Infraestrutura e armazenagem são os dois principais gargalos na produção de milho no Sul do país. Com uma produção cada vez maior de milho, o Brasil caminha a passos largos para se tornar um grande exportador do grão. Enquanto isso, Santa Catarina se consolida como grande produtor de carnes e um dos maiores importadores de milho do país. Para tratar desse desequilíbrio entre a produção e demanda do grão, o Fórum Mais Milho reuniu lideranças do agronegócio e dos três estados do Sul em Chapecó, nesta terça-feira (13).
Durante a abertura do evento, o governador Raimundo Colombo fez questão de destacar a força do agronegócio catarinense e a importância da cooperação entre produtores de milho e agroindústrias em busca do equilíbrio. “Estamos aqui para, juntos, apontar e construir caminhos para continuar plantando, cada vez mais, com produtividade e com rentabilidade para os produtores. Com isso, as indústrias se beneficiam e o fortalecimento do agronegócio é bom para Santa Catarina e bom para todo o Brasil. Nós precisamos disso”, afirmou.
Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná são importantes produtores de carnes e leite e, por isso, grandes consumidores de milho – afinal, 75% da ração animal é composta pelo grão. Só o setor produtivo de carnes em Santa Catarina consome seis milhões de toneladas de milho/ano, ou seja, o dobro do que o estado produz. Porém, quando o assunto é produção de milho, os três estados têm grandes diferenças.
Com uma safra esperada de mais de 18 milhões de toneladas este ano e o consumo das agroindústrias girando em torno de 13 milhões de toneladas/ano, o Paraná exporta milho. O Rio Grande do Sul também caminha para que a produção consiga suprir sua demanda. No meio desses dois estados, está Santa Catarina – o maior comprador de milho do Brasil. Só a empresa Aurora Alimentos, sediada em Chapecó, consome 120 mil toneladas de milho por mês, ou seja, são 90 mil sacos por dia.
“Nós podemos aumentar a produtividade e até mesmo aumentar a área plantada, mas não seremos autossuficientes na produção de milho. E isso não é um problema porque significa que somos grandes produtores de carnes e leite. Estamos preocupados com o equilíbrio de preços para que tanto os produtores do grão quanto os produtores de suínos e aves tenham competitividade”, destacou o secretário da Agricultura de Santa Catarina, Moacir Sopelsa.
Entre os principais problemas apontados pelo presidente da Aurora Alimentos, Mario Lanznaster, está a falta de infraestrutura para o transporte do milho desde as regiões produtoras, como no Centro Oeste do país, até Santa Catarina. “Onde tem milho, existe frango e suíno. Ou a ferrovia vem até Santa Catarina ou as agroindústrias começarão a migrar para o Centro Oeste”, ressaltou.
Outro grande gargalo é a falta de armazéns. A capacidade estática de estocagem de Santa Catarina é de 4,5 milhões de toneladas, o que na época da colheita se torna insuficiente. “Sem uma segurança de transporte e armazenagem, nós sempre vamos pagar mais caro pelo milho”, lembrou Sopelsa.
Entre as alternativas apontadas pelos painelistas do Fórum Mais Milho está a implantação de uma política de mercado futuro para o grão, assim como existe para a soja. Ou seja, os produtores se comprometem a vender parte da produção a preço fixo para as cooperativas ou agroindústrias. Em Santa Catarina, uma iniciativa como esta já foi implantada com o Programa de Incentivo ao Plantio de Milho, que, no ano passado, garantia R$ 34 por saca de milho.
TAMBÉM NO RIO GRANDE DO SUL
O secretário da Agricultura do Rio Grande do Sul, Ernani Polo, já planeja reuniões com produtores de milho e representantes de cooperativas e agroindústrias para tratar do assunto. E o exemplo das safras 2015/16 e 2016/17 pode ser um estímulo para os produtores. Na última safra, o milho chegou a ser vendido por R$ 50 a saca e este ano o preço já gira em torno de R$ 23 a saca. Em Santa Catarina, alguns produtores não aderiram ao Programa de Incentivo ao Plantio de Milho pensando que perderiam dinheiro ao receber R$ 34/ saca, hoje esse valor já supera em R$ 11 o preço da saca.
Esse mercado futuro para a compra de milho pode funcionar também fora dos limites do estado. O milho destinado para exportação no Paraná poderia abastecer as cooperativas e agroindústrias catarinenses, por exemplo. O secretário da Agricultura paranaense, Norberto Ortigara, acredita que o estado pode crescer ainda mais em produtividade e área plantada, aumentando os lucros para os produtores e diminuindo os custos de produção.
Segundo o secretário adjunto da Agricultura de Santa Catarina, Airton Spies, buscar alternativas para o equilíbrio entre a oferta e a demanda de milho é fundamental para o estado, já que 29% do Produto Interno Bruto catarinense tem origem no agronegócio. “Milhares de famílias estão envolvidas na cadeia produtiva de carnes em Santa Catarina e a base disso está na produção de grãos”.