O PSD começou a semana alinhando os ponteiros na direção da candidatura de Gean Loureiro. Mas por que com tanta antecedência esse encaminhamento, considerando-se que faltam três meses para a abertura da janela das convenções?
O cenário é cristalino. O candidato da aliança UB-PSD não tem o nome estadualizado. É conhecido somente na Grande Florianópolis. Como só um milagre trará outros partidos para o grupo, o negócio é colocar o time em campo com antecedência visando a dar mais visibilidade ao ex-prefeito da Capital. A jogada foi criar o fato. O segundo passo será o convencimento de aliados para tornar Gean mais conhecido.
Essa articulação, arriscada, atende pela letra Jᶟ, J à terceira potência. Estamos falando de Julio Garcia, João Rodrigues e Jorge Bornhausen, o tripé que está conduzindo esse processo nos bastidores junto com o próprio pré-candidato. O ex-governador, registre-se, tem uma trajetória de retidão na vida pública, mas encarna a política tradicional em Santa Catarina.
Ou seja, a candidatura de Gean Loureiro não vai encarnar propriamente a renovação.
Calcanhar de Aquiles
E os outros dois têm fatos pretéritos recentes que não são nada alentadores se considerarmos a condição deles de cabos eleitorais do ex-prefeito da Capital.
Calcanhar de Aquiles 2
Gean, além do desconhecimento fora da Grande Florianópolis, também tem situações que vivenciou como prefeito que serão exploradas sob o aspecto comportamental durante a campanha. Outro aspecto. As demais regiões catarinenses não têm, já há algumas décadas, a propensão de votar em nomes oriundos da Capital. É condição patenteada em Santa Catarina.
Rodrigues e Seif
Raimundo Colombo, a seu turno, vai enfrentar dificuldades se novamente concorrer ao Senado. Em 2018, ele disputou a Câmara Alta junto com Esperidião Amin na coligação liderada por Gelson Merisio e João Paulo Kleinübing. Chegaram ao segundo turno, quando foram atropelados pelo 17 de Jair Bolsonaro, surfado por aqui pelo então absolutamente desconhecido Moisés da Silva.
Eleitos
Esperidião Amin elegeu-se. A outra vaga catarinense ficou com Jorginho Mello, que estava na coligação do MDB. Colombo ficou atrás também de Lucas Esmeraldino, que representava, à época, o 17 do presidente da República.
Fora do pódio
Ex-governador que havia acabado de completar sete anos no comando do estado, Raimundo Colombo ficou apenas em quarto lugar, conquistando menos de 1 milhão de votos.
Velhinha de Taubaté
Nem a lendária figura do interior paulista aí do título acredita que o prefeito de Chapecó, João Rodrigues, vai trabalhar por Raimundo Colombo nestas eleições. Seria uma santa ingenuidade crer nisso. Ou falta de inteligência. Jair Bolsonaro já chamou o prefeito ao Planalto. Colocou Jorge Seif, seu pupilo, o 06, ao seu lado para a foto.
Força empresarial
Seif também já esteve com Luciano Hang, empresário de sucesso e amigo do presidente. Bolsonaro está arregimentando lideranças para eleger o empresário catarinense ao Senado.
Volta ao passado
Esse contexto específico nos remete ao pleito de 1994, quase 30 anos atrás. Naqueles dias, o cabeça de chapa era Esperidião Amin. Ele deixou Antônio Carlos Konder Reis assumir o governo, o que tornou o novo governador, que elegeu-se como vice de Vilson Kleinübing, inelegível. O instituto da reeleição só se concretizou depois de 1998.
Inviabilizado o nome de Konder Reis, Amin e Kleinübing acertaram o seguinte: o hoje senador lançou-se candidato à Presidência, jogando a esposa, Angela, para o governo. Ao Senado, Vilson Kleinübing foi o candidato.
Causa e efeito
Jorge Konder Bornhausen reagiu às peripécias da dupla Amin-Kleinübing. Era senador à época e lançou-se candidato ao governo para oferecer palanque a Fernando Henrique Cardoso na sucessão de Itamar Franco. FHC elegeu-se, JKB ficou em terceiro no estado e fora do segundo turno. O round final foi disputado por Angela Amin, que chegou lá com grande vantagem sobre Paulo Afonso Vieira, o azarão do MDB.
João Kleinübing
Ocorreu que Vilson Kleinübing havia dobrado com Jorge Bornhausen. Na campanha, contudo, ele trabalhou por Angela Amin e não por seu companheiro de chapa. João Rodrigues, guardadas as proporções e diferenças pessoais e históricas, politicamente se candidata a encarnar o Kleinübing de 2022, traindo seu próprio correligionário.