Coluna do dia

Guerra em SC

Numa guerra, a primeira grande vítima costuma ser a verdade. A regra, apesar dos novos tempos, segue valendo. Até quinta-feira, no contexto conturbado do processo de impeachment de Moisés da Silva e Daniela Reinehr, o que mais se ouvia eram especulações de toda sorte. Inclusive com informações saindo do palácio sobre possíveis placares, bancadas divididas, influência de líderes e outras questões.

Como nada se comprovou na prática, fica a dúvida: ou o governo, que ainda está em Santa Catarina, não sabe fazer contas, ou tentou ganhar meio no grito, espalhando inúmeras versões e possibilidades inexistentes. O fato mesmo é que o placar de 33 votos a favor do impedimento do governador, e 32 pelo impeachment da vice, foi acachapante. Histórico e que leva a momento inédito em Santa Catarina: a formação da comissão mista com cinco deputados e seis desembargadores (conta-se com presidente do Tribunal de Justiça, que vai conduzir a nova fase) para o andamento do processo.

Isso jamais havia ocorrido na história política do estado.

Esperando um milagre

Tanto o governador como a vice declaram confiar na Justiça, ainda alimentando esperanças de seguirem a bordo dos mandatos. Mas eles precisam mesmo é de um milagre. Na composição com cinco deputados, só mesmo a intervenção divina para que os dois possam contar com pelo menos um voto. Os outros cinco votos serão de magistrados. Não é de hoje, nem será diferente daqui em diante, as estreitas relações entre deputados e desembargadores. Há vasos comunicantes e influências mútuas. Para que pelo menos cinco dos seis juízes fiquem ao lado de Moisés e Daniela, só mesmo com um milagre!

Arrumando as gavetas

A cassação do governador e da vice é iminente. Questão de tempo. Se o processo passar na comissão mista, como tem tudo para passar, eles serão afastados por até 180 dias. Se a degola for concluída em 2021, como o ritmo dos trabalhos indica que ocorrerá, aí haveria eleições indiretas no estado. Significa que os 40 deputados escolheriam o novo governador.

Saída pela direita

A celeuma em torno do pleito indireto começa a criar um coro, aqui e acolá, pela renúncia de Moisés da Silva e Daniela Reinehr. Somente assim se vislumbraria a possibilidade de novas eleições gerais, facultando a todos os eleitores catarinenses a chance de definir seus novos governador e vice.

Numerologia

Eleito na onda 17 num embalo poucas vezes visto na história, Moisés da Silva recebeu 71% dos votos válidos no segundo turno.

Coincidentemente, foi num dia 17 (de setembro, quinta-feira) que o plenário da Alesc praticamente selou o afastamento, e posterior cassação, dele.

Contrastes

Enquanto é possível destacar as posições firmes e coerentes dos deputados Vicente Caropreso (PSDB) e Bruno Souza (Novo) durante todo o processo e votação de impeachment, o mesmo não se pode dizer de Ricardo Alba (o mais votado em 2018) e Rodrigo Minotto.

Alba foi “fiel” a Moisés da Silva até o último instante. Alardeava recursos, obras e ações do “governador Moisés” para Blumenau e região. Na hora decisiva, contudo, votou pela continuidade do impeachment.

Contrastes 2

Minotto também posou para inúmeras fotos ao lado do governador, sempre fazendo questão de aparecer como deputado governista, articulado e canalizador de recursos para o Sul, sua base. Nos bastidores, era um dos poucos que tinha trânsito no palácio.

Um dia antes da votação do impeachment, ele pediu licença (fugiu, literalmente) e deu lugar ao suplente César Valduga, do PCdoB, de Chapecó. O acordo era para Valduga votar contra o prosseguimento do processo. Ele, contudo, posicionou-se na trincheira oposicionista. Um festival de incoerências.

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