Muito mais do que gostar ou não do horário de verão, é preciso analisar se a medida é realmente eficiente e traz benefícios para a população. Ouvindo o apelo da população que sofre com a mudança de rotina que acontece em virtude do adiantamento dos relógios, o deputado federal Valdir Colatto apresentou o PL 397/2007 na Câmara dos Deputados.
Estudo recente do Ministério de Minas e Energia reforça o posicionamento que Colatto sustenta há mais de 10 anos: o horário de verão não faz com que economizemos energia. Quando o horário de verão foi adotado no país, em 1985, o momento de pico surgia no início da noite, das 17h às 20h, porque era um horário que conjugava atividade industrial e empresarial com a iluminação pública e o acender das luzes nas residências, uso de chuveiro elétrico, por exemplo.
No entanto, o perfil de consumo diário de energia foi se modificando, de tal maneira que hoje em dia o que se observa é que o pico de consumo não necessariamente ocorre mais no início da noite e sim no meio da tarde. “Se o principal argumento para adoção do horário diferenciado passou a ser questionado pelo próprio governo, é sinal de que não vale a pena continuar com essa mudança”, advertiu o deputado Colatto. “Não há maneiras de comprovar a economia de energia atribuída ao horário de verão”. A afirmação é do mestre em energia solar, Alexandre Heringer Lisboa.
A economia com a adoção do horário de verão, na ordem de 0,5%, está abaixo da margem de erro. De acordo com Lisboa, “analisando dados do Operador Nacional do Sistema (ONS), é possível observar que durante o verão, a demanda máxima de energia ocorre no início e meio da tarde, e não no final, para justificar o aproveitamento da luz natural”. Para além da questão energética, a saúde do brasileiro também é afetada pela medida do governo.
A tese de doutorado produzida por Weily Toro Machado na Universidade Federal de Pernambuco, intitulada “Três ensaios sobre os efeitos econômicos do horário de verão utilizando regressão descontínua” traz números alarmantes. Com base nos dados do Sistema Único de Saúde, Machado constatou que, com o início do horário de verão, sobem em 6-8% os casos de internações por diabetes mellitus e aumentam em 7-8,5% os casos de mortes por complicações cardíacas.
Da mesma forma, o médico especialista em cardiologia, Guilherme Honório Pereira, utiliza estudos norte-americanos para apontar o aumento de 25% no número de ataques cardíacos na segunda feira após início do horário de verão. Já no final deste horário foi verificada a queda no número de infartos em 21%. Para além disso, existem estudos que comprovam o aumento do número de suicídios, em decorrência de depressão causada por distúrbios do sono; aumento nos acidentes nas estradas, atribuído à sonolência diurna; diminui o rendimento escolar de crianças e jovens; e as consequências de erros profissionais que podem acabar em morte.
Colatto defende que o horário de verão seja extinto, visando a melhoria na qualidade de vida da população. “Os trabalhadores rurais são os que mais relatam as consequências do horário diferenciado. O desconforto que a adoção deste horário acarreta é experimentado por todos que são obrigados a acordar mais cedo, incluindo as crianças”, destacou Colatto.
Se o projeto de lei não for aprovado nas próximas semanas, o horário de verão deve entrar em vigor no dia 15 de outubro. Extinguido em mais de metade do país, hoje, somente os estados do sul, sudeste e centro-oeste continuam adotando o horário de verão. Nessas regiões, o relógio deve ser adiantado em uma hora até o dia 18 de fevereiro de 2018. Urgência Colatto informou que vai pedir regime de urgência, para votação do projeto de lei no Plenário da Câmara dos Deputados e em seguida trabalhará para aprovar o texto rapidamente no Senado.
“Assim, com uma lei sancionada, garantimos que o horário de verão não voltará a ser implantado”, pontuou o parlamentar catarinense. Audiências Para reforçar o posicionamento contrário a adoção do horário de verão, na próxima semana, Colatto deve se reunir com o ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho e com o presidente da república, Michel Temer. “Nossa intenção é apresentar os estudos que já foram feitos, especialmente dos malefícios para a saúde e enfatizar a vontade da população”, finalizou o deputado Valdir Colatto.
Foto>Ag. Câmara, divulgação