“Isso pra mim é ruim, assumi há dois meses (sobre a deflagração do processo sucessório)”
Blog do Prisco – Governador, o senhor não tem a preocupação que essa situação de instabilidade política possa dificultar a liberação, a transferência dos recursos federais, que é um compromisso da presidente com o senhor e com Santa Catarina?
Colombo – A nossa situação é assim. Uma parte dos recursos são financiamentos internacionais do BID e da Comissão Andina de Fomento. Esses recursos não sofrem nenhuma influência da situação interna do Brasil. Nosso contrato com o Banco do Brasil. O BB captou esses recursos e nos disponibilizou. Não tem nada a ver com Tesouro.
Blog do Prisco – Os recursos estão sendo transferidos?
Colombo – Têm sido. Não tivemos nenhuma dificuldade até agora. O BNDES é a mesma coisa. Nos recursos do Orçamento, o maior volume é das obras de Defesa Civil, eu já estive com o ministro, a presidente ligou para ele e janeiro e fevereiro foram liberados.
Blog do Prisco – Os cortes do ministro (Joaquim) Levy não estão alcançando SC?
Colombo – Não porque são modelos diferentes. O que que nós não recebemos ainda? Como o Congresso não aprovou o Orçamento até agora, final de fevereiro, o que acontece é que esses recursos de Orçamento, Lei Kandir, recursos de exportações, eles não vieram porque dependem da aprovação do Orçamento. É um volume que nós temos para receber. A saúde, o passivo está normalizando, ela não está corrigindo. É um problema grave pra gente, agora é um momento difícil, nós temos que nos ajudar. Incendiários? Vão aparecer muitos. E vão ser aplaudidos. Faz parte desse momento. As pessoas de bom senso muitas vezes não serão ouvidas. Vão ser taxadas como pessoas que não têm coragem. Mas o Brasil precisa de um choque de bom senso. A quem interessa que as coisas entrem num conflito tão pesado e que crie até uma crise de institucionalidade? Não estou dizendo que a verdade não tenha que aparecer e prevalecer, eu não estou dizendo que mudanças importantes não precisam ser feitas. Eu quero fazer e é isso que estamos fazendo em Santa Catarina. Mas eu faço um apelo, a todo mundo, da imprensa, das instituições, aos cidadãos, que a gente procure agir com bom senso. Há uma dose de irritação muito elevada, eu acho que o momento é difícil. Nós temos que ter a capacidade, com fé, com vontade, com trabalho, de fazer um Brasil Melhor.
Blog do Prisco – A presidente Dilma vem encontrando dificuldades com o PMDB. Raimundo Colombo também? E a deflagração do processo sucessório já visando 2018, não é inadequada?
Colombo – Isso é natural do processo político. Aconteceu comigo quando terminou minha eleição ao Senado e já me lançaram a outra coisa. Quando fui candidato a prefeito, já fui lançado a outra coisa. É da tradição brasileira e vão se colocando novos nomes. Isso pra mim é ruim, assumi há dois meses.
Blog do Prisco – E a convivência com o PMDB?
A nossa convivência é boa, é normal. O processo político brasileiro precisa de um choque de modernidade.
Blog do Prisco – Mas os peemedebistas estão pressionando por cargos.
Colombo – Olha, só se estão pressionando o Serpa (Nelson Serpa, secretário da Casa Civil), eu não (risos). Vocês podem olhar. O nosso governo é talvez o mais técnico da história. Estávamos falando agora há pouco da Junta Comercial. A gente não estava tendo o nível de eficiência necessária, colocamos o melhor técnico. Na segurança pública, o secretário é técnico, mas toda a equipe é técnica. A secretaria de Educação, o secretário, por circunstância, filiou-se ao PSDB, mas é um grande técnico da Educação. Eu não quis saber qual o partido. Preciso dele.
E pode olhar, a característica do governo é basicamente neste sentido. Não quer dizer que ser político seja defeito. Pelo contrário, é virtude. É mais fácil ficar acomodado, metendo o pau. É mais difícil se expor. Na verdade, a nossa ideia é que o governo seja técnico, mas eficiente. Que a sociedade aprove o governo. Esse é o maior patrimônio político. Hoje, o patrimônio da sigla partidária, ele cada vez tem menos importância e a tua história, teu desempenho, teu compromisso, tuas atitudes têm cada vez mais importância. É importante que cada um entenda isso. Esse jogo de alianças políticas é uma deturpação do processo político. Eu acho que a primeira grande reforma do Brasil, tinha e terá que ser a política. Sem ela, esse processo vai ser cada vez pior. Vamos ser sinceros. Estamos convivendo com escândalos e prejuízos há muitos anos. Já houve alternância de poder, já se trocou pessoas com personalidade mais dócil, de personalidade mais dura, com diálogo, sem diálogo, e nós estamos andando pra trás. Então não é um problema de pessoas, é um problema do modelo.
Blog do Prisco – O senhor vai gerir o Estado, considerando o aspecto político, sinalizando lá para frente com uma nova aliança com o PMDB ou eventualmente com o PSDB e o PP na outra extremidade?
Colombo – Nós temos uma aliança política vitoriosa desde 2006 e o meu desejo é que ela continue. Agora, eu também tenho recebido apoios para a governabilidade. O PP foi muito correto comigo.
Blog do Prisco – O senhor mantém uma boa convivência então com os progressistas e o PSDB?
Colombo – Sem dúvida. Eu não sei qual vai ser o cenário em 2018. Depende também de 2016, sempre a eleição municipal tem um impacto muito grande. Às vezes, ela quebra a confiança. Eu, por exemplo, na eleição passada municipal, fiz algo que foi muito duro. Eu não fui na campanha, não participei. Eu não queria desarrumar o contexto. E fica muito difícil. Você veja, tem um município que o prefeito é de um partido, pediu votos pra mim, me ajudou, agora dois anos depois eu vou lá e digo que aquele não presta, quem presta é outro. Eu jamais diria isso. Mas só o fato de estar pedindo votos pra outro, sendo que aquele me ajudou, como é que fica assim? Essas coisas, pra quem tem vergonha na cara, são muito difíceis.
Blog do Prisco – Por falar em vergonha na cara, a decisão da Mesa Diretora da Câmara (de aumentar os privilégios dos deputados, inclusive com passagens para os cônjuges, num custo total estimado de R$ 150 milhões) foi uma provocação, um deboche.
Colombo – Eu estava lendo, esses dias, a questão do império, aquele negócio do baile fiscal, numa ilha do Rio de Janeiro. Caiu o governo logo depois. Parece que estamos vivendo uma fase parecida. Será que as pessoas não percebem?
Blog do Prisco – Falta de sensibilidade.
Colombo – Meu Deus, uma atitude absurda, um negócio incompreensível que alguém equilibrado e com bom senso aprove um negócio desses. Uma coisa insana. Mas tem muitas outras coisas iguais a essa que estão sendo feitas todos os dias.
Blog do Prisco – Qual vai ser a grande marca do segundo mandato de Raimundo Colombo?
Colombo – A da realização. Esses investimentos que nós estamos fazendo são investimentos que vão preparar Santa Catarina para o futuro em áreas essenciais. Saneamento, energia, educação, saúde, infraestrutura, mobilidade. São R$ 10 bilhões em investimentos. São recursos muito significativos. Eu tenho certeza que nós vamos continuar crescendo. Se você me perguntar qual o número que eu gosto de destacar no governo, qual é a ação que você gosta de mostrar, que me empolga? É a geração de empregos. O fato de Santa Catarina ter o segundo melhor nível de emprego do mundo, só abaixo de Cingapura, menos de 3% (de taxa de desemprego), isso pra mim é maior benção que um governante pode ter. Porque a sociedade está útil, dinâmica, está se realizando, por mais problemas que haja, o fato de você trabalhar, você ter a dignidade do teu suor, o sustento da sua família, eu considero essa uma conquista essencial.
Blog do Prisco – O senhor também tem a marca de governador que mais investiu na Polícia. São 5 mil homens há incorporados, é isso?
Colombo – Já incorporamos 5 mil, na Polícia Civil, Militar, Corpo de Bombeiros, no IGP. E agora vamos abrir outro concurso. São 658 vagas. Não vamos fazer concurso para a área burocrática. Aliás, hoje os funcionários administrativos de Santa Catarina são em menor número do que eram há 10 anos. Agora, eu não considero despesa contratar professores e policiais. Porque é o que a sociedade quer. Considero investimento. Embora a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) me estabeleça um limite e me imponha o fato de não contratar. Agora, eu vou nas ruas, eu vou nas cidades e o que as pessoas mais me pedem é isso.
Blog do Prisco – Governador, suas considerações finais, sua expectativa para o semestre e projetos?
Colombo – Temos muitos projetos. E são projetos de reforma administrativa, de modernização da máquina, de eficiência. E todos eles terão grande impacto, vão sofrer uma grande discussão. Mas isso é positivo, não temos que ter medo. Vamos continuar. Eu acho que é um semestre desafiador, tanto sob o ponto de vista de receita como do ponto de vista institucional, porque a crise vai gerar muitos desconfortos. Mas que bom que vocês estão iniciando um programa, abrindo um canal com a sociedade. Eu quero parabenizar. É exatamente isso que a sociedade espera de todos nós. O processo de realização social, você tem a mobilização como o primeiro passo, a organização como passo fundamental, mas é a conscientização que dá o rumo, dá realmente a alma da evolução de uma sociedade. E exatamente esse é o nível que está na sociedade brasileira hoje. Você chega em qualquer pessoa, de qualquer segmento, de qualquer nível social. Ele tem sua opinião, ele tem sua convicção e ele está lutando por ela. Isso é algo revolucionário no nosso país. Então ter mais um canal com jornalistas abalizados, consagrados, que vão abrir esse canal com a sociedade, é tudo de bom. Até para nos criticar. Porque se eventualmente, precisar nos puxar a orelha, façam. Isso nos torna mais fortes.
Blog do Prisco – Essa disposição do governador sinaliza para mais uma candidatura em 2018?
Colombo – (Risos) Eu sou sincero. Eu tenho 60 anos, me considero ainda jovem, com contribuição a dar. Acho que a sociedade catarinense investiu em mim. Eu disputei 10 eleições. Se somar, se for positivo eu ser candidato ao Senado, eu acho que não tem saída, seria até covarde eu não ser. Se, na conjuntura você não tiver popularidade, não tiver suporte, precisa avaliar. Eu não gostei da experiência no Senado. Acho que agora a situação da sociedade é outra. Não é uma coisa relevante, não é uma ambição. Acho que é o único espaço que eu poderia utilizar. São duas vagas, mas também é assim, se for bom pra todos a gente vai, se tiver outro em melhores condições, a gente apoia. Não é uma coisa essencial para mim.