O eleitorado catarinense é essencial e potencialmente conservador. Disso não resta a menor dúvida. Basta observarmos o histórico eleitoral desde 1982, quando foram restabelecidas as eleições diretas para governadores.
Santa Catarina jamais elegeu um governador de esquerda. O que chegou mais perto foi Jaison Tupy Barreto, que perdeu para Esperidião Amin por apenas 12,5 mil votos, algo em torno de 0,5% dos votos. O então emedebista passou raspando exatamente no pleito de 82.
Depois, tivemos a onda vermelha com Lula da Silva em 2002, quando José Fritsch por pouco não carimbou o passaporte para o segundo round. Faltaram a ele 3% dos votos. Quem encarou o turno decisivo contra o governador à época, Esperidião Amin, foi Luiz Henrique da Silveira, do MDB. O emedebista surpreendeu e ganhou a eleição.
O terceiro episódio ocorreu agora em 2022, quando Décio Lima, do PT, chegou ao segundo turno. Muito mais pela pulverização das candidaturas de centro e de direita, com cinco nomes contra apenas um da esquerda, o próprio Décio.
Tibieza
Ou seja, o petista chegou lá não por sua expressiva liderança ou pelo apoio do então candidato Lula. No segundo turno do último pleito, todo mundo já sabia qual seria o resultado em SC. A candidatura de direita com Jorginho Mello atropelou o PT e as esquerdas. Foi uma verdadeira lavada.
Não se cria
Esse retrospecto é apenas para deixar caracterizado que em SC não há espaço para candidaturas de esquerda. O estado tem o segundo eleitorado mais politizado do país, ficando atrás apenas dos vizinhos gaúchos.
Olho vivo
Por aqui, o eleitor tem capacidade de discernimento, a maioria não entra em narrativas, promessas mirabolantes, conversa-mole. O catarinense não costuma votar em oportunistas, salvo algumas exceções.
Bolsonarismo
Além disso, Santa Catarina é um estado bolsonarista. Basta olhar o fenômeno Carlos Moisés em 2018. Um ilustre desconhecido que virou governador. Foi eleito de graça para pilotar o estado.
É ou não?
João Rodrigues, prefeito de Chapecó, favorito à reeleição na cidade, é do PSD. O oestino fica posando de bolsonarista, mas seu partido está fechadíssimo com o governo Lula. Ocupa três ministérios na gigantesca esplanada sob Lula III. A bancada do PSD no Senado é a maior. E faz bloco com quem? Com o PT.
Lorota
Então, é difícil querer enrolar os catarinenses com esse papinho quando a realidade é que o PSD é governo Lula, é parceiro de primeira hora do PT.
Militância eletrônica
João Rodrigues não fica 15 dias sem gravar um vídeo solidarizando-se com Jair Bolsonaro ou apoiando alguma bandeira da direita e do ex-presidente. Tenta sinalizar que está afinado com o ex-presidente. Algumas vezes chega ao cúmulo de forçar a barra, querendo parecer mais bolsonarista do que o próprio Bolsonaro! A dúvida é: quem Rodrigues está traindo? Seu partido ou Jair Bolsonaro?
Lado
Não seria melhor o prefeito assinar ficha no PL, partido que causa arrepios na espinha canhota? Não se sabe, aliás, se Rodrigues seria aceito nas hostes do partido. Ocorre que João Rodrigues encontra-se na expectativa de que Jair Bolsonaro venha a apoiá-lo neste pleito municipal.
Impedimento
Se o PL lançar um candidato em Chapecó, contudo, Bolsonaro fica impedido de prestigiar o palanque pessedista. Por mais que seja amigo do chapecoense.
Personalista
Há outro aspecto relevante neste cenário. Ao mirar apenas seu projeto pessoal de reeleição em Chapecó, João Rodrigues perde de vista que, em outros municípios, o PT poderia descarregar, até pela circunstância nacional, votos no PSD.
Alternativas
Os petistas poderiam ajudar candidatos do PSD no segundo turno, ou em composições, ou lançando um número maior de candidaturas para favorecer o nome mais forte.
Porta fechada
Mas Rodrigues só olha para o próprio umbigo, o que já começa a criar um desconforto entre seus próprios correligionários. Até porque, em todos os municípios, o PT tem sua fatia de eleitores. Percentual que, em alguns casos, pode decidir o pleito.
Nariz torcido
Prefeitos, especialmente no Oeste catarinense, andam contrariados. Na região, o PT costumava estar com o MDB. Os vermelhos, no entanto, estavam dispostos a procurar novos parceiros. Mas não os encontrarão nas fileiras pessedistas, considerando-se que Rodrigues e outros líderes declaram que a sigla, em Santa Catarina, é de direita. Outro detalhe: dizem que o PSD local é conservador, mas o partido não participa e nem apoia o governo de direita pilotado por Jorginho Mello.