O presidente da Assembleia Legislativa de Santa Catarina, deputado Julio Garcia (PSD), ocupou a tribuna, na sessão ordinária desta terça-feira (4), para se manifestar publicamente, pela primeira vez, a respeito da operação desencadeada, na semana passada, pela Polícia Federal em Santa Catarina.
“Escolhi este local para falar pela primeira vez depois do ocorrido exatamente em respeito a vocês, meus colegas deputados, em respeito ao Parlamento e aos servidores desta Casa”, disse Julio Garcia, no início do pronunciamento. “Passei por vários momentos felizes nessa tribuna. Mas hoje é diferente, hoje eu não tenho dúvida que é o dia mais triste de toda a minha trajetória no Parlamento.”
O deputado afirmou que confia na Justiça e destacou que ela está apenas cumprindo seu papel, na condição “de pilar da nossa democracia, que merece e precisa de nosso respeito.”
“Não é hora de bravata, de procurar culpados. Não é hora de acusar ninguém. A mim compete o dever de proceder minha defesa, com serenidade”, disse.
Esclarecimentos
Julio Garcia abordou, no pronunciamento, pontos centrais a seu respeito que constam na investigação. O primeiro diz respeito a um terreno adquirido por ele em 1994, em Florianópolis. O deputado afirmou que houve problemas na regularização do imóvel, cujo processo se arrastou por 20 anos.
“Por isso, houve o link entre a legalização do terreno e a sua compra. Tal imóvel não tem nada a ver com a operação, que investiga desvio de recursos públicos para benefícios de privados”, disse o deputado.
O segundo ponto diz respeito ao seu relacionamento com o proprietário de uma das empresas envolvidas que presta serviços ao Poder Executivo estadual e foi alvo da operação. “Desconheço qualquer atividade comercial dessa empresa, incluindo seus contratos. Alegam que sou amigo do proprietário. Mais do que isso: tive convivência familiar por 15 anos e mantenho até hoje amizade com ele.”
A respeito do ex-diretor de Tecnologia da Assembleia, Nelson Nappi Junior, o presidente da Alesc afirmou que tem amizade de muitos anos com ele, sendo inclusive padrinho de casamento. “Desconheço ilicitudes dele. Não fosse assim, não o teria nomeado para o cargo na Assembleia. Não vou renegar meus amigos”. O diretor foi exonerado por Julio Garcia no dia da operação.
Julio Garcia agradeceu pelas manifestações de confiança e solidariedade que recebeu nos últimos dias. “Vou lutar até o fim para provar minha inocência. A única coisa que posso pedir é justiça. Não quero ser pré-julgado, mas não abro mão de ser julgado”, finalizou o presidente, aplaudido pelo público presente nas galerias.
Repercussão
Após encerrar o pronunciamento, o presidente da Alesc recebeu apoio dos deputados. Paulinha (PDT) criticou a exposição feita pelos órgãos policiais e ressaltou o clima de intolerância que vive o país.
Milton Hobus (PSD) lembrou que “basta estar na vida pública para ser alvo, muitas vezes injustamente. Só o tempo traz a verdade, ele está sempre do lado dos justos. Precisamos do nosso líder forte aqui”, disse. Marlene Fengler (PSD) e Ismael dos Santos (PSD) afirmaram que o presidente saíra mais forte desse episódio.
Valdir Cobalchini (MDB) afirmou que a “tristeza que o abate nesse momento também nos abate e abate o Poder”. Ele lembrou que Julio Garcia foi eleito presidente por unanimidade e a confiança e respeito dos deputados segue inabalável.
Falando em nome da bancada do PT, Fabiano da Luz ressaltou que muitas pessoas são crucificadas antes de serem julgadas. “Defendemos que seja feita a investigação, mas é direito de todo o cidadão se defender. A pessoa é inocentada e não aparece ninguém para dizer isso.”
Laércio Schuster (PSB), Felipe Estevão (PSL) e Mauricio Eskudlark (PL) destacaram o perfil conciliador e a liderança exercida por Julio Garcia e a forma equilibrada como conduz a Assembleia. “Já senti na pele o que é isso. A gente perde o chão. O maior patrimônio que um político pode ter é o respeito e a credibilidade”, resumiu Eskudlark.
Ivan Naatz (PV) disse que, na condição de advogado há 30 anos, já viu muitas injustiças acontecerem. “É um momento triste esse do pré-julgamento. Vivemos no país uma política de apontar o dedo e depois, quando é absolvido, se esquece, arquiva e não se fala nada”, disse o deputado, que afirmou ter plena confiança na inocência do presidente da Alesc.
Em nome da bancada do MDB, a maior da Assembleia, Luiz Fernando Vampiro também prestou solidariedade ao deputado Julio Garcia. “Parabéns pela atitude de reconhecer os amigos”, disse.
AGÊNCIA AL