“A condução da política fiscal não pode ser contaminada por interesses políticos. Isso gera um ambiente de incertezas que afeta a confiança do industrial e, por consequência os investimentos, sem os quais a economia não cresce”, afirmou. No caso de Santa Catarina, o índice que mede a confiança está há praticamente um ano abaixo da linha dos 50 pontos —, o que indica falta de confiança do empresário.
Para a FIESC, no cenário atual, é altamente improvável que o Brasil consiga cumprir a meta de déficit zero (equilíbrio entre receitas e despesas do governo). Isso se deve, em boa medida, por dois fatores principais na avaliação da entidade: 1) o governo tem expectativa de arrecadação extra de R$ 168 bilhões, o que é muito difícil de se confirmar; 2) o PIB precisaria crescer cerca de 3% no ano que vem — e as projeções recentes do Banco Central indicam alta de 1,51%.
Apesar das projeções indicarem a inflação dentro da meta (teto de 4,5%) para o ano que vem, o cenário de incertezas não permite avançar para uma redução mais significativa da taxa de juros brasileira, que deve fechar 2024 em 9,25%, o que é uma taxa real (descontada a inflação) ainda elevada.
Em sua apresentação, Aguiar destacou, ainda, que o aumento do déficit público e a elevação dos gastos podem, num primeiro momento, gerar uma percepção de melhora no ambiente econômico pela injeção de dinheiro no mercado. “Mas isso não se sustenta no longo prazo. O país precisa cortar gastos. É um remédio amargo, mas necessário. Trata-se de implantar uma mudança cultural, saindo de déficits para superávits consecutivos, que podem iniciar um círculo virtuoso na economia”, declarou.
A FIESC defende que o Estado precisa focar no ganho de eficiência. “Precisamos migrar das despesas para os investimentos. São eles que dão sustentabilidade à economia no médio e longo prazos e geram crescimento e desenvolvimento para o país”, completou.
O presidente da FIESC também chamou a atenção para o cenário externo mais desafiador, por conta de questões geopolíticas e da provável manutenção dos juros elevados nos Estados Unidos e na Europa — condição que tende a começar a mudar só a partir do segundo trimestre de 2024. Juros elevados em economias como a norte-americana desestimulam a entrada de investimentos para as emergentes, como o Brasil.
🔵 Resumo dos indicadores
🟢 Onde SC avançou em 2023: Santa Catarina é a sexta maior economia do país e a participação catarinense no PIB do Brasil passou de 4,6% em 2020 para 4,8% em 2021, conforme dados do IBGE. Além disso, o estado tem o terceiro maior PIB per capita do país (R$ 58,4 mil) — atrás apenas de do Distrito Federal e do Mato Grosso do Sul.
🟢 Emprego industrial: De janeiro a outubro de 2023, a indústria catarinense registrou o quarto maior saldo de empregos com carteira assinada do país, com 32,1 mil vagas. Entre os setores que mais geraram vagas estão: construção civil, alimentos e bebidas, produtos químicos e plásticos e metalmecânica e metalurgia.
Outro indicador de destaque é a taxa de desemprego catarinense, de 3,6% (a média nacional é de 8,2%). A taxa de informalidade do estado é a menor do país (26,8% contra 39,1% da média nacional) e o rendimento médio do trabalho é de R$ 3.392, enquanto no Brasil esse valor é de R$ 3.014.
🟢 Prévia do PIB: O Índice de Atividade Econômica catarinense acumula alta de 2,3% até setembro. No mesmo período, o Brasil cresceu 2,8%. O indicador, medido pelo Banco Central, é considerado uma prévia do PIB. A dinâmica de crescimento da economia catarinense se deve, sobretudo, aos setores de serviços e comércio. A resiliência do mercado de trabalho formal, bem como a manutenção do rendimento médio do trabalhador acima do patamar pré-pandemia são fatores que vêm estimulando o consumo das famílias catarinenses em 2023.
🟢 Balança comercial: Apesar da desaceleração econômica dos principais parceiros comerciais catarinenses, o estado registrou em 2023 (janeiro a novembro) o segundo maior montante exportado da série histórica de US$ 10,6 bilhões. Entre os principais parceiros comerciais destacam-se: China (14,8% participação), Estados Unidos (14,6% participação), Europa (13,4%), Argentina (7,3%), México (6,1%), Chile (5%), Japão (3,8%) e Paraguai (3,1%). No mesmo período, as importações totalizaram US$ 26 bilhões, o segundo maior montante da série histórica. Entre os principais parceiros destacam-se: China (40,5% de participação), Europa (17,1% participação), Estados Unidos (7,3%), Chile (6,3%) e Argentina (5,6%).
🟡 Produção industrial: No acumulado do ano até setembro, a produção industrial catarinense registrou queda de 2,1%. Entre os setores com maiores recuos estão a fabricação de móveis (-17,1%), confecção de artigos do vestuário (-10,1%), produtos cerâmicos (-9,9%) e metalurgia (-7,7%).
🟡 Estoques: Pesquisa da CNI mostra que as indústrias de Santa Catarina estão com nível de estoques acima do planejado. Esse indicador reflete a demanda interna insuficiente, que por sua vez impacta diretamente a gestão de estoques no setor produtivo.
🟡 Endividamento das famílias: Segundo dados do Banco Central, 25,3% da renda das famílias estava comprometida com dívidas (exceto as habitacionais) até setembro. Já o endividamento das famílias com operações de crédito atingiu 30,2% no mesmo período. O custo de crédito é um dos principais fatores para o nível de endividamento em patamar elevado, o que preocupa para o cenário de 2024.