do teatro em Santa Catarina, onde também ministrou uma oficina de documentário para escolas ligadas ao MST. É diretor de som, produtor e diretor de fotografia e editor em diversas produções.

Ficha técnica:

Direção e roteiro: Heitor Caramez / Assistência de direção: Chico Caprário / Produção Executiva: Emanuelle Weber / Direção de Produção: Reno Caramori / Direção de fotografia e câmera: Diego Canarin / Assistência de fotografia e câmera: Pedro Sanchez e Michele Diniz / Técnica de som direto: Marcelo Ribeiro / Direção de arte: Bruna Granucci / Pesquisa: Adriane Canan e Barbara Pettres / Trilha sonora: Leonardo Aquino / Montagem e finalização: Rodrigo Amboni / Edição de áudio e mixagem: Heitor Caramez / Animação: Rodrigo John / Classificação indicativa: 14 anos | 85 minutos.

Posts relacionados

Florianópolis é Ouro também em Transparência

Redação

Oposição quer holofotes

Redação

Santa Catarina está entre os três estados do país com o menor percentual de moradores em favelas

Redação
Sair da versão mobile